Fernando Brito
Na Ucrânia, fica cada vez mais claro que o feitiço virou-se contra o feiticeiro.
O que era o apoio ocidental à desestabilização de um governo virou a desestabilização de um estado, que já não se reconhece como nacional.
Isso já havia ficado claro no processo eleitoral, onde a vitória do candidato mais próximo à Russia venceu com um mapa de votos que mais parece o de dois países.
Agora, como as multidões que enchiam a Praça Maidan, em Kiev, para exigir um governo pró-Ocidente, milhares de pessoas cercam os grupos que se apossaram das unidades policiais do governo central nas cidades de Donetsk e Slavyansk, no leste do país. E a situação nas importantes Kharkov, Odessa e Luhansk.
Grupos dentro do governo de Kiev pressionam o governo para um “solução” bélica, que a Rússia vem pedido que não seja adotada, para que se evite tornar irreversível o conflito.
Republico, abaixo, o artigo de Mauro Santayanna, no JB e em seu blog, que ajuda a entender os acontecimentos que são também, na prática, o fim das esperanças de uma recuperação econômica européia este ano.
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A vez de Donetsk
Mauro Santayanna
Manifestantes que ocupam, há dias, instalações públicas em Donetsk, na Ucrânia, proclamaram, unilateralmente, uma “República Popular”, na província em que se fala russo. E falam em convocar um referendo para sua anexação à Rússia, para o próximo dia 11 de maio, nos moldes do que foi feito na Crimeia no mês passado.
As autoridades policiais não resistiram nem tentaram conter os manifestantes.
Em outra cidade, Lugansk, manifestantes favoráveis à Rússia
ocuparam a sede dos órgãos de segurança, e fizeram o chefe de polícia –
que também não resistiu – libertar dezenas de prisioneiros favoráveis a
Moscou que estavam detidos há alguns dias.
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Em Kharkov, segunda maior cidade ucraniana, e centro industrial
do país, houve enfrentamento entre habitantes de língua russa, que
ocuparam a sede do governo local, e manifestantes fiéis ao golpe
desfechado contra o Presidente Yanukovitch em março.
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Embora as novas “autoridades” ucranianas estejam acusando o
serviço secreto russo pelos tumultos, a verdade é que o apoio ao governo
golpista é cada vez menor, e boa parte do território ucraniano é
ocupado por habitantes de origem russa, que se recusam a se aproximar do
Ocidente e se sentem ameaçados pelos golpistas de extrema direita que
estão no poder em Kiev.
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Eles viram que, ao contrário do que ocorreu na “libertação“ do
Iraque, do Egito, da Líbia, do Afeganistão, pela OTAN, onde morreram – e
continuam perdendo a vida – centenas de milhares de pessoas, a
“russianização” da Crimeia foi feita em poucos dias, e quase sem
violência.
O fato é que, assim como fez, em muitos outros lugares,
supostamente em nome da “democracia”, o Ocidente desestruturou
completamente uma Nação que se encontrava institucionalmente unificada,
funcionava razoavelmente dentro da lei, com um Presidente eleito
diretamente pela população, e aguardava pacificamente as próximas
eleições, porque não queria que a Ucrânia “caísse” sob influência de
Moscou.
Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência
russa na Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já
existia, é muito maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia
vastas regiões e milhões de habitantes, que se sentem russos.
A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há séculos. E caso não haja um processo efetivo de federalização, é mais fácil que a Ucrânia se divida – a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan – do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas.
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A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há séculos. E caso não haja um processo efetivo de federalização, é mais fácil que a Ucrânia se divida – a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan – do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas.
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