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06/05/2013
As consequências políticas da regressão econômica
Da Carta Maior - 06/06/2013
por Saul Leblon
O conservadorismo brasileiro não tem nada de novo a propor ao país no passo seguinte do seu desenvolvimento.
Exceto dobrar a aposta num modelo cujas vísceras antissociais ganharam transparência vertiginosa na crise mundial.
A saber:
• renúncia a qualquer ordenação pública do desenvolvimento --o que subordina a sociedade aos movimentos pró-cíclicos dos mercados, desguarnecendo-a de salvaguardas tanto na ascensão, quanto no subsequente declínio das curvas de investimento, emprego e renda;
• abertura externa irrestrita a capitais e mercadorias, com redução bruta de tarifas sobre importações, o que implica a renúncia a um projeto industrializante próprio, com consequências trabalhistas e sociais dissolventes;
• extinção das exigências de conteúdo nacional nas compras das estatais, o que esteriliza o pré-sal como alavanca de um derradeiro e decisivo impulso industrializante no Brasil do século 21;
• cortes substantivos no gasto público, o que contrata uma ofensiva contra a rede de segurança social vigente, que inclui da Previdência ao Bolsa Família;
• livre cambismo, com a adoção de um laissez-faire suicida em relação a um preço decisivo da economia em tempos de globalização financeira e produtiva.
Estamos diante de uma recidiva, agora como metástase, da dinâmica que gerou graves e persistentes retrocessos na vida social e econômica do país nos anos 90.(Grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)
A versão 2.0 desse ideário, cujos desdobramentos perduram na forma da infraestrutura em frangalhos, e de um aparelho de Estado ainda tíbio para coordenar as exigências da difícil transição brasileira, foi enunciada pelo economista Edmar Bacha, em debate realizado pelo jornal Valor, na semana passada.
Se Carta Maior insiste nesse tema é por considerar de extrema gravidade que, uma década depois, as forças derrotadas nas urnas desde 2002 admitam que a sua única proposta para a sociedade brasileira é trazer a crise mundial para dentro do país.
E, a partir daí, recompor a plena hegemonia da lógica e dos interesses que representam.
Edmar Bacha não é um nome avulso no colar dos economistas pró-mercados.
Egresso da esquerda, trata-se de um qualificado formulador do projeto tucano. E um dos principais interlocutores do presidenciável Aécio Neves.
Suas ideias carregam a gravidade de um comboio regressivo em marcha batida para 2014.
O que se avizinha não é uma disputa eleitoral corriqueira.
O PSDB e seus assemelhados simplesmente não podem se apresentar ao eleitor com uma plataforma que defende o escalpo econômico e social dos avanços registrados nos últimos dez anos.
A radicalização política embutida nesse retrocesso terá que ser tergiversada na demonização do adversário, na judicialização da democracia, na desqualificação do atual governo e na mutação obscurantista de desafios econômicos em desencanto e medo.
É o que estamos vendo nos dias que correm.
Um dos pressupostos dessa narrativa é ocultar os nexos entre a lógica que jogou o mundo na pior crise do capitalismo desde 29 e a tentativa de restaura-la no país, a partir de 2014.
A outra, indispensável diante da dificuldade em dizer algo ao eleitor popular, é a judicialização escandalosa da democracia.
As togas dominantes na Suprema Corte tem dado demonstrações inequívocas de boa vontade nessa direção.
A terceira pata é a da partidarização assumida do noticiário político e econômico.
É só o começo.
A resistência a essa engrenagem não pode se limitar à mera defesa do que já existe.
Tampouco aderir ao jogo da dissimulação conveniente aos propósitos conservadores em 2014.
A transparência do embate histórico em curso, em escala planetária, é um trunfo decisivo a ser acionado na disputa eleitoral.
Lições históricas somente são aprendidas quando politizadas.
A espoleta da atual crise capitalista foi o recuo desastroso do controle da Democracia sobre o poder do Dinheiro.
O que Bacha está vocalizando em nome do PSDB é um repiquete desse recuo.
Num momento em que as poucas salvaguardas disponíveis já se mostram insuficientes, equivale a contratar uma vaga no cemitério da crise internacional.
