terça-feira, 27 de outubro de 2009

Contraponto 557 - Filha do DNOCS


27/20/2009
Sou filha do Dnocs

O POVO on line

Adísia Sá* - 27 Out 2009 - 02h14min


Só sabe o que é a seca, quem viveu o seu drama em plena vigência da estiagem. Nós nordestinos, das velha e média gerações de cearenses, sabemos muito bem o que seja . Não apenas pela ótica de nossos escritores & todos conscientes da tragédia, muitos a vivenciando - como famílias , como a minha, sobreviventes graças à ação do Governo central, na atuação do Dnocs. Sou da geração da Inspetoria , placenta do que hoje se comemora centenariamente falando.

A seca de 32 marcou a minha família diretamente. Moradores de Cariré & minha terra natal - fomos tangidos para Sobral no infernal flagelo. Mas , não fora o Dnocs , não estaria eu contando esta história.

Meu pai foi apontador em açudes construídos pela Inspetoria e foi graças a esse trabalho que a família conseguiu se manter suficientemente para que esta tragédia fosse agora contada. O sertão não virou mar: terra estorricada, pasto inexistente, fome campeando pelo sertão faminto, família se desintegrando com a saída obrigatória e urgente dos homens para a Amazônia e, mesmo, para o sul maravilha, ficando os seus lares sob a responsabilidade de extraordinárias mulheres, como a minha mãe & loba gigante na defesa da prole: quatro filhos & Orestes, Maria Olívia, Arlindo e eu.

Meu pai, alfabetizado, se alistou e foi servir, já disse, como apontador em açudes do Departamento. Dali saia o dinheiro para a comida de nossa mesa. Sou filha, então, do Dnocs. E disto me honro e isto proclamo onde minha voz se faça ouvida..

Hoje, aos 100 anos celebrados ainda sem a projeção devida, o Dnocs contempla os rebentos das famílias que salvou da catástrofe de 32. Disse isto em palestra na sede do Departamento, aqui em Fortaleza. Na oportunidade, muitos braços se levantaram e , numa só voz, dissemos: ``Somos filhos dos Dnocs.`` Ouvimos choros sufocados, lágrimas contidas. Num abraço fraterno, nos reunimos ao redor de uma mesa de confraternização...

Não, jamais vou esquecer este encontro de irmãos: filhos do Dnocs...

Adísia Sá* - Jornalista e escritora
adisia@opovo.com.br
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