21/04/2011
Dilma: Reforma do CS não é capricho do Brasil, a ONU envelheceu
Do Vermelho - 20 de Abril de 2011 - 17h44
Em discurso pronunciado durante a comemoração do Dia do Diplomata, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff voltou a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU, afirmando que não se trata de “um capricho do Brasil”, mas de uma necessidade objetiva decorrente das mudanças na geopolítica mundial. “A ONU envelheceu”, constatou.
A presidente reafirmou as prioridades da política externa enfatizando a defesa da integração política e econômica dos países latino-americanos e o fortalecimento do Mercosul. Em sua opinião, a orientação prevalecente nas relações internacionais está estreitamente associada à política interna, compondo um mesmo projeto nacional de desenvolvimento.
Dimensões de uma mesma política
- A política externa de um país – argumentou - é mais do que sua projeção na cena internacional. Ela é também um componente essencial de um projeto nacional de desenvolvimento, sobretudo em um mundo cada vez mais interdependente. As dimensões interna e externa da política de um país são, pois, inseparáveis.
A prioridade da política externa ficou evidente na escolha da Argentina como o primeiro país a ser visitado pela nova presidente. “A integração [latino-]americana revelou-se importante instrumento para a aproximação de toda a região, o que se expressou na criação da Comunidade dos Povos da América Latina e do Caribe, a Celac”, ressaltou Dilma.
- Os países do nosso continente tornaram-se valiosos parceiros políticos e econômicos do Brasil, e nós sabemos que os destinos da América do Sul, os destinos de cada um dos países e os nossos estão indelevelmente ligados.
Nossa região – América do Sul – tem [teve] um crescimento médio de 7,2% em 2010 e transformou-se em um polo dinâmico do crescimento mundial.
Defesa do Mercosul
Ela fez uma defesa do Mercosul, bloco econômico que tem sido duramente criticado pela direita neoliberal e por viúvas da Alca. O candidato tucano que concorreu às eleições presidenciais do ano passado contra Dilma, José Serra, chegou a sugerir o fim do Mercosul, realçando as contradições no interior do bloco e insinuando que mais atrapalha do que ajuda. A presidente enaltece os resultados do mercado comum.
- Hoje, quando comemoramos 20 anos do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, temos muito a celebrar. Nesse período, o comércio intrabloco saltou de US$ 4,3 bilhões para US$ 44 bilhões. Expandimos o Mercosul horizontalmente, transformando um projeto, inicialmente comercial-tarifário, em uma integração mais profunda entre o Brasil e seus vizinhos do Cone Sul.
Reconhecimento
Na opinião da presidente, a projeção que o Brasil ganhou no mundo ao longo dos últimos anos reflete “a percepção que a comunidade internacional passou a ter das transformações pelas quais nosso país vem passando. Depois de décadas de estagnação, o Brasil retomou o crescimento - um crescimento distinto daquele do passado – agora, a partir do governo do presidente Lula, acompanhado de intensa distribuição de renda e de forte inclusão social.”
- Descobrimos, nós, brasileiros, que as políticas sociais não podiam estar separadas da política econômica, como se fossem mero complemento ou elemento de compensação da política econômica. Nosso desenvolvimento começou a recuperar a infraestrutura física, social e energética do país. Construímos o equilíbrio macroeconômico e fomos capazes de reduzir nossa vulnerabilidade externa. Deixamos de ser devedores e passamos à condição de credores internacionais. Essa grande transformação ocorreu com o fortalecimento da democracia, com o respeito aos direitos humanos e com a política de preservação do meio ambiente.
Ao mesmo tempo, frisou que ainda restam “inúmeros e grandes desafios pela frente. O mais importante deles é o de superar a pobreza extrema. Nós dizemos: ´País rico é país sem pobreza´. E isso implica, necessariamente, uma definição de estratégia e de caminhos. E mais, sabemos também que para sermos uma grande nação, próspera e democrática, precisamos realizar um grande esforço para assegurar educação de qualidade para todos os jovens e as jovens brasileiros, mobilizando todas as nossas capacidades para desenvolver a pesquisa científica e tecnológica e entrarmos no caminho da inovação em todas as áreas da nossa atividade. Esses são, sem dúvida, os integrantes do nosso passaporte para a economia do conhecimento, permitindo que enfrentemos a dura competitividade econômica internacional. São, sobretudo, instrumentos para a construção de uma verdadeira cidadania.
