sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Contraponto 15.590 - "Datafolha foi ducha fria na mídia e na direita?"

 

12/12/2014

 

Datafolha foi ducha fria na mídia e na direita?

 

Cafezinho - 12/12/2014

 
Datafolha foi ducha fria na mídia e na direita?
 

Miguel do Rosário


Sim.

A última pesquisa Datafolha foi uma tremenda

Depois de semanas martelando petrolão, petrolão, petrolão, eis que a aprovação da presidenta se mantém sólida.

Pior, o PT recuperou os pontos perdidos nos últimos meses.

Fiz um comparativo entre a pesquisa realizada no dia 1 de setembro, um mês antes do primeiro turno das eleições, e a mais recente, dia 8 de dezembro.

O PT, que tinha, pela primeira vez em muitos anos, marcado menos de 20 pontos na preferência dos entrevistados, com 16 pontos, em setembro, recuperou 6 pontos e fechará o ano com 22%.

A alta mais espetacular se deu entre mulheres e os mais jovens (até 24 anos): subiu de 13 para 21 entre as primeiras, e de 12 para 21 entre os segundos.

É impressionante a resiliência do PT aos ataques da mídia.

Ele permanece como partido preferido mesmo entre os segmentos onde a oposição tem mais força: os mais ricos e escolarizados.

Entre os entrevistados com ensino superior, o PT marcou 16 pontos, contra 14 do PSDB.

Entre aqueles que ganham mais de 10 salários, o PT marcou 17 pontos, contra 13 do PSDB.

No Sudeste, onde o PSDB vem obtendo seus melhores resultados, a preferência pelo PT, na última pesquisa Datafolha, foi de 22%, após ter caído para 14% em setembro. Os tucanos têm 9% no Sudeste.

O PSDB tem desempenho incrivelmente pífio entre mais pobres e no Nordeste: entre 4 e 5%.

Confira o gráfico. Mais abaixo, a íntegra do Datafolha.  Faço outras análises em seguida, abaixo.

 
datafolha_PT





Avaliacao dilma from Miguel RosarioFiz mais algumas anotações sobre a pesquisa.
Fiz mais algumas anotações sobre a pesquisa.

Houve uma recuperação extraordinária da aprovação do governo Dilma junto aos mais jovens, de até 24 anos.

Em junho de 2013, a avaliação Ótimo/Bom nessa faixa havia caído para 24 pontos, contra 28% de ruim. Um ano depois, a coisa degringola de novo: 23% de Ótimo/Bom e 34% de ruim.

No início de dezembro, 36% dos jovens de até 24 anos acham que o governo Dilma é ótimo/bom, contra apenas 24% que o consideram ruim.

A aprovação entre os mais velhos também disparou nas últimas semanas, atingindo 48% de Ótimo/Bom, melhor índice desde junho de 2013.

O escândalo da Petrobrás, contudo, desgastou Dilma junto ao eleitorado com ensino superior, onde ela perdeu 4 pontos e tem 27% de Ótimo/Bom e 39% de Ruim/Péssimo.

A aprovação (Ótimo/Bom) do governo Dilma no sudeste, onde vive a gente “bem informada”, segundo FHC, se manteve sólida, em 41 pontos.

No Nordeste, a administração petista tem 53% de Ótimo/Bom.

Entretanto, uma outra tabela nos mostra que a tese do “estelionato eleitoral”, que a oposição e a mídia tentam vender, procurando desgastar Dilma, não colou em seu eleitorado.

Entre os eleitores da Dilma, 66% deram nota Ótimo/Bom para seu governo; apenas 4% lhe deram nota ruim/péssimo.

Entre os eleitores do Aécio, a petista teve apenas 9% de bom e 55% de péssimo.

O Datafolha também mostrou que a maioria esmagadora dos eleitores de Dilma permanecem otimistas em relação ao segundo mandato da presidenta: 74% disseram ter expectativa ótima/boa para os próximos 4 anos de Dilma.

Entre os eleitores do Aécio, 16% tem expectativas ótimas/boas para a gestão atual.

Outra informação relevante captada pela pesquisa Datafolha está na pergunta sobre quem foi o melhor presidente que o Brasil já teve.

