19/02/2013
Cuba, o embargo injustificado, o papel do Brasil e dos EUA
Do Blog Palavra Livre - 19/02/2013
Por Davis Sena Filho
O bloqueio econômico, financeiro e
comercial a Cuba, imposto pelos Estados Unidos em 1962, no governo do democrata John F. Kennedy,
é um dos bloqueios mais longos
que se tem notícia no mundo contemporâneo, além de ser considerado cruel
pelos
organismos internacionais, a exemplo da Assembléia Geral da ONU, que
aprovou, em 13 de novembro de 2012, a 21ª resolução de condenação ao
embargo econômico a Cuba. Apenas os Estados Unidos, Israel e Palau
ficaram a favor do embargo. No dia 7 de fevereiro deste ano, o bloqueio
completou
51 anos, ou seja, mais de meio século, e foi transformado em lei em 1992
e 1995. O
ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, também democrata, ampliou o embargo
comercial ao pequeno país
caribenho em 1999, o que acarretou a proibição de filiais estrangeiras
de
empresas do país yankee de
comercializar com Cuba valores que ultrapassem a US$ 700 milhões, o que é
um absurdo e uma gota no oceano em termos de comércio exterior.
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A Assembleia das Nações Unidas rejeita, reiteradamente, a política isolacionista promovida pelo governo estadunidense e o seu Departamento de Estado contra Cuba. Tal Departamento, cuja doutrina de política externa é o porrete, transformou-se em alvo de críticas internas contundentes por parte de entidades estadunidenses, contrárias ao bloqueio, ao argumentarem que não existem normas no direito internacional que justifiquem um embargo tão radical em tempo de paz, de globalização, além do fim da Guerra Fria, que ocorreu, simbolicamente, com a queda do Muro de Berlim, em 1989.
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A Assembleia das Nações Unidas rejeita, reiteradamente, a política isolacionista promovida pelo governo estadunidense e o seu Departamento de Estado contra Cuba. Tal Departamento, cuja doutrina de política externa é o porrete, transformou-se em alvo de críticas internas contundentes por parte de entidades estadunidenses, contrárias ao bloqueio, ao argumentarem que não existem normas no direito internacional que justifiquem um embargo tão radical em tempo de paz, de globalização, além do fim da Guerra Fria, que ocorreu, simbolicamente, com a queda do Muro de Berlim, em 1989.
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Cuba
enfrenta mais de cinco décadas de guerra econômica. Para se ter uma
ideia do que é
isto, ao longo de 51 anos a ilha cubana teve prejuízos que chegam a mais
de US$ 1 trilhão, valor este elevado para um país tão pequeno. É algo
incompreensível, com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos ainda não
mudarem
sua política externa para com cubanos. E sabem por que essa realidade
acontece? Respondo: Cuba atual não é importante economicamente, mas o é
politicamente e ideologicamente, com forte conotação simbólica, que
remonta a guerrilha de Fidel Castro e Che Guevara, ícones internacionais
e que até hoje povoam o imaginário de diversas gerações — as mais
jovens e as mais antigas. Combater e sufocar Cuba é essencial para os
grandes capitalistas e seus governos, porque acreditam que dessa forma
"matam" o sonho do socialismo.
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As
contradições da política estadunidense no que tange a Cuba são
questionadas
pela comunidade internacional. Lembro que, ao tempo em que Cuba é
boicotada por
um tempo de 51 anos, os Estados Unidos se constituíram nos principais
parceiros
comerciais da China comunista, além de retomarem o diálogo com a Coreia
do
Norte e o Vietnã, seus arqui-inimigos do passado e do presente, com o
propósito de criarem uma
nova fronteira de negócios com os países que, juntamente com o Laos e o
Camboja,
formam a Indochina. No momento, a Coreia do Norte realiza experimentos
atômicos, mas o diálogo com os EUA e a Coreia do Sul prosseguem. Somente
indivíduos ingênuos ou jornalistas a serviço da mídia imperialista e de
direita brasileira acreditariam que os EUA, no momento, abririam mão de
negociações e optariam por uma invasão militar.
É necessário salientar e relembrar também que representantes da Coreia do Norte e dos
Estados Unidos se reuniram no ano passado em Genebra, na Suíça, com a intenção
de desbloquearem as conversações sobre o desarmamento nuclear dos coreanos,
considerados à revelia pelos yankees
como um dos países formadores do “eixo do mal”, juntamente com o Irã e o invadido
Iraque, que desde 2003 está ocupado pelas forças militares dos EUA, que têm
interesses geopolíticos na região, além de controlarem o petróleo e uma nação como
a do Iraque cujo povo tem cinco mil anos de história, pois eles são a própria Mesopotâmia.
