Do Jornal GGN - 18/04/2014
Enviado por Demarchi, qui, 17/04/2014 - 10:12
- Atualizado em 17/04/2014 - 11:29
Enviado por Demarchi
A comunidade judaica francesa tem sido alvo de ataques cada vez mais frequentes
Correio do Brasil - Por Redação, com agências internacionais - de Moscou e Paris
O avanço dos partidos de ultradireita, de tendência nazista, tem levado um número cada vez maior de judeus a
sair da França e da Ucrânia, principalmente, diante do que a comunidade
classifica como uma onda crescente de antissemitismo. Segundo o
articulista russo Aleksander Medvedovsky, mesmo na Alemanha – que viveu
os horrores dos campos de concentração – tem sido complacente com o
neonazismo. “Angela Merkel, que está recebendo críticas no Bundestag (o parlamento alemão) pela inexplicável passividade em relação à ultradireita no país vizinho”, afirmou Medvedovsky.
Segundo dados de uma agência especializada na emigração de judeus para
Israel, 3,2 mil pessoas seguiram esta rota em 2013, um aumento de 63%
no número registrado em 2012. Muitos afirmam que a crise econômica e o
desemprego na França, que chega ao índice de 11%, contribuem para a onda
de emigração. O governo de Israel também estimula a mudança, dando
ajuda aos que chegam ao país e reconhecimento a diplomas e qualificações
conseguidas na França.
Na semana passada, milhares de judeus franceses
participaram de uma feira em Paris com informações sobre a mudança para
Israel, em meio a um aumento sem precedentes na imigração para o Estado
judeu e uma onda de ataques antissemitas. De acordo com a Agência
Judaica, a aliá(migração) para Israel, a partir da França,
registrou um aumento dramático de três vezes, em janeiro e fevereiro de
2014, em comparação com um ano antes. No total foram 3.280 imigrantes da
França que chegaram a Israel, em 2013, em comparação com os 1.917 do
ano anterior.
O Bureau Nacional de Vigilância contra o
Antissemitismo, um grupo de vigilância conhecido como BNVCA, com base
em Drancy, registrou uma série de incidentes antissemitas na França, nas
últimas semanas, incluindo um ataque violento contra um professor judeu
e um ataque com faca a um rabino e seu filho, em Paris.
Fascismo
Ainda segundo Medvedovsky, “em 1965, 20
anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, o cineasta Mikhail Romm
produziu o filme chamado Fascismo Ordinário (também conhecido comoFascismo de Todos os Dias),
um documentário que conta a história do nascimento do fascismo na
Alemanha e suas consequências, e que foi o primeiro filme a ter o
objetivo de fazer não esquecer aquilo que a humanidade nunca poderá
esquecer”.
Leia, a seguir, os principais trechos do artigo:
Nos anos seguintes, aqui e ali, surgiram
alguns movimentos neonazistas, até mesmo nas grandes democracias
europeias. Engraçado é que os mais atingidos foram os países que mais
sofreram na Segunda Guerra Mundial.
Um dos países onde o fascismo
gradualmente começou a ganhar força foi a Ucrânia, devastada durante
aquele conflito. Ela foi campo de grandes batalhas contra as forças
alemãs, e se transformou numa imensa cova de milhares de soldados que
deram suas vidas pela liberdade e pela Pátria.
Passaram-se 69 anos. O ultradireitista
Dmitri Yarosh, criminoso procurado por participar da guerrilha chechena,
defensor da limpeza étnica, dono de um fortemente armado e treinado
exército de paramilitares – base da Guarda Nacional ucraniana, de acordo
com as revelações da imprensa internacional –, candidatou-se ao cargo
de presidente da Ucrânia.
O Governo da Rússia repassou à Interpol a
documentação sobre o mandado de prisão desse criminoso, líder da
organização ultranacionalista ucraniana Setor de Direita, que mantém o
poder em Kiev. O Comitê de Investigação da Rússia emitiu uma ordem de
busca e captura internacional para Yarosh, sob a acusação de incitar o
terrorismo através da mídia, depois que o ucraniano requisitou pelas
redes sociais o apoio do líder extremista e terrorista checheno Doku
Umarov.
O líder ultranacionalista ucraniano
anunciou em entrevista a uma agência de notícias de seu país que, no
caso de um conflito armado da Ucrânia com a Rússia, a sua organização
Setor de Direita iria atacar e danificar a infraestrutura de transporte
de petróleo e gás russos para a Europa, cortando assim a fonte de renda
de Moscou com estes recursos.
Dias depois, Yarosh foi igualmente
acusado pelo Comitê de Investigação russo de ter participado de combates
contra soldados russos na Chechênia em 1994 e 1995. A informação foi
prestada pelo porta-voz do Comitê, Vladimir Markin. Segundo ele, Yarosh
considera que a Rússia é um inimigo eterno da Ucrânia e está convencido
da necessidade de uma guerra entre os dois países.
