terça-feira, 30 de março de 2010

Contraponto 1771 - Afinados politicamente, Brasil e Uruguai firmam série de acordos


30/03/2010


Afinados politicamente, Brasil e Uruguai firmam série de acordos

Vermelho - 29 de Março de 2010 - 10h34

Amigos há pelo menos 30 anos, os presidentes Luiz Lula da Silva e do Uruguai, José “Pepe” Mujica, se reencontram hoje (29) à noite em Brasília. Em pauta, acordos bilaterais, política e economia externa.
Um dos acordos é a criação de uma comissão de integração do setor produtivo para facilitar o comércio bilateral, reduzindo a burocracia e o tempo, os outros se referem às obras de interconexão energética e construção de pontes e hidrovias.

Há apenas 28 dias no cargo, Mujica já estabeleceu um estilo próprio: não abandonou a simplicidade e a garra que caracterizam o guerrilheiro que combateu a ditadura no Uruguai. Para a viagem ao Brasil, o uruguaio escolheu voo comercial. De Brasília ele segue para Caracas, na Venezuela, também em avião de carreira - nada de aeronave presidencial.

Lula e Mujica vão tratar também de temas internacionais, como a reconstrução do Haiti e a situação do governo do presidente de Honduras, Porfirio “Pepe” Lobo – isolado desde o golpe de Estado no país em junho de 2009. O Mercosul é outro assunto que consta da pauta.

Mujica quer ampliar o comércio com o Brasil, que é atualmente de US$ 2,6 bilhões. A proposta já examinada por ele e Lula é definir a permanência de uma comissão de integração do setor produtivo para dar mais agilidade nas negociações comerciais, reduzindo processos operacionais e permitindo que eventuais acordos ocorram mais rapidamente.

O Uruguai esporta para o Brasil carne bovina, cereais, semente, leite, madeira e carvão, e compra do país combustíveis e óleos, máquinas, veículos, tratores e caldeiras.

Também está em pauta a interconexão energética elétrica de uma linha de transmissão de 500 megawatts. Mujica e Lula devem fechar também a parceria para a construção da segunda ponte sobre o rio Jaguarão – que é 32 quilômetros navegáveis e divide as cidades de Jaguarão (no Rio Grande do Sul) e Rio Branco (no Uruguai). No local há apenas uma ponte que não é suficiente para atender às necessidades da região.

Os dois presidentes querem definir ainda um acordo para investimentos no incremento na infraestrutura portuária a partir da Lagoa Mirim – a segunda maior lagoa do Brasil –, na fronteira do extremo sul do Brasil com o Uruguai até a Lagoa dos Patos, a maior do país.

Afinidades

Ex-guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional Tupamaro que lutou contra a ditadura, Mujica, de 75 anos, assumiu o governo do Uruguai no último 1º. Segundo o presidente Lula, Mujica representa a personalização de uma liderança revolucionária e da fé na democracia. Mujica tem afinidades políticas e ideológicas com Lula, além de admiração mútua.

A interlocutores, Lula costuma dizer que o uruguaio é o símbolo da renovação política e exemplo para a América Latina. Na sua biografia, Mujica tem 14 anos de prisão por ter participado de sequestros e assaltos em defesa da democracia. Apesar de pouco tempo no governo, é uma das figuras mais populares no Uruguai. Pelo menos uma vez por semana ele reúne seus assessores diretos para almoçar em um bar simples, sem segurança especial nem cuidados extras, na área antiga de Montevidéu, capital uruguaia.

Na política e economia externas, Mujica e Lula têm posições semelhantes. O uruguaio é favorável ao fortalecimento dos blocos como o Mercosul, a União das Nações Sul- Americanas (Unasul), e a recém criada Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos – que exclui os Estados e o Canadá.

Como Lula, Mujica condenou a deposição do ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya. O hondurenho foi deposto por um golpe de Estado em 28 de junho de 2009. A ação foi organizada por um movimento integrado pelas Forças Armadas, a Suprema Corte e membros do Congresso Nacional. Em janeiro, assumiu o novo presidente do país, Porfirio “Pepe” Lobo.

Porém, há também divergências entre o Brasil e o Uruguai. Os uruguaios reclamam da falta de apoio do Brasil e do Mercosul em busca de uma solução para a chamada “crise das papeleiras”. É o impasse que envolve fábricas de celulose por causa da construção de duas usinas na fronteira entre o Uruguai e a Argentina. Os termos do acordo ainda não têm definição. O assunto está na Corte Internacional de Justiça.

Internamente, Mujica demonstra que vai manter firme as metas que definiu. Ele quer fazer uma espécie de revisão nos processos judiciais referentes às violações dos direitos humanos ocorridas durante a ditadura uruguaia – de 1973 a 1985. A iniciativa deve gerar polêmicas com setores conservadores e militares que resistem à medida. O novo presidente já avisou também que é favorável à libertação dos militares com mais de 70 anos, que estão presos.

Nas eleições uruguaias, Mujica venceu com 53% dos votos contra 42% do seu adversário, o ex-presidente Luis Lacalle. Com um discurso de conciliação, o presidente realiza reuniões desde a sua eleição em busca de acordos políticos para garantir a governabilidade.

Fonte: Agência Brasil
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