22/03/2017
O que o Brasil quer ser quando crescer?, por Wagner Iglecias
Jornal GGN - TER, 21/03/2017 - 16:34ATUALIZADO EM 21/03/2017 - 17:48
O que o Brasil quer ser quando crescer?
por Wagner Iglecias
O mesmo assunto, mas já sendo diferente. O modelo de desenvolvimento agropastoril do Brasil deveria ser outro, baseado no acesso à terra a todos aqueles que nela querem trabalhar, na agricultura familiar, nas sementes livres da transgenia, no cultivo livre do agrotóxico, no manejo responsável dos recursos ambientais (matas, rios, lencóis freáticos, açudes etc.), na preservação das áreas indígenas, no uso da pesquisa científica e tecnológica para o interesse nacional e na soberania alimentar do Brasil e do povo brasileiro. Mas a questão (ainda) da carne ainda traz reflexões importantes, não só sobre nosso modelo agropastoril.
Setores estratégicos e/ou competitivos da economia brasileira estão sofrendo há alguns anos ou mesmo algumas décadas um forte processo de desnacionalização: mineração, siderurgia, indústria aeronáutica, indústria naval, indústria do petróleo...e os próximos muito bem poderão ser a engenharia pesada e a indústria alimentícia (pecuária). Num futuro não muito distante não é improvável que a agricultura de grande porte, que já é em parte de investidores estrangeiros, seja também completamente desnacionalizada. O que restará sob controle de capitais ou do Estado brasileiro?
Ainda que o socialismo real tenha entrado em decadência e o capitalismo tenha vencido a Guerra Fria, não se trata de um capitalismo concorrencial a la "mão invisível", "laissez faire" ou qualquer outra utopia do gênero. Trata-se de um capitalismo oligopolizado, em todos os setores da atividade, no qual grandes corporações (que ainda têm suas sedes e sua gestão financeira nos USA, Japão, Alemanha, França, China, Rússia, Reino Unido etc.) e seus respectivos Estados nacionais andam de braços dados.
Escândalos ou crises financeiras severas têm atingido muitas dessas empresas nos últimos anos (Volkswagen, Samsung, Alstom, L´Oreal, Siemens, Ford, General Motors etc.) mas ninguém nunca viu os governos desses países deixarem essas empresas (que são a "cereja do bolo" de suas respectivas cadeias produtivas) quebrarem ou serem completamente desnacionalizadas. Por que no Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, quinto país em território e em população do planeta, isso não tem sido assim?
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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