Yarosh exigiu do governo da Ucrânia a
imediata formação de um Comando Supremo e a declaração de uma
mobilização geral da população. Junto a isso, pediu que os armamentos
estocados nas regiões fronteiriças fossem transferidos para o interior
do país, e requisitou o fornecimento de novas armas junto aos países da
União Europeia. No currículo dele e da sua tropa constam a participação
mais do que ativa no golpe de estado do dia 22 de fevereiro e a
derrubada do legítimo presidente da Ucrânia.
São bem conhecidos os métodos da turma
dele, de convencer os deputados de Parlamento Ucraniano a votar de
acordo com os seus desejos. A demissão forçada, inclusive com força
física, do diretor do primeiro canal de televisão da Ucrânia, só porque
permitiu aos espectadores assistir às palavras do presidente da Rússia
Vladimir Putin, foi amplamente divulgada pela mídia internacional.
E como reagiram os novos amigos
ocidentais – senadores, membros do Parlamento Europeu e governos da
Europa, e consultores de toda espécie do novo governo “pré-democrático”
da Ucrânia, apoiado pelas forças de extrema direita? Não reagiram, não
perceberam nada, muito pelo contrário, abraçaram o pessoal de direita
nas ruas de Kiev e declararam que não existem violência e antissemitismo
na Ucrânia, e somente em situações super alarmantes pediram um pouco de
calma.
Levando em consideração a prática de
violência e terror demonstrada recentemente pelos seus correligionários
em Kiev e outras cidades ucranianas, e o descontrole que domina o país, o
caminho de Dmitri Yarosh para a presidência pode ser bem mais curto do
que muita gente imagina, lembrando a Alemanha dos anos 40 do século
passado.
Não seria, portanto, uma boa ideia exibir O Fascismo Ordinário para
todos aqueles que por ‘ingenuidade’ ou ‘amnésia’ não lembram ou
esqueceram as palavras ‘nazismo’, ‘assassinatos’, ‘violência’, ‘guerra
mundial’?
Vamos deixar os conselhos de lado. Essa
gente boa não precisa de conselhos. Eles conhecem a história, mas pensam
que ela preparou para eles outro desfecho.
Os dirigentes da Polônia, por exemplo.
Auschwitz não está tão longe da capital, e o gueto estava na própria
Varsóvia, mas não se fala do fascismo no país vizinho. Em compensação,
há ameaças a outro vizinho, e doze aviões de caça americanos em sua
própria terra.
Angela Merkel, que está recebendo
críticas no Bundestag (o parlamento alemão) pela inexplicável
passividade em relação à ultradireita no país vizinho, quer ensinar o
pai-nosso e boas maneiras aos russos?
A França… A ultradireita já está batendo à sua porta, mas o discurso dos dirigentes continua… Sem comentários…
A subsecretária de Estado dos EUA, Wendy
Sherman, depois de visita à praça da Independència, em Kiev, e
conversas com seus novos parceiros na luta “pela democracia e a
liberdade”, por sua vez deverá estar muito ocupada no próximo Yom Kippur
– o dia mais sagrado para os judeus – quando cada um deverá pedir
perdão pelas besteiras que cometeu.
Tudo isso é ao mesmo tempo triste,
nojento, mas tremendamente ridículo e medíocre como são aqueles que se
consideram democratas e os únicos e perpétuos donos da verdade, na sua
ganância e interesses mesquinhos, sempre distantes da vontade de seus
povos.
E o fascismo de 2014? Horroroso,
intragável, abominável, mas continua ordinário como todo fascismo,
porque não tem como ser diferente.
Finalmente, três pequenos acréscimos para concluir:
1 – Vazou recentemente para a imprensa a
conversa da ex-primeira-ministra e possível candidata à presidência da
Ucrânia, Yulia Tymoshenko, na qual ela foi muita clara ao dizer “matar
todos os russos”, referindo-se aos oito milhões de russos que moram na
Ucrânia.
2 – Em 24 de março completam-se 15 anos
do bombardeio da Iugoslávia pela Força Aérea dos Estados Unidos, cuja
autorização não foi concedida pelo Conselho de Segurança da ONU.
3 – Poucos dias antes do golpe de Estado
em Kiev, nos Jogos Olímpicos de Sochi, a jovem patinadora russa Yulia
Lipnitskaya conquistou a medalha de ouro ao dançar a música-tema de “A
Lista de Schindler”, numa homenagem a uma famosa cena desse filme de
Steven Spielberg.
Que coincidências marcantes.
Como diz a expressão popular, ‘Cada macaco no seu galho”.
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