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Se a questão fundamental fosse ideológica, os estadunidenses não negociariam
com a China, que é comunista como Cuba e muitas vezes contrária, por exemplo,
aos interesses dos estadunidenses no Conselho de Segurança da ONU. Negócios são
apenas negócios. Ou como gostam os nossos complexados e colonizados tupiniquins: business to business (B2B). Os Estados Unidos, mesmo na Guerra Fria e em alta escala, sempre negociaram com a extinta União Soviética, e nem por isso o mundo acabou.
O bloqueio comercial a Cuba não tem mais sentido, tanto é verdade que muitos
países, inclusive o Brasil, negociam comercialmente com o país caribenho e
pedem o fim do embargo nos fóruns internacionais.
Além disso, considero o Brasil, que tem uma das diplomacias mais avançadas do
mundo, um grande mediador. Com o fortalecimento do Mercosul com a entrada definitiva
da Venezuela e o reconhecimento por parte dos grandes países ocidentais de que
o Brasil é o principal País da América Latina, o Governo Federal, por meio do
Ministério das Relações Exteriores, deveria se empenhar de forma mais assertiva
junto à OEA, à ONU, aos blocos econômicos como a Comunidade Europeia para que
os Estados Unidos façam uma revisão de suas políticas públicas e diplomáticas em
relação a Cuba, país independente e autônomo, que se recusa a ser tutelado por
quem quer que seja, como bem demonstra a história cubana desde 1959, quando os
revolucionários, à frente do movimento de libertação Fidel Castro e Che Guevara,
assumiram o poder político e militar na ilha caribenha.
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Considero fundamental que o Governo Federal recrudesça e procure efetivar a
inserção de Cuba no mercado econômico e financeiro internacional, por
intermédio de negociações do Itamaraty na OEA, na ONU, na OMC, no Mercosul e nos bancos
internacionais, como o Banco Mundial (Bird), o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Cuba tem de ser
integrada urgentemente, bem como a Palestina à comunidade internacional, e com
celeridade. Nenhum país deve ser tratado como se fosse de segunda categoria,
porque povo algum é de segunda categoria. A humanidade pode até diferir na cor
da pele e na textura dos cabelos, mas ela é uma só, única e indivisível, porque
vivemos em um planeta do qual somos filhos, e, quando da nossa morte, voltamos
para o útero dele em forma de pó. Existem, sim, países poderosos, com força
econômica e bélica incomensurável e que se aproveitam de sua posição para impor
sanções e bloqueios, além de, se puderem, promover invasões militares.
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Contudo, faço uma ressalva: essas organizações financeiras têm de,
urgentemente, reformular seus programas de financiamento, voltando-se mais para
o desenvolvimento social dos países subdesenvolvidos e endividados e deixar em
segundo plano as estratégias que visam apenas o lucro, fato este que ocorreu
durante décadas com o Brasil, e agora, quando a Europa e os EUA estão em crise,
seus povos se recusam a apertar seus cintos e protestam nas ruas contra a falta
de emprego, de renda e de esperança proporcionados pela crise de 2008, que até
hoje perdura e que tende a piorar, segundo os ministros de Fazenda da zona do
euro e os analistas vinculados ao mercado financeiro e ao comércio e à
indústria.
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A verdade é que o ex-presidente Lula tem razão. Ele criticou o FMI em evento nos
EUA realizado em 2011 quando recebeu prêmio de reconhecimento pelo seu governo
ter combatido a fome e a miséria e inserido milhares de famílias brasileiras no
mercado de consumo. O político trabalhista disse o seguinte: “O FMI tinha solução para tudo quando a
crise era na Bolívia, no Brasil, no México. Quando a crise chega aos países
ricos o FMI se cala, entrou num silêncio profundo. O BID, então, não fala mais
nada” — criticou Lula, alto e em bom som para quem quisesse ouvir,
inclusive os neoliberais brasileiros e a imprensa comercial e privada que
insistem em defender o indefensável, a justificar o injustificável e a
dissimular o fracasso retumbante de governantes atrelados ao Consenso de
Washington de 1989 e vazios de sensibilidade social, como o tucano e ex-presidente
neoliberal Fernando Henrique Cardoso, que foi três vezes ao FMI, de joelhos e
com o pires na mão, o que fez milhões de cidadãos brasileiros se sentirem
humilhados.
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Lula afirmou ainda que os países desenvolvidos deveriam seguir os passos do
Brasil, tê-lo como exemplo quando se trata de combater a crise mundial. Para
ele, os mais pobres são os que têm de ter prioridade, porque não há nada mais
barato do que cuidar deles, pois duro e difícil é cuidar dos ricos. Para o
ex-mandatário trabalhista, distribuir renda é a solução para que as pessoas pobres possam
consumir e, consequentemente, fazer a economia girar, o que propiciará a
criação de empregos e renda para os mais ricos, que poderão dessa forma
contratar um número maior de trabalhadores e com isso aumentar a força de
trabalho e a riqueza dos países, das sociedades.É o chamado ciclo virtuoso da economia.
