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18/02/2017
Brasil: mais e melhor petróleo; mais dependência energética e industrial
Do Tijolaço -18/02/2017
por Fernando Brito
Quem quiser ter uma panorama do “crime continuado” que se está fazendo ao país com a reorientação da Petrobras neste governo (um aprofundamento intenso que vem, aliás, desde antes, com a crise de liquidez em que a empresa foi mergulhada) e do que significa a renúncia a ter o controle da exploração do pré-sal deve ler a reportagem de Marta Nogueira, da Agência Reuters.
Alguns trechos já nos dão uma ideia:
O crescimento da produção de petróleo no pré-sal brasileiro, mais leve do que a média do Brasil, permitiu à Petrobras, monopolista no refino no país, aumentar o uso do óleo nacional em suas refinarias para mais de 90 por cento, reduzindo seus custos operacionais e logísticos.(…)Em dezembro de 2016, 32 por cento da produção brasileira foi de um petróleo considerado leve, contra 7 por cento um ano antes, sob influência da extração do pré-sal, que garante um produto com menor concentração de enxofre e menor acidez, proporcionando maior rendimento de derivados de maior valor agregado, como gasolina, diesel e querosene de aviação.
Com isso, a participação do petróleo importado, que é necessário para que o perfil do refino se adeque ao perfil da demanda de derivados – pois cada tipo de petróleo produz um espectro diferente de refino – caiu ao mínimo. Logo, diminui nossa necessidade de importação e diminui, também o custo do óleo, que não precisa atravessar longas distâncias até as refinarias
Mas, tendo petróleo para refinar, teremos refinarias para fazê-lo? Só por enquanto, porque a crise econômica reduziu o consumo de combustíveis e outros derivados.
Apesar dessa situação, entretanto, o Brasil deverá seguir dependente de importações de combustíveis no futuro, em meio à lentidão no aumento da capacidade brasileira de refino em volumes necessários para atender a crescente demanda esperada, com vários projetos de refinarias, como a Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio de Janeiro, atingidos pelo escândalo de corrupção, o que atrasou as obras.
O especialista Alexandre Szklo, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse à Reuters que a pressão por maior capacidade de refino no Brasil reduziu nos últimos anos, por causa da retração da demanda interna por combustíveis, mas que irá retomar assim que a economia reagir.
A atual gestão da Petrobras, no entanto, já afirmou que não está disposta a investir em novas refinarias sem parceiros, após amargar prejuízos com obras que não foram finalizadas.
Só que, ao contrário dos poços do pré-sal, onde há várias petroleiras de boca aberta atrás de um petróleo de boa qualidade e que jorra em proporções gigantescas, não há estrangeiras para investir em refinarias. O motivo é simples: o investimento á alto e o retorno é lento e baixo. Esperar a retomada da economia para retomar investimento em refino significa, por baixo,dar ao país por seis ou sete anos a insuficiência na produção de derivados. Porque a construção de uma refinaria leva, no barato, quatro a cinco anos para ser executada e há os tempos de projeto, antes e testes e comissionamento depois, processos lentos e delicados.
A outra questão, tão importante quanto: o impacto causado pela paralisia da empresa que, na prática, acaba eternizado pela redução das exigências de conteúdo nacional fere de morte não só a industria naval como toda a cadeia de fabricação vinculada à exploração de petróleo: dutos especiais, tanques, válvulas, compressores, e até as montagens industriais. Não é apenas o fechamento de empresas e empregos, mas a perda da curva de conhecimento que o país ia lentamente construindo, que os tão admirados coreanos levaram meio século para levar ao ápice.
Gerir a Petrobras como uma quitanda, onde o importante é vender o máximo para aumentar a féria do dia é pior do que uma cegueira negocial, é um crime contra o desenvolvimento brasileiro.
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