segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Contraponto 220 - Pré-sal : acerto na opção nacionalista


Cenário global reforça opção nacionalista sobre o pré-sal

De Carta Maior Por Igor Fuser* , 04 de Setembro de 2009

O Brasil, de acordo com os defensores do modelo privatista adotado nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, deveria garantir condições vantajosas para os investimentos estrangeiros, sob pena de ficar sem recursos para extrair o óleo das profundezas. Esse argumento desmorona diante da realidade do mercado internacional da energia. O panorama é de um mundo sedento por combustíveis cada vez mais escassos. A produção global de petróleo se encontra à beira de atingir o seu ponto máximo, a partir do qual será impossível atender à demanda crescente. O artigo é de Igor Fuser.

Igor Fuser - Opera Mundi

Ao propor o reforço o papel do Estado na exploração das reservas do pré-sal, o governo brasileiro desprezou o bombardeio de previsões pessimistas lançado pelo lobby das empresas petroleiras transnacionais e seus porta-vozes na mídia corporativa. O Brasil, de acordo com os defensores do modelo privatista adotado nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, deveria garantir condições vantajosas para os investimentos estrangeiros, sob pena de ficar sem recursos para extrair o óleo das profundezas. A manutenção de regras liberais se justificaria como um meio de garantir os capitais necessários à exploração.

Esse argumento desmorona diante da realidade do mercado internacional da energia. O panorama é de um mundo sedento por combustíveis cada vez mais escassos. Na visão da ampla maioria dos analistas, a produção global de petróleo se encontra à beira de atingir o seu ponto máximo, a partir do qual será impossível atender à demanda crescente. A busca frenética por fontes alternativas de energia representará, na melhor das hipóteses, um mero paliativo para a escassez, que se refletirá numa escalada dos preços. As cotações do petróleo a mais de 140 dólares o barril, às vésperas do naufrágio financeiro do ano passado, podem representar apenas uma amostra do que virá em um futuro próximo, só adiado pela recessão.

Na raiz dessa situação de estrangulamento existe uma realidade física, que independe da vontade humana. O petróleo é um bem não-renovável, explorado em escala gigantesca há 150 anos. Os geólogos calculam que, dos 2 trilhões de barris existentes no subsolo terrestre em 1860, marco inicial da era dos hidrocarbonetos, cerca de 1 trilhão já foram consumidos. Resta o outro trilhão, o que ainda é muito. O problema é que grande parte do petróleo remanescente se encontra em regiões de acesso muito difícil, como as regiões polares, ou em forma de betume ou asfalto, o que torna a exploração muito dispendiosa.

Do outro lado da equação, a demanda logo deverá recuperar o ritmo vertiginoso registrado na última década, sob o impulso do crescimento econômico da China, Índia e outros países “emergentes”. Quando eclodiu a crise econômica, no ano passado, os principais produtores, como a Arábia Saudita, já davam sinais de ter atingido o limite a partir do qual é impossível aumentar os níveis de extração. A queda nos índices de atividade econômica aliviou a pressão sobre os poços de petróleo, mas quanto tempo isso irá durar? A economia mundial ainda nem iniciou a sua recuperação e os preços já voltaram a subir.

Risco mais perto
O temido momento do “pico do petróleo” se encontra perigosamente próximo. A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula que, para abastecer as necessidades da economia mundial em 2030 a produção de petróleo deverá saltar dos atuais 90 milhões de barris diários para 121 milhões. Ninguém é capaz de explicar de onde virão os 31 milhões de barris diários adicionais. Importantes exportadores – como a Rússia, a Noruega e o México – já atingiram seu patamar máximo de produção, e a capacidade do Oriente Médio é insuficiente para atender à demanda projetada.

Em uma entrevista em tons sombrios, o presidente da AIE, Fatih Birol, revelou no início de agosto ao jornal The Independent o resultado de um estudo detalhado dos 800 poços de petróleo mais produtivos do planeta. A pesquisa revelou que esses poços, responsáveis por mais de três quartos da produção mundial, estão declinando a uma taxa de 6,7% ao ano – uma proporção alarmantemente maior do que estimativa anunciada em 2007 pela própria AIE, de 3,7%.

Nesse cenário, os países possuidores de recursos energéticos adquirem um poder crescente. Nas palavras de Robert Skinner, diretor do prestigiado Instituto de Estudos de Energia de Oxford, “os termos da interdependência se inverteram”. Se o Brasil pudesse ter escolhido o momento ideal para ingressar no seleto clube dos grandes produtores de petróleo, a data de 2015, quando se calcula que entrarão em operação comercial as novas reservas, estaria situada perto da perfeição.

Até lá, segundo a avaliação do banqueiro estadunidense Matthew Simmons, um dos maiores especialistas mundiais em petróleo, não faltará capital estrangeiro para o pré-sal. “Os recursos virão da própria alta dos preços”, afirmou ele, em entrevista à revista Exame. Simmons, que se tornou milionário com investimentos no mercado global de energia, vê a Petrobrás como uma exceção positiva em meio à crise generalizada das empresas do setor. “Companhias como a Exxon e Shell estão em declínio”, disse. “Hoje, a Petrobrás é a única que tem condições de capitanear o aumento da produção mundial de petróleo.” É lamentável – e, talvez, sintomático – que a revista não tenha dado o devido destaque a essas declarações.

Artigo publicado originalmente no Opera Mundi.

*Igor Fuser é jornalista, doutorando em Ciência Política na USP e autor do livro "Petróleo e Poder - O envolvimento militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico"
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