A grande tempestade midiática, do
julgamento do "mensalão", deixou sequelas no STF (Supremo Tribunal
Federal) e, na época, provocou dúvidas justificadas sobre as intenções
democráticas da mais alta corte, especificamente do grupo de cinco
Ministros - Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Ayres Britto, Marco Aurélio
de Mello e Luiz Fux - mais o Procurador Geral da República Roberto
Gurgel, o chamado 5 + 1.
Em algumas circunstancias, é de tal ordem
o poder de exacerbação da opinião pública, por parte dos grupos de
mídia, que qualquer Olimpio Mourão Filho, com um bando de recrutas, pode
provocar uma hecatombe política; ou então um aventureiro qualquer com
um exército de togados. E o grupo dos 5 + 1 não se pejava de provocar
conflitos com o próprio Congresso Nacional.
Os tempos são outros. O fim do julgamento e a mudança da composição do STF, dissolveram o clima anterior.
Hoje em dia, advogados que frequentam o STF dão conta de novos ares por lá.
Fim de namoro
Depois de ser incensado o quanto pode, o
presidente do STF Joaquim Barbosa foi descartado pelos grupos de mídia.
No "mensalão", seus arroubos eram tratados de forma épica; fora do
"mensalão", como manifestação de um sujeito sem verniz no banquete dos
veneráveis.
Resta a Barbosa o esperneio de defender a regulação da mídia - com argumentos consistentes.
Aparentemente, também caiu sua ficha
sobre sua falta de condições políticas, inclusive para sair candidato
ao Senado pelo Rio de Janeiro. Além de enfrentar um candidato
competitivo - Francisco Dornelles - Barbosa teria que se sujeitar a
práticas impensáveis para que, como ele, gozou intensamente com os
poderes imperiais de que se viu revestido. Depois de tornar-se um deus
vingador, como negociar com financiadores de campanha, subir o morro,
ser tratado como um igual pelos demais políticos? Teria que demonstrar
uma humildade e uma disposição para o trabalho que não bate com sua
biografia.
No STF, não é mais dada como certa nem
sua aposentadoria a partir de novembro, quando termina seu mandato de
presidente da casa. Até lá, continuará praticando arbitrariedades e
enfrentando a ojeriza discreta de todos os segmentos representativos do
Judiciário.
Já
seu colega Gilmar Mendes permanecerá perseguindo tenazmente a tarefa de
desmoralizar a mais alta corte. À sua lista de medidas polêmicas,
soma-se mais uma, o pedido de vistas - ou de "perder de vista", como
qualificou o Ministro Marco Aurélio de Mello - na votação do
financiamento público de campanha, atendendo às demandas do PMDB, do
presidente da Câmara Henrique Alves e do notório Eduardo Cunha.
Mais. O impensável Luiz Fux declarou-se
impedido de julgar ações do escritório do notório advogado Sérgio
Bermudes, já que sua filha é advogada sócia. Já Gilmar não tem limites.
Continua julgando causas milionárias patrocinadas por Bermudes, mesmo
tendo sua mulher como sócia do escritório.
Em suas idas ao Rio, o próprio motorista
de Bermudes o pega no aeroporto e o leva ao apartamento que o advogado
mantém no Rio para visitas ilustres. E O IDP (Instituto Brasiliense de
Direito Público) continua sua carreira de sucesso, oferecendo serviços
milionários a tribunais sob a mira do CNJ (Conselho Nacional de
Justiça).
O fim das alianças
Longe se vão os tempos em que os alarmes de Gilmar influenciavam almas crédulas, como do Ministro Celso de Mello.
Hoje
em dia, sua capacidade de influenciar colegas é vista como nula, com
exceção da Ministra Carmen Lúcia - talvez a pior surpresa de toda essa
lavra de Ministros do STF.
A Ministra tem impressionado pelo
despreparo com que atua em vários temas e por alguns aspectos de sua
personalidade que têm desapontado enormemente antigos conhecidos.
Quando Gilmar pediu vistas do processo de
financiamento de campanha, Marco Aurélio de Mello - que deveria votar
após Gilmar - antecipou seu voto, contrário ao financiamento. Carmen
Lúcia, que deveria votar antes, preferiu se abster, em uma demonstração
de falta de firmeza.
Outra Ministra, Rosa Weber, é considerada
ainda como não adequadamente preparada para a função por ter feito
carreira exclusivamente na área trabalhista. Mas é vista como séria,
estudiosa e com personalidade. É só questão de tempo para se adaptar.
Decano
dos Ministros, e referência por seu conhecimento, Celso de Mello
desvestiu a toga de centurião, que vergou antes e durante o "mensalão".
Depois de ter merecido uma capa da Veja, com uma foto
desmoralizadora - algo que nem Ricardo Lewandowski ganhou - parece ter
caído sua ficha sobre a capacidade de manipulação da mídia.
Continua a merecer o respeito técnico,
assim como Lewandowski - que, além do preparo, tornou-se uma referência
inesquecível da fortaleza dos grandes juízes, ao resistir heroicamente
ao massacre que lhe foi imposto pelos grupos de mídia.
Teori Zavaski é uma unanimidade de
seriedade, discrição e afinco pelos estudos, mesmo de quem discorda de
seus votos. Embora mais falante, Luis Roberto Barroso ganhou respeito
geral não apenas pelos votos mas pela forma firme e educada com que
enfrentou a truculência de Joaquim Barbosa.
Marco Aurélio de Mello continua ele:
divertindo-se quando investe contra a maioria e mais calmo, depois da
indicação da filha para o Superior Tribunal de Justiça do Rio
.
Luiz Fux continua Luiz Fux, um autêntico
rebento do Posto 9 do Rio de Janeiro, de uma simpatia contagiante e
outros atributos sociais tipicamente cariocas. E só.
Dias Toffoli ainda desperta
controvérsias. De um lado, os que criticam sua fraqueza; do outro, os
que admitem sua fraqueza, mas ressalvam que passou a estudar mais nos
últimos tempos.
.
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