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Por sua vez, a presidenta Dilma Rousseff
disse quando esteve na Turquia que “Desejamos
à Europa uma saída rápida da crise por meio da busca por maior estabilidade
macroeconômica, mas também e, sobretudo, assegurando a retomada do crescimento,
da proteção ao emprego e dos segmentos mais vulneráveis das diferentes
populações”. A resumir: Lula e Dilma pensam de maneira igual, pois são
executores do mesmo programa de governo e projeto de País. Eles são políticos
trabalhistas, nacionalistas e acreditam no Brasil e em sua maior riqueza que é
o seu povo. Lula e Dilma seguem, fundamentalmente, os princípios da escola política e
econômica estruturalista, progressista, cuja origem remonta a Getúlio Vargas e
passa pelo grande pensador e economista Celso Furtado.
Os neoliberais nunca compreenderam isso, não porque são ignorantes ou de parcos
conhecimentos sobre as questões e as realidades brasileiras, como se define
pessoas relativamente “espertas” de forma educada. Governaram para poucos
porque usaram de má-fé. E assim foi feito para, propositalmente, cuidarem dos
ricos e governarem para 30% da população do País, como fez FHC — o Neoliberal — em seus dois
governos, controlados pelo PSDB e com o apoio de partidos como DEM, o pior partido
do mundo, pois tataraneto que é da UDN. Quanto ao PPS do desmoralizado Roberto
Freire, considero-o apenas um partido de aluguel e que se esqueceu de sua
memória. Lamentável.
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Voltemos a Cuba. A crise internacional é questionada fortemente por
instituições nacionais de diversos países, bem como por ONGs e outros
movimentos sociais que criticam, de forma ácida e até mesmo violenta, a atuação
dos organismos financeiros internacionais perante aqueles que deles dependem ou
que devem a eles. Se países inseridos em um contexto mais favorável têm
enfrentado graves problemas no que concerne à inserção no mercado
internacional, o que diríamos de Cuba que há mais de cinco décadas enfrenta um bloqueio
econômico dos mais desumanos e cruéis que se tem notícia no mundo
contemporâneo? Por isso, como cidadão e jornalista sou favorável ao fim do
bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba.
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A Guerra Fria, repito, acabou. O mundo se tornou globalizado.
Globalização,
como o nome indica, significa interação entre os países, que passaram a
se
comunicar e a realizar negócios em uma frequência e grandeza nunca
vistas antes
pela humanidade. É surreal, em tempos de globalização, Cuba ficar à
margem do
processo de integração mundial por questões muito mais ideologicamente e
politicamente mesquinhas do que econômicas. Os Estados Unidos veem Cuba
como um problema pessoal. Dá a impressão
que os sucessivos governos estadunidenses teriam perdido um estado de
sua
federação, à força, o que não retrata a realidade. Os cubanos seguiram
seus
destinos de povo livre e independente e que tem o direito de fazer parte
da
comunidade internacional tal qual a qualquer outro povo que tem
representação
na ONU e em outros fóruns internacionais. Cuba não é o Havaí e nem Porto
Rico, que merecem, sem sombra de dúvida, todo meu respeito e
consideração.
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Cuba é soberana. E o Brasil, como um País tradicionalmente moderado,
diplomaticamente competente, de vocação mediadora, deve sentar à mesa de
negociações, com o propósito de inserir e incluir Cuba no contexto internacional.
A Carta da ONU considera direito inalienável de todo povo e de toda nação serem
livres, bem como participar dos processos de interação e integração entre os
povos. O bloqueio econômico ao país do Caribe não condiz com as realidades das
Américas e muito menos com a democracia, tão defendida pelos Estados Unidos ao
tempo que por eles negada ao povo cubano, bem como a muitos outros povos. O bloqueio a Cuba é
ideológico, geopolítico, insensato, cruel e injustificado.
Será que a blogueira de direita, a cubana Yaoni Sánchez, contratada para o cargo de diretora da ultraconservadora Associação Interamericana de Imprensa (SIP), sabe dessas realidades relativas a Cuba? Com certeza, sim. E daí? O que importa a tipo de gente como a pseuda jornalista é atender aos interesses do governo estadunidense, bem como o do establishment. As questões cubanas são muito maiores e mais complexas do que as palavras encomendadas e direcionadas de Yaoni, que, visivelmente, esta atrelada aos patrões do sistema midiático privado e hegemônico das três Américas. A independência e a autodeterminação cubana, igualmente à brasileira e a de todos os povos da América Latina e do Caribe, não são negociáveis. Cuba é independente.
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É isso aí.
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Pois é enquanto a Yoni fica dizendo que não tem liberdade de expressão e fica viajando no mundo todo e depois volta a Cuba , o Assange tem que ficar preso na embaixada do Equador em um pais dito livre , pois se colocar a cabeça para fora leva tiro. Quanta liberdade de expressão.
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