Na fala macia de Bacha, a abertura desindustrializante e a livre mobilidade dos capitais formam uma endogamia coerente.
Na verdade, elas capturam a democracia no cativeiro da liberdade dos mercados.
E espremem o metabolismo social nas turquesas de custos palatáveis à eficiência dos negócios.
A alternativa não se encontra disponível em nenhuma modelo de coerência pré-fabricado.
Escolhas tem custos. Rupturas tem preço.
O câmbio que defende o país de importações desindustrializantes, acarreta, pelo menos num primeiro momento, menor afluxo de capitais; encarece importações; sanciona reajustes internos de preços.
É só um exemplo de como o corporativismo e interesses unilaterais são insuficientes para responder aos dias que correm.
Desprovidas de forças políticas que assegurem a coordenação progressista do processo, esses ajustes desembocam em uma espiral demoníaca de impasses e preços desgovernados.
Não encará-los, em contrapartida, empurra o país para o modelo da reiteração neoliberal.
Nos anos 70/80, quando a disposição dos sindicatos do ABC de derrubar o arrocho salarial coincidiu com a saturação de amplas camadas da sociedade brasileira diante da ditadura, os metalúrgicos souberam ir além de seus limites corporativos para liderar uma nova agenda histórica.
Quem será o sujeito político equivalente da travessia que deve desembocar nas urnas de 2014?
50 milhões de brasileiros ascenderam socialmente na escala da renda através das políticas públicas implantadas desde 2003.
A participação dos salários na renda nacional cresceu na década de 2002 a 2012.
Raras vezes, exceto em breves momentos da disputa eleitoral dos últimos anos, essa paleta de forças populares se mobilizou de forma coordenada e contundente.
É incerto o seu comportamento político em um momento em que as conquistas do bolso são chamuscadas por oscilações de preços e desvalorizadas pelo alarmismo conservador.
A encruzilhada que definirá as urnas de 2014 não pode mais prescindir de uma voz alternativa que fale ao discernimento histórico da sociedade.
O desafio é como fazê-lo, antes que seja tarde.
O conservadorismo brasileiro não tem nada de novo a propor ao país no passo seguinte do seu desenvolvimento.
Exceto dobrar a aposta num modelo cujas vísceras antissociais ganharam transparência vertiginosa na crise mundial.
A saber:
• renúncia a qualquer ordenação pública do desenvolvimento --o que subordina a sociedade aos movimentos pró-cíclicos dos mercados, desguarnecendo-a de salvaguardas tanto na ascensão, quanto no subsequente declínio das curvas de investimento, emprego e renda;
• abertura externa irrestrita a capitais e mercadorias, com redução bruta de tarifas sobre importações, o que implica a renúncia a um projeto industrializante próprio, com consequências trabalhistas e sociais dissolventes;
• extinção das exigências de conteúdo nacional nas compras das estatais, o que esteriliza o pré-sal como alavanca de um derradeiro e decisivo impulso industrializante no Brasil do século 21;
• cortes substantivos no gasto público, o que contrata uma ofensiva contra a rede de segurança social vigente, que inclui da Previdência ao Bolsa Família;
• livre cambismo, com a adoção de um laissez-faire suicida em relação a um preço decisivo da economia em tempos de globalização financeira e produtiva.
Estamos diante de uma recidiva, agora como metástase, da dinâmica que gerou graves e persistentes retrocessos na vida social e econômica do país nos anos 90.(Grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)
A versão 2.0 desse ideário, cujos desdobramentos perduram na forma da infraestrutura em frangalhos, e de um aparelho de Estado ainda tíbio para coordenar as exigências da difícil transição brasileira, foi enunciada pelo economista Edmar Bacha, em debate realizado pelo jornal Valor, na semana passada.
Se Carta Maior insiste nesse tema é por considerar de extrema gravidade que, uma década depois, as forças derrotadas nas urnas desde 2002 admitam que a sua única proposta para a sociedade brasileira é trazer a crise mundial para dentro do país.
E, a partir daí, recompor a plena hegemonia da lógica e dos interesses que representam.
