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27/03/2017
Maringoni: Depois do fiasco de domingo, não vale mais a pena estigmatizar os “coxinhas”
Do Viomundo - 27 de março de 2017 às 11h34
O BOLO EMBATUMOU: NÃO VALE MAIS A PENA ESTIGMATIZAR OS “COXINHAS”
por Gilberto Maringoni, no Facebook, sugestão de Emílio Lopez
Depois do fiasco das manifestações deste domingo (26), arrisco um palpite: a conjuntura parece estar mudando. Neste cenário, é importante parar de estigmatizar os chamados “coxinhas”. Boa parte deles pode mudar de lado, na dinâmica da luta política.
Não é ingenuidade. Explico.
A possível virada dos ventos deve ser entendida pelo conjunto de uma obra que veio a público há menos de quinze dias. As manifestações nacionais contra a reforma da Previdência – essas sim, de êxito retumbante! – na semana anterior e o aluvião humano que cercou Lula em Monteiro (PB), no domingo (19), mostram que gente há anos ausente das ruas decidiu deixar a passividade de lado.
Mesmo em redutos exclusivos da classe média remediada, como o Lollapalooza, as manifestações em favor do ex-presidente acendem uma luz amarela para o Planalto.
Some-se a isso a aparente vitória de Pirro que representou a aprovação da terceirização, na noite da quarta (22). Ali, a arrogância e a soberba dos dirigentes da base governista chegou ao auge. Avaliaram poder aprovar qualquer barbaridade “sem conversar com ninguém”, como declarou há dias o inimitável Romero Jucá.
A ação parlamentar do golpe pode ter batido no teto. Caiu substancialmente o número de deputados favoráveis às reformas. Eram 359 governistas na aprovação da PEC 241/55, em outubro. Agora, apenas 231 parlamentares apertaram o “sim” da terceirização.
A violência da medida é tão grande e suas consequências no desarranjo da convivência social são tão devastadoras que até o capital hesita sobre o passo seguinte. Editoriais e reportagens da imprensa econômica registram essa ambiguidade.
Como diz Artur Araújo, caiu a ficha da classe média.
Michel Temer lhe aplicou um tremendo estelionato político, ao garantir que o pós-PT geraria tempos de bonança e felicidade. O golpista não aprendeu nada com o estelionato eleitoral de Dilma, em 2014; o povo não gosta de se sentir enganado.
É bem provável que a massa que acorreu às ruas há um ano, vestida de verde e amarelo e seguindo patos e lobões, agora esteja amuada e arrependida até os dentes pelo inferno que ajudou a montar. Bobamente serviu de massa de manobra para um governo que lhe retira a aposentadoria e tolhe a possibilidade de ascensão social de sua prole, via fim dos concursos públicos.
Com a base social do golpe paralisada, me parece que a pior viagem é seguir estigmatizando os “coxinhas”. Cobrar deles uma conta que não podem pagar pode desopilar o fígado da esquerda, mas não serve para atrair possíveis participações na luta, ou pelo menos para se reduzir resistências e ruídos das forças antipopulares.
Esse setor de classe média pode ser atraído ou permanecer neutro nas movimentações contra as reformas.
Boa parte pode mudar de lado, a depender da dinâmica da – desculpem – luta de classes. Não se fala aqui da cúpula fascista dos movimentos (MBL, VPR etc.), mas no enorme contingente que envergou camisa da seleção depois da Copa do mundo.
Assim, não vale a pena seguir com a toada de “E agora coxinhas?”, “Quero ver a cara de vocês” e “Enfiem a panela sabem onde”.
Atrair o coxinhato para as mobilizações é essencial para derrotar a patranha golpista. Não é algo fora de propósito.
A conjuntura é sempre uma caixinha de surpresas.
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