Jornal GGN - seg, 30/06/2014 - 08:13
- Atualizado em 30/06/2014 - 08:28
Da Folha
Se com a Copa foi assim, imagine doravante, quando está em jogo o cargo mais importante da República.
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Ricardo Melo
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Poucas vezes viu-se tamanha
desinformação como antes desta Copa. A previsão era dantesca. Caos nos
aeroportos, estádios incompletos, gramados incapazes de abrigar jogos de
várzea, tumulto, convulsões sociais, epidemias. Os profetas do caos
capricharam: alguns apostaram que as arenas só ficariam prontas após
2030. Só faltou pedirem à população que estocasse alimentos em face da
catástrofe.
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Diante de um cenário diametralmente
oposto, os mensageiros do apocalipse ensaiam explicações. A principal é a
de que a alegria do povo brasileiro suplantou a penca de problemas que
estava aí, a olhos vistos, e ninguém queria enxergar. Desculpa
esfarrapada.
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Se é inquestionável que os brasileiros
têm uma tradição amistosa, ela por si só não ergue estádios decentes,
melhora aeroportos, acomoda milhares de turistas e garante acesso aos
locais das partidas. Problemas? Claro que houve, mas infinitamente
menores do que os martelados pela imprensa em geral. Muita gente mentiu,
ou, no mínimo, não falou toda a verdade --o que em geral dá no mesmo.
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Durante um tempo quase infinito, os
brasileiros foram vítimas de uma carga brutal de notícias irreais. Se
tudo estava tão atrasado e fora dos planos, como a Copa acontece sem
contratempos maiores do que os de outros eventos do gênero? Talvez o
maior legado deste choque entre fantasia e realidade seja o de que,
acima de tudo, cumpre sempre duvidar de certas afirmações repetidas como
algo consumado.
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A profusão de instrumentos de
informação atual, ainda bem, oferece inúmeras alternativas para que
opiniões travestidas de certezas sejam postas à prova. Mais do que
nunca, desconfiar do que se ouve, assiste e lê é o melhor caminho para
tentar, ao menos, aproximar-se do que é real.
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No final das contas, é bom que essa
distância entre versão e fato tenha ficado escancarada num ano
eleitoral. Se com a Copa foi assim, imagine doravante, quando está em
jogo o cargo mais importante da República. A enxurrada de algarismos
para mostrar um país à beira do abismo ocupa boa parte do noticiário
"mainstream". Na outra ponta, estatísticas de toda sorte surgem para
falar o inverso. Quem tem razão?
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Nessa hora, o decisivo é avaliar como
está a vida do próprio cidadão e como ela pode ficar se vingar a
proposta de cada candidato. O mais difícil, como sempre, é descobrir se
estes têm coragem de dizer o que realmente pretendem realizar.
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ME SUGA QUE EU TE SUGO
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O ciclo de convenções partidárias dá
uma ideia do nível da campanha pela frente. A convenção do PSB de Campos
e Marina elegeu como lema tirar o país do "atoleiro". Antes disso,
porém, seria preciso tentar resgatar a própria legenda do lodaçal.
Anunciado como terceira via, o acordo entre Campos e Marina até agora
não exibiu nada de diferente da velha política que dizia combater. Mas
suas alianças país afora parecem autoexplicativas.
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Já a convenção estadual paulista do
PSDB seria apenas cômica, não fosse ainda mais cômica. O ponto alto, se é
que houve algum, foi o discurso do candidato à Presidência Aécio Neves.
Ao se referir ao PT, ele disse: "Infelizmente, a vitória para eles não
significou apenas uma oportunidade de exercer uma proposta de poder mas a
possibilidade de ascensão econômica."
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O impressionante é que ele não ficou
sequer ruborizado, embora seu partido acoberte pessoas como Robson
Marinho, para citar apenas São Paulo, e outros tantos que enriqueceram
na base da rapinagem do dinheiro do povo. Bem, tudo se pode esperar de
quem outro dia recomendou a eventuais futuros aliados hoje no governo
federal: "Vão sugar um pouco mais. Façam isso mesmo: suguem mais um
pouquinho e depois venham para o nosso lado". De preferência com a mala
cheia.
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