Gilmar não larga um líder ferido na estrada e liberta Paulo Preto, operador dos tucanos, pela segunda vez
Do Viomundo - 30 de maio de 2018 às 18h37
........Antônio Cruz/Agência Brasil
Da Redação
Nos velhos tempos, poderíamos dizer que a notícia nem esquentou as rotativas.
Quando aconteceu, na manhã desta quarta-feira, ironizamos: Por ameaça a testemunhas, Paulo Preto entra de novo na fila do HC de Gilmar Mendes.
Mas, confessamos: nem a gente esperava que seria tão rápido.
Esta noite, Gilmar Mendes, feito ministro do STF por Fernando Henrique Cardoso, mais uma vez não negou fogo: tirou da cadeia o operador de José Serra, Geraldo Alckmin e do PSDB, Paulo Preto.
Porém, ele ainda não ficou com o recorde de HCs de Gilmar, que continua com o banqueiro Daniel Dantas, outro amigão dos tucanos, que mereceu dois em cerca de 24 horas.
Paulo Preto, que gosta de mandar recados pela imprensa, como no famoso “não se deixa um líder ferido na estrada” — dirigido a José Serra, que teve uma crise de amnésia em relação ao ex-diretor da Dersa — teria cogitado fazer delação premiada, depois disse que nunca pensou nisso, depois vazou que teria uma lista de 90 candidatos que ajudou em eleições.
Ou seja, mais que ninguém ele conhece os meandros da política brasileira e o valor de uma chantagem.
Melhor para os tucanos. Diferentemente dos petistas, que viram um indicado para o STF (Luiz Fux) se transformar de alguém que “mataria no peito” em algoz do partido, Gilmar Mendes não falha.
A notícia abaixo era o que deveria ter sido:
Paulo Preto, operador do PSDB, é preso novamente
Após ser libertado por Gilmar Mendes, ex-diretor da Dersa volta para a prisão por descumprir decisão judicial
O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto e apontado como operador do PSDB, foi novamente preso preventivamente em São Paulo nesta quarta-feira 30 após descumprir decisão judicial.
No último dia 14, o Ministério Público Federal de São Paulo pediu uma nova prisão contra Paulo Vieira.
A filha de Paulo Vieira também foi presa e ambos chegaram à sede da Polícia Federal na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, pouco antes das 9h. A defesa de Paulo Vieira disse à imprensa que não tinha informações sobre a prisão de hoje.
No dia 11 de maio o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes determinou a soltura de Paulo Vieira de Souza – conhecido como Paulo Preto – ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa).
Ele estava preso desde 6 de abril em razão das suspeitas de desvios nas obras do Rodoanel Sul, Jacu Pêssego e Nova Marginal Tietê.
Em março, pela primeira vez em quatro anos de Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal apresentou denúncia de corrupção envolvendo desvio de verba em obras nos governos paulistas.
No dia 22 daquele mês a força-tarefa da operação em São Paulo registrou a acusação contra o ex-diretor de engenharia da companhia de Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) Paulo Preto e mais quatro investigados por desviar 7,7 milhões de reais entre os anos de 2009 e 2011, época em que o governo estadual estava sob o comando do tucano José Serra.
Apontado como operador do PSDB de São Paulo, Paulo Preto chegou a ter 113 milhões de reais em quatro contas na Suíça em 2016.
A revelação foi feita por integrantes do Ministério Público do país europeu, que compartilharam espontaneamente a descoberta com as autoridades brasileiras.
O valor desviado deveria ter sido destinado às famílias que foram desalojadas para dar lugar as obras viárias realizadas pela Dersa na região metropolitana de São Paulo – o trecho sul do Rodoanel, o prolongamento da avenida Jacu Pêssego e a Nova Marginal do Tietê.
A fraude envolve aproximadamente 1.800 cadastros feitos indevidamente para os programas de reassentamento das três grandes obras realizados na gestão de Serra.
Os cadastros eram para auxílio-moradia, indenizações pelas remoções ou apartamentos da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), estatal paulista que trabalha conjuntamente com a Dersa.
Segundo a denúncia, Paulo Preto comandava o esquema, que envolvia também dois ex-ocupantes de cargos comissionados na Dersa: José Geraldo Casas Vilella, chefe do departamento de assentamento da empresa, e uma funcionária do setor na época, Mércia Ferreira Gomes – que entregou parte do esquema em uma delação premiada.
Uma irmã de Mércia também é acusada de participação nos ilícitos, assim como a filha de Paulo Preto, a psicanalista Tatiana Arana Souza Cremonini.
A acusação é por formação de quadrilha, peculato e inserção de dados falsos em sistema público de informação. Paulo, Geraldo e a funcionária participaram dos três eventos denunciados. A irmã da funcionária da Dersa e Tatiana participaram de um evento cada uma.
O MPF apresentou ainda a denúncia por desvios de apartamentos e indenizações, nos anos de 2009 e 2010, para parentes e pessoas ligadas a funcionários, o que resultou em R$ 955 mil, em valores da época, em indenizações.
Os pagamentos seriam autorizados por José Geraldo e, quando ultrapassavam o limite permitido por seu cargo, eram assinados diretamente por Paulo Preto.
Na obra da Jacu Pêssego também houve desvios em espécie. A funcionária cadastrou sete amigos e conhecidos como pessoas que tinham direito a reassentamento por causa da obra. Dessas sete pessoas, três foram cadastradas novamente no programa de reassentamentos da Nova Marginal Tietê.
A funcionária da Dersa relatou que, durante o período em que ocorreram as fraudes, muito dinheiro em espécie circulava no setor em que trabalhava.
Segundo seus depoimentos, Paulo e José Geraldo mandavam entregar o dinheiro a pessoas indicadas por eles, inclusive para lideranças do tráfico que invadiam as áreas dos empreendimentos. O esquema foi interrompido em 2012, depois que um subordinado da funcionária a denunciou.
Ainda há a denúncia de 1.773 pagamentos de indenizações irregulares para falsos desalojados pelo prolongamento da Jacu Pêssego, cadastrados como se fossem moradores das áreas da região, somando o rombo de 6,3 milhões de reais.
Todos os pagamentos indevidos foram autorizados por José Geraldo e Paulo Preto, segundo a denúncia.
A denúncia do MPF é assinada por todos os integrantes da Força Tarefa da Lava-Jato em São Paulo: as procuradoras regionais da República Adriana Scordamaglia e Janice Ascari e as procuradoras e procuradores Ana Cristina Bandeira Lins, Anamara Osório Silva, André Lasmar, Daniel de Resende Salgado, Guilherme Göpfert, Luís Eduardo Marrocos de Araújo, Lucio Mauro Carloni Curado, Thaméa Danelon e Thiago Lacerda Nobre, e foi protocolada em março