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28/01/2013
De tragédias, preconceito ou os canalhas de plantão
Do Brasil 247 - 228 de Janeiro de 2013 às 16:00
A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que
encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é
capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior. Basta ter
uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra.
Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de
respeito é de bom tom. Artigo de Paulo Emílio, editor do PE247
Paulo Emílio
PE 247 - A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor...e de pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom. Os exemplos são inúmeros.
No mais recente, a recente tragédia que vitimou
mais de 230 jovens em um incêndio em Santa Maria (RS) serviu para
explicitar o que o ser humano tem de pior. Em meio às declarações de
dor, apoio e solidariedade houve gente capaz de postar ‘Isso não pode
ser verdade. O meu Rio Grande não merece isso. Se fosse no Amazonas,
Piauí, na Bahia, no Ceará, onde não há vida inteligente, tudo bem. Mas
no meu Rio Grande e logo na cidade do meu falecido pai é de cortar o
coração. Estou de luto”, postou Patricia Anible. Ou outra que postou no
Twitter que “O povo do sul não ama churrasco? Está tendo um monte lá em
Santa Maria”... e vai por aí.
Ah, detalhe, os nordestinos, os pernambucanos, diga-se de passagem, foram os primeiros a disponibilizar pele humana para ser utilizada em transplantes dos feridos na tragédia gaúcha. E isto feito justamente por um “povinho de segunda e que não merece nem viver”, segundo a opinião de muitos dos que acham que vivem em um mundo à parte, formado por uma elite que arvora para si a eugenia como um fator de diferenciação.
Nesta seara sobrou até para o ex-presidente
Lula, que ao emitir uma nota de solidariedade e condolências foi taxado,
tanto por anônimos que não gostam dele por alguma razão como por
jornalistas que viram no fato um viés político, evidenciando que o mesmo
“não tem limites”. E desde quando um cidadão – sim, ele é um cidadão
quer se goste ou não – não pode manifestar suas condolências como
qualquer outra pessoa? O que não pode e nem se deve é dizer que tudo o
que ele espera desta situação é tirar proveito político. E vem mais,
desta vez por parte dos cabeçóides e ativistas de sofá: “A culpa é do
PT. Onde tem PT tem ladrão” e vai por aí.
O deputado federal Jean Wyllys (PSB-RJ) sabe no
couro o que é ser alvo deste tipo de ataque. Ao se posicionar em favor
do direito dos homossexuais, na defesa da separação entre Igreja e
Estado, ao defender direitos trabalhistas para as prostitutas ou mesmo
ao dizer que pretende adotar um filho, apanhou mais que cachorro
amarrado em poste. Desde comentários explícitos contra sua orientação
sexual e o seu posicionamento, boa parte do que se viu postado por trás
do anonimato foram declarações carregadas de preconceito e ameaças. Sim,
até mesmo ameaças de morte lhe foram feitas.
Ora, o seu papel como parlamentar é defender
ideias de uma parcela da sociedade que também pensa assim. Da mesma
forma o deputado de ultradireita Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem o mesmo
direito de defender suas ideias contrárias ao aborto ou contra o
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Eles foram eleitos para isso.
Pode-se discordar de suas opiniões e posições, mas nunca agredir de
forma pessoal um ou outro e, da pior forma possível, de forma anônima e
covarde.
O governador de Pernambuco e presidente nacional
do PSB, Eduardo Campos, é outro alvo. Nordestino e potencial
pré-candidato à Presidência da República é alvo de radicalismos tanto de
esquerda como de direita. E novamente, os ataques não ficam no plano
ideológico-partidário, mas descambam para o preconceito pura e simples:
“É mais um nordestino como o Lula”, “rola-bosta”, nesta onda sobra até
para quem se posiciona contra a “manada”. “vendido”, “corno”, “baba
ovo”, são alguns dos adjetivos encontrados facilmente nos comentários
postados na internet. Discordar é normal e saudável, agredir é dar vazão
a uma carga de preconceito que mais do que mostrar a falta de
argumentos denota o caráter do autor.
Internet é um território livre? Livre, mas nem
tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na
educação doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia
repassaremos aos nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se
posicionar, colocar suas opiniões e não estimular o preconceito ou a
violência também faz parte daquilo que se chama educação. Caso nós,
sociedade e “postadores” não tenhamos noção disto estaremos fazendo
aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos como racismo,
preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação.
Ameaças, piadas, tripudiar com a dor alheia,
preconceito, racismo, como temos visto virar regra no limbo da internet e
do anonimato que ela proporciona é algo lamentável e que, infelizmente,
parece estar virando a regra geral.
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