terça-feira, 27 de outubro de 2009

Contraponto 562 - "Uma hora a mais de aula tem impacto ensino"


27/10/2008
Uma hora a mais de aula tem impacto no ensino

Blog do Anselmo Raposo - segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma carga horária maior em disciplinas como matemática, ciências ou leitura melhora a aprendizagem.

O economista e professor Victor Lavy, da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Universidade de Londres, analisou resultados de 50 países e constatou que uma hora a mais de aula por semana aumenta a nota dos estudantes.

Ele apresentou os resultados da pesquisa hoje, no Rio, em seminário promovido pela Fundação Itaú Social.

Em média, segundo Lavy, uma hora a mais de aula de ciências, cinco vezes por semana, permitiria que a Espanha desbancasse a Finlândia, saltando do 31.º para o 1.º lugar no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa 2006), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Brasil subiria da 52.ª posição para, no mínimo, a 44.ª, à frente da Turquia e atrás do Uruguai.

O estudo conclui que uma hora a mais de aula por semana representa um acréscimo de cerca de 15 pontos na nota do Pisa, entre as nações da OCDE. Já nos países em desenvolvimento, o impacto é metade disso.

Participam do exame jovens de 15 anos, independentemente da série em que estejam matriculados.

"Tais evidências podem ser muito importantes para a política (educacional), porque é relativamente fácil aumentar as horas-aula, desde que haja recursos disponíveis", escreveu Lavy.

Ele destaca, porém, que não basta ampliar a carga horária, já que o impacto está ligado diretamente à qualidade da escola. O raciocínio é simples: estudar mais tempo com um bom professor será muito mais proveitoso do que com um profissional despreparado.

Não é à toa que os estudantes no Primeiro Mundo dedicam praticamente o mesmo tempo às aulas de matemática do que seus colegas de nações em desenvolvimento - em média 3,3 horas por semana contra 3,1. Mas atingem média de 506,5 pontos no Pisa, na escala até 850, ante 398,5 dos países em desenvolvimento.

Em média, as três disciplinas somam 9,2 horas semanais nas nações da OCDE contra 8,6 nos países em desenvolvimento.

A nota média geral da OCDE nas três disciplinas é de 504,3 ante 399,7 dos países em desenvolvimento. A pesquisa levou em conta ainda avaliações em Israel.

No Brasil, o número médio de horas-aula de matemática por semana, em 2006, era de 2,7; ciências, 2; e leitura (o equivalente a língua portuguesa), 2,6, totalizando 7,3 horas semanais para as três disciplinas. A pesquisa cita dados informados ao Pisa pelo governo brasileiro.

O levantamento considerou 49 dos 57 países avaliados pelo Pisa em 2006. Eles foram divididos em três grupos: OCDE, com 22 países; leste europeu (14); e nações em desenvolvimento (13). O benefício do aumento da carga horária foi medido dentro de cada grupo, já que as diferentes realidades socioeconômicas impedem comparações gerais.

Para Lavy, o êxito de uma escola requer: 1) autonomia para contratar e demitir professores; 2) autonomia orçamentária, com liberdade para decidir se é melhor criar um programa de bônus para professores ou reformar o ginásio de esportes; e 3) total transparência na divulgação de avaliações externas (Prova Brasil) que mostrem o nível de aprendizagem dos estudantes.

Embora seu estudo revele que a ampliação da carga horária produz bons resultados, o economista ressalva que cabe a cada gestor decidir onde aplicar os recursos da educação. Indagado se seria melhor aumentar o número de horas-aula ou instituir um programa de bônus para professores, atrelado ao desempenho profissional e à aprendizagem dos alunos, Lavy respondeu:

- É uma pergunta difícil. Este estudo mostra o quanto é importante uma hora adicional de aula. Ainda não calculei a relação custo-benefício.

(Matéria publicada hoje no GLOBO)
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