20/04/2011
Governo ignora chororô neoliberal e intervém na direção da Vale
Do Vermelho - 20 de Abril de 2011 - 15h51
A Vale é importante demais para seguir orientações privadas que em geral ficam à margem dos interesses nacionais. Com discrição, mas firmeza, o governo Dilma resolveu ignorar o canto de sereia neoliberal e intervir na empresa, não só substituindo o seu presidente, Roger Agnelli, que deixará o cargo em maio, mas também infiltrando um representante no Conselho de Administração, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa
Em assembleia realizada terça-feira (19) os acionistas da Vale aprovaram a nova composição do Conselho de Administração da companhia. A principal mudança é a entrada do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, como conselheiro, num claro sinal de que o governo pretende ampliar sua influência nas definições estratégicas da companhia --atribuição que cabe ao colegiado.
Colisão
Barbosa foi indicado para uma das quatro vagas de membros-titulares pertencentes à Previ, fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil e principal acionista da Vale. Barbosa também preside o Conselho de Administração do BB.
O secretário da Fazenda é braço-direito do ministro Mantega e um dos principais articuladores da pressão do governo para a substituição do presidente da companhia, Roger Agnelli. Mantega negociou com o Bradesco, maior sócio privado da Vale, a saída do executivo.
Agnelli entrou em colisão com o governo e reagiu acusando o PT de pretender controlar os cargos de direção da empresa e articulando um movimento de protesto entre dirigentes da empresa, que não prosperou. Ele será substituído por Murilo Ferreira, ex-diretor-executivo da companhia.
Sob nova direção
A Previ trocou outra vaga no órgão, assumida pelo presidente do conselho deliberativo do fundo de pensão, Robson Rocha. Rocha chegou a ser cotado para presidência do conselho, mas o presidente da Previ, Ricardo Flores, foi mantido no cargo.
Ao todo, foram substituídos quatro dos 11 membros-titulares do conselho. O representante dos empregados da Vale no conselho também foi trocado. Paulo Soares de Souza, presidente do sindicato Metabase de Itabira e região (polo produtor de minério de ferro em Minas Gerais), foi eleito para o mandato de dois anos.
A trading japonesa Mitsui, que integra o bloco de controle da Vale, também mudou seu representante. A assembleia de acionistas aprovou ainda uma reserva de lucros de R$ 23,8 bilhões para serem destinados à expansão da companhia e investimentos.
Mais valor agregado
Também passou pelo crivo dos acionistas o plano de remuneração da diretoria da empresa, que para remunerações (já incluídos os encargos) de R$ 109 milhões neste ano.
O governo quer que a Vale planeje investimentos em empreendimentos na área siderúrgica que possibilita a agregação de maior valor na produção, em vez de focar apenas na extração e exportação de commoditites (basicamente minério de ferro).
A direita neoliberal esbravejou contra a “ingerência” e chegou a falar numa “reestatização branca” da mineradora, que foi privatizada na bacia das almas durante o governo FHC por apenas R$ 3 bilhões.
Lágrimas de crocodilo
O fato é que representantes dos trabalhadores, através da Previ, e do governo, por meio do BNDES, controlam mais de 60% do capital votante da Vale e, uma vez unidos, têm condições de determinar os rumos da empresa em aliança com outros sócios, como foi o caso.
As lágrimas neoliberais, derramadas pela mídia venal e por políticos tucanos, caíram no vazio. Salta aos olhos que os interesses privados, neste caso, focados exclusivamente no lucro, não condizem com os interesses maiores da nação, que quer a Vale afinada com um novo projeto de desenvolvimento, no qual a economia nacional não deve ficar relegada à condição de grande produtora de commodities, em detrimento da indústria, um perigo real a que o país vem sendo empurrado pelo câmbio flutuante e o imediatismo das elites empresariais.
Com agências
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