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10/11/2013
Como a mídia protegeu e protege Serra e Kassab
Do Brasil 247 - 10 de Novembro de 2013 às 19:25

Em alguns casos, como na revista Veja desta
semana, chega a ser patético; o "último a saber" das fraudes não é o
ex-prefeito Gilberto Kassab, nem seu antecessor José Serra, que nomeou o
secretário Mauro Ricardo, ex-chefe dos fiscais corruptos, mas sim
Jilmar Tatto; Folha, usou um truque mais ardiloso, denunciado pela
ombudsman Suzana Singer: disse que o "prefeito sabia", sem indicar que
se tratava do ex-prefeito Kassab, e não do atual Fernando Haddad; será
que uma manipulação tão escancarada não é percebida pelo leitor?
Nesse período, ocorreram as fraudes gigantescas do tamanho de alguns elefantes. No entanto, Kassab não viu nada de errado, assim como Mauro Ricardo e muito menos José Serra. Então, de quem é a culpa? Numa reportagem de Veja deste fim de semana, o "último a saber" não é o ex-prefeito Kassab, nem Ricardo e nem Serra, mas sim o secretário de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto. O motivo: um dos fiscais investigados, Moacir Reis, que não está entre os quatro presos, que compõem o coração da quadrilha, é sócio da esposa de Tatto num estacionamento. Ou seja: Veja tenta jogar no colo de Tatto um escândalo que pertence, sobretudo, a Serra, Kassab e Mauro Ricardo. Manipulação escancarada, que fica evidente até na seleção das imagens – na reportagem, não há uma foto sequer do tucano, do ex-secretário ou do presidente do PSD.
Se Veja manipula, a Folha não fica para trás. Dois dias atrás, quando o chefe da quadrilha, Ronilson Bezerra, foi flagrado num grampo dizendo que o prefeito com quem trabalhou – Kassab – tinha ciência de tudo, a Folha encontrou uma maneira original de noticiar o caso. Manchetou "Prefeito sabia de tudo, diz fiscal preso, em gravação" e não "Ex-prefeito".
Um detalhe que faz toda a diferença. A tal ponto que a Suzana Singer percebeu e publicou uma coluna, neste domingo, apontando que a Folha induziu seu leitor a erro, dando a entender que Fernando Haddad – e não Kassab – era quem tinha ciência de tudo. Leia abaixo sua análise:
Sujeito oculto
A manchete de sexta-feira passada da Folha --"Prefeito
sabia de tudo, diz fiscal preso, em gravação"-- induzia o leitor a
erro. O prefeito de São Paulo é Fernando Haddad, mas a referência no
grampo era a seu antecessor, Gilberto Kassab.
O
título partiu da transcrição de um telefonema em que o auditor fiscal
Ronilson Bezerra Rodrigues dizia que deveriam ser convocados para depor
"o secretário e o prefeito com quem trabalhei", porque "eles tinham
ciência de tudo".
Ronilson foi subsecretário da Receita no governo Kassab e, na atual gestão, foi diretor na SPTrans de fevereiro até junho.
O
fiscal não cita nominalmente o ex-prefeito, mas é fácil deduzir de quem
ele está falando. Foi na gestão anterior que Ronilson ocupou o cargo de
zelar pela arrecadação de impostos, o que lhe teria possibilitado atuar
na "máfia do ISS" --esquema de cobrança de propina que pode ter causado
um prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres da cidade.
"A Folha optou
por transcrever a declaração do fiscal de forma literal, já que ele não
citou nenhum nome e exerceu funções de confiança tanto na gestão atual
como na anterior", diz a Secretaria de Redação.
O
excesso de zelo ficou só na manchete, já que a hipótese de que a frase
do fiscal pudesse ser uma referência a Haddad não foi explorada na
reportagem. O "outro lado" foi apenas com Kassab, que classificou as
declarações de falsas, mas não cogitou que o fiscal estivesse falando de
outra pessoa.
O
jornal foi mais realista que o rei, numa cobertura bem delicada. O
escândalo do desvio de impostos, que veio à tona no fim de outubro,
tinha tudo para render apenas dividendos ao atual prefeito. Embora a
investigação tenha começado com Kassab, foi Haddad que revelou a
quadrilha. Bastaram, porém, três dias para que surgisse um grampo
citando Antonio Donato, secretário de Governo.
Como
a investigação continua, é provável que apareçam novas escutas. Elas
não são prova de culpa e devem ser tratadas com todo o cuidado, mas sem
distorções.
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