A pergunta confunde um pouco o entrevistado, porque o uso de verbos no passado dá a entender que ela corresponde apenas a presidentes passados, ou seja, excluindo Dilma.

As respostas humilham as pretensões midiático-tucanas de vender a excelência de FHC. Não adianta, as lembranças amargas do pesadelo neoliberal permanecem feridas abertas.

64% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve, contra apenas 7% de FHC.

FHC só obtém um desempenho razoável entre os que ganham mais de 10 salários de renda familiar: nesta faixa, 32% dizem que ele foi o melhor presidente, mas ainda atrás de Lula, que tem 36%.

*

Enfim, falemos da pergunta que trouxe mais polêmica à pesquisa, sobre quem tem a responsabilidade sobre os escândalos da Petrobrás.

A pergunta, e a interpretação que se fez das respostas, embute várias camadas de manipulação da informação.

Em primeiro lugar, a pergunta é dúbia.

“Responsabilidade”, na acepção comum, não significa culpa, necessariamente. Um pai é responsável pelo filho de dezoito anos consumir cocaína e roubar. Mas seria absurdo responsabilizar “criminalmente” o pai.

Como presidenta da república, Dilma tem algum grau de responsabilidade por tudo que acontece na administração pública, mas isso não corresponde a dizer que ela seja cúmplice, ou responsável direta, por tudo: sejam coisas boas, sejam coisas ruins.

Além do mais, como já foi denunciado, a Folha juntou as respostas dos que disseram que Dilma tem “pouca responsabilidade” com aqueles que responderam “muita responsabilidade”.

É evidente que a resposta “pouca responsabilidade” implica numa avaliação positiva do papel da presidenta no escândalo da Petrobrás.

*

O Datafolha pergunta, por fim, em que governo a corrupção foi mais investigada: 46% disseram Dilma. Apenas 4% disseram FHC.

Perguntados sobre qual o governo houve mais punição a corruptos: 40% Dilma, contra 3% FHC.

Quando perguntados sobre em qual governo existiu mais corrupção, o placar ficou apertado. O governo Dilma ficou com 20%, o que é compreensível devido ao noticiário mais quente na memória das pessoas. Mas FHC ficou logo atrás, com 14%, na frente de Lula, com 12%.

Esses dados não deixam dúvida de que a mídia não conseguiu evitar que Dilma lhes desse um xeque-mate, embora eu ache que a própria presidenta não tenha pensado nisso. Ela está emergindo das crises políticas produzidas pelos escândalos, como alguém interessado em investigar e punir, e, portanto, com uma imagem positiva.

*

Independente dos resultados do Datafolha, todavia, é importante ressaltar que a falta de política e comunicação por parte do governo está deixando o país ingovernável. A PF ganhou vida própria, o que tem um lado bom, mas não é bom quando ela se torna uma ferramenta de oposição. A mídia agora não é apenas uma mídia de oposição. É uma mídia ameaçadora, sabotadora.

A falta de política fez até o Procurador Geral, Rodrigo Janot, que vinha adotando uma postura um pouco mais independente do status quo, a correr para debaixo da saia da mídia, em busca de abrigo. E isso é um perigo, porque os dois últimos procuradores se tornaram verdadeiros pistoleiros a serviço da mídia contra o PT e o governo. Sem política por parte do governo, a mídia transforma quem ela quiser em pistoleiro ou zumbi a seu serviço.

A Lava Jato, se for conduzida sem responsabilidade, pode acarretar na paralisação de milhares de obras públicas no país, produzindo desemprego e retrocesso econômico. Isso também envolve política.

Popularidade de instituto de pesquisa não vale grande coisa se o grupo político não constrói uma base social para si mesmo, não através do peleguismo, mas atendendo às suas demandas. E o governo Dilma não está construindo nenhuma estratégia política neste sentido. Está repetindo exatamente os mesmos erros que cometeu em 2010. Abandonando a militância, abandonando a política e tentando jogar apenas com a grande mídia, que é seu inimigo mais feroz, mais traiçoeiro e mais perigoso.

Nem Petrobrás nem o governo têm porta-vozes, o que é um absurdo.

Para onde vamos?

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