Edmar Bacha não é um nome avulso no colar dos economistas pró-mercados.
Egresso da esquerda, trata-se de um qualificado formulador do projeto tucano. E um dos principais interlocutores do presidenciável Aécio Neves.
Suas ideias carregam a gravidade de um comboio regressivo em marcha batida para 2014.
O que se avizinha não é uma disputa eleitoral corriqueira.
O PSDB e seus assemelhados simplesmente não podem se apresentar ao eleitor com uma plataforma que defende o escalpo econômico e social dos avanços registrados nos últimos dez anos.
A radicalização política embutida nesse retrocesso terá que ser tergiversada na demonização do adversário, na judicialização da democracia, na desqualificação do atual governo e na mutação obscurantista de desafios econômicos em desencanto e medo.
É o que estamos vendo nos dias que correm.
Um dos pressupostos dessa narrativa é ocultar os nexos entre a lógica que jogou o mundo na pior crise do capitalismo desde 29 e a tentativa de restaura-la no país, a partir de 2014.
A outra, indispensável diante da dificuldade em dizer algo ao eleitor popular, é a judicialização escandalosa da democracia.
As togas dominantes na Suprema Corte tem dado demonstrações inequívocas de boa vontade nessa direção.
A terceira pata é a da partidarização assumida do noticiário político e econômico.
É só o começo.
A resistência a essa engrenagem não pode se limitar à mera defesa do que já existe.
Tampouco aderir ao jogo da dissimulação conveniente aos propósitos conservadores em 2014.
A transparência do embate histórico em curso, em escala planetária, é um trunfo decisivo a ser acionado na disputa eleitoral.
Lições históricas somente são aprendidas quando politizadas.
A espoleta da atual crise capitalista foi o recuo desastroso do controle da Democracia sobre o poder do Dinheiro.
O que Bacha está vocalizando em nome do PSDB é um repiquete desse recuo.
Num momento em que as poucas salvaguardas disponíveis já se mostram insuficientes, equivale a contratar uma vaga no cemitério da crise internacional.
Na fala macia de Bacha, a abertura desindustrializante e a livre mobilidade dos capitais formam uma endogamia coerente.
Na verdade, elas capturam a democracia no cativeiro da liberdade dos mercados.
E espremem o metabolismo social nas turquesas de custos palatáveis à eficiência dos negócios.
A alternativa não se encontra disponível em nenhuma modelo de coerência pré-fabricado.
Escolhas tem custos. Rupturas tem preço.
O câmbio que defende o país de importações desindustrializantes, acarreta, pelo menos num primeiro momento, menor afluxo de capitais; encarece importações; sanciona reajustes internos de preços.
É só um exemplo de como o corporativismo e interesses unilaterais são insuficientes para responder aos dias que correm.
Desprovidas de forças políticas que assegurem a coordenação progressista do processo, esses ajustes desembocam em uma espiral demoníaca de impasses e preços desgovernados.
Não encará-los, em contrapartida, empurra o país para o modelo da reiteração neoliberal.
Nos anos 70/80, quando a disposição dos sindicatos do ABC de derrubar o arrocho salarial coincidiu com a saturação de amplas camadas da sociedade brasileira diante da ditadura, os metalúrgicos souberam ir além de seus limites corporativos para liderar uma nova agenda histórica.
Quem será o sujeito político equivalente da travessia que deve desembocar nas urnas de 2014?
50 milhões de brasileiros ascenderam socialmente na escala da renda através das políticas públicas implantadas desde 2003.
A participação dos salários na renda nacional cresceu na década de 2002 a 2012.
Raras vezes, exceto em breves momentos da disputa eleitoral dos últimos anos, essa paleta de forças populares se mobilizou de forma coordenada e contundente.
É incerto o seu comportamento político em um momento em que as conquistas do bolso são chamuscadas por oscilações de preços e desvalorizadas pelo alarmismo conservador.
A encruzilhada que definirá as urnas de 2014 não pode mais prescindir de uma voz alternativa que fale ao discernimento histórico da sociedade.
O desafio é como fazê-lo, antes que seja tarde.
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