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06/04/2014
Jango era popular e seria reeleito em 1965
Tijolaço - 6 de abril de 2014 | 02:08 Autor: Miguel do Rosário
A arguta análise de Maurício Dias alimenta a luta encarniçada que se desencadeou nos últimos dias em torno da significação do golpe de 64. A mídia conservadora abandonou a maior parte dos escrúpulos democráticos que fingia defender desde 1985, e promove um revisionismo perigoso sobre o regime militar, um dos mais sombrios e violentos períodos da nossa história.
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1964: golpe contra a maioria
Ibopes de 1961 e 1963 mostram que o povo via em Jango o seu líder
por Mauricio Dias, na Carta Capital.
A farsa montada pela reação conservadora para esconder os reais objetivos do golpe de 1964 foi, e ainda é, sustentada pela propaganda massacrante da mídia ao longo de duas décadas e, hoje, camuflada vergonhosamente por editoriais hipócritas.
O golpe, com a bênção e, caso fosse preciso, apoio bélico dos Estados Unidos, teve como lema no estandarte o fantasma do comunismo. O presidente João Goulart comandaria essa guinada revolucionária no contexto da Guerra Fria. Era o grito de alerta repetido com certa histeria.
A resistência a Jango derivava da renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961. Goulart visitava a China naquele momento. Parecia fácil ligar o vice-presidente ao movimento comunista.
A maioria não se deixou levar pela propaganda ardilosa. Pesquisa resgatada nos anais do Ibope (tabela), de 1961, quando os chefes militares, Exército, Marinha e Aeronáutica, tentavam bloquear a posse do vice-presidente, mostra que apenas 10% admitiam a modificação na Constituição para a adoção do sistema parlamentarista, que amputaria os poderes de João Goulart. A minoria de 9%, contra a posse, venceu a maioria de 81% a favor da posse sem qualquer concessão. Os políticos conservadores negociaram a saída com a emenda parlamentarista.
A direita ergueu um biombo para conter os avanços sociais, as Reformas de Base, propostas pelo novo governo e sustentadas pela maioria da opinião pública.
Valiam-se, de certa forma, setores da esquerda guiados pelos ideais de uma revolução ora inspirada em Lenin, ora em Mao. Em qualquer dos casos uma aventura.
Encurralado por parte da esquerda, Jango, pelas melhores razões, era um político estigmatizado pela direita. Tanto pela sua afinidade com Vargas quanto pela sua fidelidade aos trabalhadores. Um exemplo disso é o episódio vivido por ele quando ministro do Trabalho por oito meses (junho de 1953 a fevereiro de 1954). Propôs 100% de aumento do salário mínimo, em vigor desde 1940, mas inteiramente defasado naquela ocasião. A reação foi forte. Jango caiu.
Logo depois se elegeria vice-presidente, na Presidência de JK. Em 1959, na eleição de Jânio, venceria novamente a disputa independente pela vice. Assumiu por circunstâncias da renúncia do presidente, em 1961.
Cresceu a campanha pela reforma agrária que fazia parte do programa de Reformas de Base do governo Jango. Renegada pela sovina elite brasileira, essa tinha, entretanto, apoio da grande maioria dos brasileiros, conforme mostra pesquisa de 1963 (tabela), também tirada do baú do Ibope.
Os números mostram um apoio da maioria à reforma agrária, mas aponta um número expressivo de entrevistados indecisos: 29% não souberam responder. Novamente, a maioria de 61% foi derrotada pela minoria de 11% dos que estavam contra.
Os projetos políticos e sociais de Jango não iam além do objetivo de minimizar as distorções sociais no Brasil. Isso explica o golpe. O resto é mentira.
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