17/10/2009
"A gente quer comida, diversão e arte!"
Zé Dirceu - 16/10/2009 20:05
Peço à cantora Joyce a devida licença para parodiá-la usando parte do verso da música dos Titãs - citado por ela em uma entrevista ao O Globo - porque considero-o a definição perfeita para o sentimento popular, para a população que conhece e quer muito mais do que obter o simples sustento e aspira, realmente, ter diversão e arte.
Essa semana demos um importante passo nesse sentido. Uma salva de palmas, então, para o Vale-cultura, a primeira política pública de consumo cultural desse país. Os trabalhadores brasileiros também querem - e merecem - ter acesso à arte e o tem, agora, sob a forma de um cartão magnético, semelhante ao vale-refeição e com saldo de R$ 50,00 por mês. Os contemplados com a iniciativa do governo federal, poderão usar o benefício em casas de show, cinema, teatros e livrarias.
O sistema é simples: as empresas que aderirem ao programa poderão deduzir até 1% do imposto devido. Em relação ao trabalhador, o valor do vale é calculado tendo como base o orçamento familiar: os que ganham até cinco salários mínimos (SM) arcarão com 10% - R$ 5,00; os que tem renda acima desse valor, poderão receber o benefício, desde que o atendimento aos empregados que ganham até cinco SM esteja garantido em sua totalidade.
Como vocês podem ver, uma medida justa e que permite acesso igualitário à cultura. Aprovada, nessa semana, na Câmara a iniciativa do governo Lula em prol da classe trabalhadora, conta com o apoio dos nossos artistas.
O trabalhador gosta e muito de cultura
Para explicar o impacto do vale-cultura na vida dos brasileiros e brasileiras, nada melhor do que conversar com quem faz arte. Leiam abaixo o pequeno ping-pong com o cineasta Luiz Carlos Barreto.
Barreto, qual o impacto principal do vale-cultura?
[ Luiz Carlos Barreto ] O vale-cultura é, sem dúvida, a maior realização já adotada em relação à política cultural nesse país. Com ele inicia-se uma etapa importante no processo de democratização da cultura. Afinal, quem vai financiar a produção cultural será o consumidor. Com isso, teremos um caminho sem volta. A partir desse programa, a cultura não será mais um privilégio das classes alta e média alta, mas de todos os brasileiros. É uma medida fundamental e democrática nesse sentido.
Falo pela minha área, por exemplo, o cinema, uma manifestação artística de massa. É um absurdo que num país de 190 milhões de habitantes, apenas 14 milhões tenham o privilégio de frequentar salas de cinemas. O Vale-cultura vai mudar totalmente o perfil do país no tocante a isso. O mesmo podemos dizer para os demais produtos culturais - teatro, shows, exposições, museus. Passarão a ter uma base de público no mínimo triplicada, o que significa cultura ao alcance da comunidade.
O que ainda é preciso mudar no Vale-cultura, ou ele está de bom tamanho?
[ Luiz Carlos Barreto ] Há mudanças que podem acontecer com o tempo, como, por exemplo, o percentual de contribuição dado pelo empregado. Ele poderia não dar esse valor. E parte da contribuição do empresário, podia ser em despesa operacional. Agora, uma parte - 50% - será descontada do imposto devido. O custo do vale poderia ser 25% do imposto devido e 25% ser lançado como despesa operacional. Enfim, isso poderá ainda ser aprimorado.
O que você diria aos pessimistas que acham que o programa não pega, e pior, que trabalhador não gosta de arte?
[ Luiz Carlos Barreto ] Parodiando Joãozinho Trinta que afirmou "quem gosta de miséria é intelectual", eu diria que estão redondamente enganados. Achar que só o rico ou a classe média alta, a chamada pequena burguesia, é que sabe apreciar arte e cultura é uma estupidez, um dos maiores preconceitos. O trabalhador, o homem do povo, a população de baixa renda anseia pelo acesso aos eventos culturais, gosta de se informar sim e gosta de se enriquecer culturalmente.
Além disso, desde quando a cultura tem que ser um negócio de salões aristocráticos? A cultura de massas impõe-se no mundo moderno e esse é o nosso desafio contemporâneo. O povo gosta sim de cultura. Quem afirma que ele não gosta nunca foi a um sindicato classista. Lá eles tem seus programas culturais muito bem definidos e executados na medida do que podem realizar. É um preconceito afirmar que o trabalhador do povo não gosta de cultura. Gosta e muito.
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