Instituições obsoletas
As instituições internacionais de outrora se tornaram obsoletas, segundo a presidente. “A governança econômica global herdada no século passado sucumbiu à crise financeira de 2008, juntamente com o dogma da infalibilidade dos mercados financeiros. O G-7 foi deslocado pelo G-20 na discussão das saídas para a crise e na condução das reformas que aumentaram o poder de voto dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Mas há muito o que fazer. Há que reformar essa governança e dar a ela a representação que os países emergentes têm hoje no cenário internacional.”
- No momento em que debatemos como serão a economia, o clima e a política internacional no século XXI, fica patente também que, do ponto de vista da segurança, a ONU também envelheceu. Os eventos mais recentes nos Países Árabes e no norte da África mostram uma saudável onda de democracia, que desde o seu início apoiamos. Refletem também a complexidade dos desafios dos tempos em que vivemos. Lidamos com fenômenos que não mais aceitam políticas imperiais, certezas categóricas e as respostas guerreiras de sempre.
- Reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas não é, portanto, um capricho do Brasil. Reflete a necessidade de ajustar esse importante instrumento da governança mundial à correlação de forças do século XXI. Significa atribuir aos temas da paz e da segurança efetiva importância. Mais do que isso, exige que as grandes decisões a respeito sejam tomadas por organismos representativos e, por essa razão, mais legítimos.
Comércio Sul-Sul
Dilma também valorizou a estratégia adotada já no governo Lula de diversificar as relações econômicas e políticas do país, de forma a reduzir a dependência frente ao chamado Ocidente (EUA, Europa e Japão). Tal orientação resultou no estreitamento das relações diplomáticas com a África, o Oriente Médio e a Ásia, onde se destaca a China (que se tornou a maior parceira comercial do Brasil em 2009), além da união dos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
- A compreensão da universalidade de nossos interesses nos leva a estreitar as relações diplomáticas e abrir novos canais de diálogo político e de cooperação econômica com o continente africano e com o Oriente Médio. Essa iniciativa não se deve apenas, no caso da África, aos laços históricos e culturais que nos une. Ela leva em conta as enormes potencialidades desse continente, com os seus 800 milhões de habitantes e seu rico território. A África, sem sombra de dúvida, tem um futuro extraordinário.
China, Ibas e Brics
- Também nos lançamos em novas frentes de cooperação na Ásia, em especial com a China, com a Índia, com a Coreia do Sul e com o Japão, centros de grande dinamismo tecnológico e econômico, com os quais pretendemos ampliar e diversificar oportunidades de negócios nos marcos de franca reciprocidade. A palavra será e é sempre: reciprocidade. Acabo de regressar de Pequim, onde tive a oportunidade de transmitir uma mensagem clara a nossos aliados estratégicos. Queremos aumentar o nosso comércio, mas também diversificá-lo. Não temos por que envergonharmo-nos de nossa condição de grande exportador de commodities, mas, ao mesmo tempo, queremos expandir nossas exportações com valor agregado.
- O fórum Índia, Brasil, África do Sul, o Ibas, mostra que a democracia e a solidariedade são armas poderosas para superar a pobreza, e daremos a esse fórum a importância que ele merece. A recém concluída Cúpula dos BRICS, na China, reafirmou o objetivo dos grandes países emergentes por uma ordem internacional mais democrática e representativa do mundo do século XXI.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, também discursou durante o evento em comemoração ao Dia do Diplomata, realizado na manhã desta quarta-feira (20) no Itamaraty. Na sequencia, ocorreu a cerimônia de formatura da turma 2009-2011 do Instituto Rio Branco, que teve como patrono e paraninfo, respectivamente, o embaixador Paulo Nogueira Batista e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Da Redação, com agências
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