Fernando Brito

Na Ucrânia, fica cada vez mais claro que o feitiço virou-se contra o feiticeiro.
O que era o apoio ocidental à desestabilização de um governo virou a desestabilização de um estado, que já não se reconhece como nacional.
Isso já havia ficado claro no processo eleitoral, onde a vitória do candidato mais próximo à Russia venceu com um mapa de votos que mais parece o de dois países.
Agora, como as multidões que enchiam a Praça Maidan, em Kiev, para exigir um governo pró-Ocidente, milhares de pessoas cercam os grupos que se apossaram das unidades policiais do governo central nas cidades de Donetsk e Slavyansk, no leste do país. E a situação nas importantes Kharkov, Odessa e Luhansk.
Grupos dentro do governo de Kiev pressionam o governo para um “solução” bélica, que a Rússia vem pedido que não seja adotada, para que se evite tornar irreversível o conflito.
Republico, abaixo, o artigo de Mauro Santayanna, no JB e em seu blog, que ajuda a entender os acontecimentos que são também, na prática, o fim das esperanças de uma recuperação econômica européia este ano.
_________
A vez de Donetsk
Mauro Santayanna

As autoridades policiais não resistiram nem tentaram conter os manifestantes.
Em outra cidade, Lugansk, manifestantes favoráveis à Rússia
ocuparam a sede dos órgãos de segurança, e fizeram o chefe de polícia –
que também não resistiu – libertar dezenas de prisioneiros favoráveis a
Moscou que estavam detidos há alguns dias.
.
.
Em Kharkov, segunda maior cidade ucraniana, e centro industrial
do país, houve enfrentamento entre habitantes de língua russa, que
ocuparam a sede do governo local, e manifestantes fiéis ao golpe
desfechado contra o Presidente Yanukovitch em março.
.
.
Embora as novas “autoridades” ucranianas estejam acusando o
serviço secreto russo pelos tumultos, a verdade é que o apoio ao governo
golpista é cada vez menor, e boa parte do território ucraniano é
ocupado por habitantes de origem russa, que se recusam a se aproximar do
Ocidente e se sentem ameaçados pelos golpistas de extrema direita que
estão no poder em Kiev.
.
.
Eles viram que, ao contrário do que ocorreu na “libertação“ do
Iraque, do Egito, da Líbia, do Afeganistão, pela OTAN, onde morreram – e
continuam perdendo a vida – centenas de milhares de pessoas, a
“russianização” da Crimeia foi feita em poucos dias, e quase sem
violência.
O fato é que, assim como fez, em muitos outros lugares,
supostamente em nome da “democracia”, o Ocidente desestruturou
completamente uma Nação que se encontrava institucionalmente unificada,
funcionava razoavelmente dentro da lei, com um Presidente eleito
diretamente pela população, e aguardava pacificamente as próximas
eleições, porque não queria que a Ucrânia “caísse” sob influência de
Moscou.
Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência
russa na Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já
existia, é muito maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia
vastas regiões e milhões de habitantes, que se sentem russos.
A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há séculos. E caso não haja um processo efetivo de federalização, é mais fácil que a Ucrânia se divida – a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan – do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas.
.
A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há séculos. E caso não haja um processo efetivo de federalização, é mais fácil que a Ucrânia se divida – a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan – do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas.
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista