JornalGGN - ter, 17/12/2013 - 11:49
Sugerido por Assis Ribeiro
Da BBC
Ignacio de los Reyes
Pediatra, ex-ministra, ex-presidente, pioneira do programa ONU Mulheres e, agora, novamente presidente do Chile.
Michelle Bachelet vai voltar ao Palácio de La Moneda após uma vitória acachapante sobre a rival conservadora Evelyn Matthei.
A líder da centro-esquerda teve 62,15%
dos votos, ainda que a eleição tenha sido marcada pela alta abstenção -
apenas 41,6% dos eleitores compareceram.
Mas o que está por trás de tamanho êxito
de Bachelet? A BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, fez essa pergunta
a vários especialistas.
Legado do primeiro governo
Bachelet chegou a presidência do Chile em 2006, após ser ministra da Saúde e depois ministra da Defesa no governo Ricardo Lagos.
“Ela exerceu uma liderança especial, mais empática com a pessoas”, segundo a cientista política Pamela Figueroa.
“O apoio (a Bachelet) não é um apoio de
partidos políticos, mas da população”, diz Figueroa, dizendo que essa
popularidade vem sobretudo das classes populares, em razão de suas
políticas para as crianças, a maternidade e de inclusão social.
Decisões como a de nomear um ministério
com metade de homens e metade de mulheres também supreenderam a classe
política, acostumada a dividir o gabinete segundo as forças que
compunham a coalizão governista.
Apesar de momentos críticos, como as
manifestações de estudantes secundaristas que abalaram os primeiros
meses de seu governo, Bachelet terminou o governo com 80% de
popularidade.
Experiência na ONU
Em setembro de 2010, Bachelet tornou-se a
primeira diretora-executiva da ONU Mulheres, a nova agência das Nações
Unidas para a igualdade de gênero.
Bachelet se afastou da política chilena e colocou suas energias no cargo, que exercia em Nova York.
“O cargo a favoreceu, já que não
precisava opinar sobre certos questionamentos a seu governo, como o caso
do Transantiago (rede de transporte da capital, muito criticado) ou o
terremoto de 2010”, disse Figueroa.
Em 2013, Bachelet regressou ao Chile e anunciou o que todos já esperavam: seria a candidata à presidência.
Novo discurso, novo programa
Bachelet voltou ao Chile com um novo
programa de governo, incorporando algumas das principais queixas dos
movimentos sociais nos últimos anos.
A principal demanda é uma reforma
radical do sistema de educação. Bachelet prometou um sistema público que
seja gratuíto e tenha qualidade.
Alguns dos principais líderes do
movimento estudantil, que saíram às ruas no governo Sebastián Piñera, se
candidataram ao Parlamento na coalizão de Bachelet. Entre eles, Camila
Vallejo e Karol Cariola.
“Bachelet teve a capacidade de perceber
de maneira muito concreta o que estava acontecendo na sociedade chilena.
Talvez tenha sido a distância, por estar em Nova York”, afirma o
sociólogo Manuel Garretón, da Universidade do Chile.
“Ela percebeu que o país mudou e nesse
sentido pode cristalizar a demanda por mudança: a demanda por uma nova
constituição, uma reforma da educação. A mesma agenda do movimento
estudantil”, disse.
Bachelet também incorporou a seu
programa demandas de movimentos ambientais, gays e indígnenas. Também
diz estar aberta a uma nova lei sobre o aborto e ao debate sobre o
casamento gay.
Personalidade
Além do capital politico, Bachelet usou outra arma para derrotrar Matthei: seu carisma.
Com sorriso fácil, Bachelet tem ainda a
seu favor “a modéstia, a capacidade de escutar as pessoas, nunca com uma
palavra hostil em suas respostas”, diz Garretón.
Sua história pessoal também comove os
chilenos. Seu pai, Alberto Bachelet, um general da Força Aérea, morreu
na prisão logo após o golpe contra o presidente Salvador Allende.
Bachelet e a mãe foram enviadas a um centro de detenção e em seguida
para o exílio.
Mas a sua personalidade nem sempre foi
vista com bons olhos. Em alguns momentos, ela foi tachada como fraca. No
primeiro turno, o candidato Marco Enríquez-Ominami disse que as
eleições não eram “um concurso de simpatia”.
A derrocada da direita
Além dos méritos pessoais, Bachelet contou com a baixa popularidade e a crise interna da direita chilena.
Os partidos Renovação Nacional (RN) e
União Democrática Independente (UDI) não conseguiram capitalizar o fato
de ter no Palácio de La Moneda o primeiro presidente de centro-direita
desde o retorno da democracia.
Bachelet impôs à direita o pior
resultado eleitoral desde o retorno das eleições. A própria Evelyn
Matthey disse que só “um milagre” conseguiria mudar os resultados no
segundo turno.
Agora, a direita terá quatro anos paara
planejar sua volta ao La Moneda. O único consolo, neste momento, é que
não há reeleição no Chile e o nome de Bachelet não estará nas cédulas de
votação da próxima eleição.
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