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05/05/2013
A turma do tomate
Rodolpho Motta Lima
Nada mais perverso na política do que a colocação de particulares
interesses partidários acima daqueles que convêm à nação como um todo.
Isso acontece em quase todos os lugares do mundo e revela o grau de
comprometimento social de cada segmento que atua politicamente. A
direita, por ser elitista por natureza, tem essa postura no seu DNA, mas
a esquerda também dá as suas escorregadelas. De qualquer forma, esse
comportamento é, seguramente, um desserviço à cidadania.
Nos últimos tempos, temos assistido a uma parafernália de artigos,
manchetes, colunas e pronunciamentos que dão conta de que o país estaria
em vias de entrar em um perigoso e significativo processo
inflacionário. Compara-se, desonestamente, a situação presente a uma
realidade de muitos anos atrás, semeando a ideia de uma inflação
descontrolada que estaria em vias de mergulhar o país no desastre.
Enxergando na volta da inflação um provável enfraquecimento do
Governo, a chegada desse espectro é saudada com indisfarçável júbilo
pelos opositores e, é claro, amplificada pela mídia que os representa
acintosamente. Ou seja: importa muito menos a estabilidade da economia, a
satisfação das pessoas, a tranquilidade social, e muito mais a
derrubada do Governo.
Se alguém quiser argumentar que é assim mesmo e, que, às vezes,
determinados fins justificam meios menos honestos de “persuasão”, a
aceitação dessa premissa nos dará o direito de acreditar que se podem,
então, fabricar fatos, provocar desconfianças, manipular dados... E ,
por que não?, comprar votos de parlamentares corruptos para permitir a
votação de medidas de alcance social... Adicionalmente, nos conferirá a
obrigação de tentar enxergar, nas entrelinhas, os propósitos escondidos
de cada informação.
O caso do tomate é emblemático. Colocou-se em destaque a elevação de
preços do produto como símbolo de um processo inflacionário em curso,
deixando de lado as razões sazonais específicas que geraram essa
situação. Sei que tucanos, corvos e urubus comem tomate. Deve ser por
isso que o tomate virou um ícone da oposição. Pouquíssimos
esclarecimentos sobre as causas da elevação do seu preço, muitíssimas
reportagens e fotos nos mercados e feiras a mostrar valores
estratosféricos a que chegou um quilo do vilão vermelho. Mas, como era
uma falácia, não resistiu. E o tomate, depois dos 15 minutos de fama,
vai sumindo do noticiário...
Essa turma – que acredita fielmente na lei da oferta e da procura, um
dos fundamentos pérfidos do capitalismo – não usou o seu poder de
comunicação para, por exemplo, conclamar as pessoas a não comprarem o
tomate e a, pelo menos temporariamente, substituírem-no na mesa, o que,
certamente, não constituiria nenhuma catástrofe.
Da mídia da oposição não se espera outra coisa. Dos partidos de
oposição , essa atitude é vista como normal. Que se dane o país, que
exploda a nação, o que importa é o poder: “Nós é que queremos
administrar o preço do tomate”...
A surpresa, se é que existe isso na política, vem dos segmentos que
se dizem aliados governamentais, que cresceram nos últimos anos muito
mais porque foram apoiados pelo Governo Federal do que por terem apoiado
Lula e Dilma, e que, agora, mordidos pela mosca azul do poder,
vislumbram a oportunidade - ou será o oportunismo ? - de sair do barco,
antes ajudando a provocar as ondas de instabilidade.
Sobre a estratégia do Governador de Pernambuco, por exemplo, e do
grupo que alicerça sua candidatura ao Planalto, fala-se claramente na
expectativa – ou será melhor dizer, na torcida – por uma deterioração
econômica que, provocando insatisfação , leve à derrocada do poder e das
atuais políticas. Ele pretende, pelo visto, repetir o caminho de Marina
Silva – agora tentando pegar na Rede todos os peixes possíveis, os de
direita e os de esquerda. Não ouso dizer que se trate de candidaturas
direitistas, mas, políticos experientes que são, é óbvio que os dois
devem estar percebendo – e gostando – do assanhamento com que a mídia
demotucana nacional vem tratando as suas supostas candidaturas. Nenhum
dos dois repudia esse “apoio”, nenhum dos dois denuncia os tucanos como
opositores, os dois flertam com a direita em nome de um projeto de
poder. Nesse quesito, não se diferenciam em nada de nenhuma das alianças
que parecem criticar no âmbito do Governo Federal.
Não é a hora, ainda, de compararmos as candidaturas que já se
apresentam, inclusive a da própria Presidenta. A rigor, não era a hora
nem de se apresentarem candidaturas. Mas o que os brasileiros devem
fazer é ficar bem atentos à distinção entre aqueles que estão empenhados
em dar continuidade às ações sociais que mudaram a cara do país e
aqueles que pretendem vender a ideia do caos e/ou vê-lo instaurado entre
nós , obcecados que estão em destruir o que foi feito – e que eu ainda
acho muito pouco - , em troca da conquista do poder, mesmo que à custa
de escancaradas traições...
É esperar para ver como o processo todo se vai desenrolar. Há umas
fumaças de golpe no ar, só não as enxerga quem não quer... Não um golpe
militar, escancarado, mas subliminar , fruto do conluio de membros do
Legislativo e do Judiciário, sempre com as trombetas da mídia
hegemônica. Eu acho que já está mais do que na hora de rever-se essa
postura política que coloca a governabilidade como dependente de
alianças sem compromisso ideológico.
A verdadeira garantia de governabilidade é a do povo nas ruas,
exigindo a manutenção de suas conquistas. E os tomates? Ora, esses podem
continuar a ser administrados pelos “tomatófilos” de plantão...
Rodolpho Motta Lima. Advogado
formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil)
e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado
pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de
Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente
no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
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