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18/12/2014
Acesso de jovens de baixa renda a universidades públicas no país é 4 vezes maior que em 2004
Amigos do Presidente Lula - quinta-feira, 18 de dezembro de 2014.
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A participação dos mais pobres no ensino superior público do Brasil
cresceu quatro vezes entre 2004 e o ano passado. Na outra ponta, os mais
ricos deixaram de ser maioria entre os estudantes da rede, no mesmo
período. É o que mostra o estudo Síntese de Indicadores Sociais 2014,
divulgado ontem pelo IBGE. Segundo a pesquisa, que leva em conta o
rendimento mensal familiar per capita, em nove anos o acesso dos com
rendimentos mais baixos saltou de 1,7% para 7,2% em universidades
administradas pelo Estado. Nas particulares, a fatia desses alunos mais
que dobrou. Se, em 2004, os 20% mais pobres representavam 1,3% dos
estudantes, em 2013 alcançavam 3,7%. Já os 20% mais ricos foram de 55%
para 38,8%, no ensino superior público; e de 68,9% para 43%, no privado.
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Houve ampliação grande do acesso ao ensino superior. Os 20% mais ricos,
que eram ampla maioria em 2004, passam a ter participação menor. Houve
um aumento de vagas, cotas e crédito educativo que fez crescer a
participação dos mais pobres - afirmou Barbara Coco, coordenadora de
População e Indicadores Sociais do IBGE.
Para o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Robert
Verhine, doutor em educação comparada e economia da educação, os números
são resultado de uma combinação de fatores. Ele cita as cotas, o
aumento de vagas da rede e a interiorização das instituições.
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- Essa é uma tendência bastante evidente nos últimos tempos. Tem a ver
com políticas públicas, por exemplo com as ações afirmativas voltadas
para pessoas com renda mais precária. A própria expansão da rede pública
trouxe possibilidades. A abertura de vagas ocorreu inclusive à noite,
num horário em que fica mais fácil para as pessoas que precisam
trabalhar estudarem. Além disso, houve a interiorização de universidades
públicas através do novos campi no interior dos estados - comenta o
professor, acrescentando que, no caso da rede privada, programas como o
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para
Todos (ProUni) tiveram impacto significativo.
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Verhine ressalva, no entanto, que dentro das próprias instituições ainda há desigualdades:
- Áreas de baixo prestígio, como a Pedagogia, têm pessoas em situações
mais precárias. Já o nível socieconômica de estudantes de Medicina é
mais mais alto. Embora tenhamos avanços significativos, ainda há
segmentação.
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Estudante do segundo período de Jornalismo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM), Luís Gustavo Soares, de 24 anos, integra a
primeira geração da família a ingressar no ensino superior. Morador de
São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, e filho de um taxista e de uma dona
de casa, ele diz que o financiamento por meio do Fies, somado a uma
bolsa de estudos parcial, garantem a sua permanência na universidade.
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- A forma que tenho de ascender socialmente é essa, através de estudo.
Estamos mudando a o perfil da minha família. A condição que o meu pai
teve foi ruim, a que eu tive foi boa, e a dos meus filhos será melhor
ainda - prevê. - A faculdade onde eu estudo é de classe A. No passado,
só estudava lá quem era filho de rico. O Fies tornou esse ambiente mais
plural, deu uma nova cara às universidades privadas.
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Membro da Academia Brasileira de Educação e pró-reitor da Fundação
Getulio Vargas (FGV), Antônio Freitas afirma que o aumento ainda é
“irrisório”. Ele também destaca a eficácia de programas de educação do
governo federal, como o Fies e o ProUni, mas se mostra preocupado com a
expansão do sistema de reserva de vagas:
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- Programas como o Fies e ProUni são absolutamente importantes para o
país, e o governo merece todo o crédito por isso. Mas o aumento do
acesso é irrisório em face das necessidades nacionais. Nós temos 212
milhões de habitantes e 8 milhões de formados - avalia. - A grande
preocupação que tenho é o aumento de alunos por cota, porque o governo
deixa de investir na educação básica, o aluno entra na universidade via
cota e, talvez, não tenha condições de acompanhar os cursos. Pode
acontecer uma reprovação grande, os professores baixarem o nível dos
cursos para não reprovar, ou, como os alunos tiveram uma educação
frágil, começam a fazer cursos de baixo valor agregado, terminam a
faculdade para ganhar mil reais.
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O estudo mostra que as mudanças na participação por grupo de renda
ocorreram também nos anos anteriores de ensino. No ensino fundamental
público, os 20% mais pobres passaram de 33,7% dos alunos, em 2004, para
39,5%, em 2013, e os mais ricos variaram de 5,3% para 4,3% no período.
No particular, os com renda mais baixas foram de 4,4% para 8,4%, e os
com rendas mais elevadas, de 51,4% para 39,2%. No ensino médio público, a
fatia dos de menor renda aumentou de 15,2% para 24,5% nos nove anos da
série, e os de maior renda, de 11,7% para 8,2%. Na rede privada, os mais
pobres saíram de 2,6% para 3,7%, e os mais ricos caíram de 60,8% para
52,2%.
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Cynthia Paes de Carvalho, professora do departamento de educação da
PUC-Rio e especialista em sociologia política e gestão da educação, diz
que, para continuar avançando, o país precisa investir mais nesses anos
anteriores ao acesso às universidades:
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- Certamente parte das mudanças se dá pelas políticas públicas como as
cotas e o próprio Enem. Mas, com tudo isso, a desigualdade ainda é
enorme. O quadro geral é muito ruim. Para avançar, é preciso melhorar a
qualidade da educação básica, principalmente da rede pública. Com
escolas públicas de baixa qualidade, de pronto se faz um um corte
socieconômico no acesso ao ensino superior. Dessa forma, os alunos das
classes mais baixas poderão entrar na mesma idade dos outros nas
universidades. Hoje, entram mais tarde porque tiveram de tentar várias
vezes antes de conseguir desempenho para o acesso.O Globo
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