18/12/2013
Cadê a mensagem?
Aécio anuncia 12 pontos de campanha, mas não diz como pretende chegar ao eleitor
Paulo Moreira Leite
Sem esclarecer se estava anunciando um plano de governo ou uma simples compilação de pontos programáticos, Aécio Neves lançou uma plataforma de 12 pontos, ontem, em Brasília.
Apesar da coreografia e da boa figura de Aécio nessas ocasiões, achei o conteúdo imprudente, para falar o mínimo.
Falar em ética e
denunciar a corrupção para quem vai entrar na campanha de 2014 com a
camisa do PSDB é um exercício arriscado.
No ano que vem o mensalão PSDB-MG irá a julgamento, com dois resultados possíveis.
Ou seus responsáveis
serão condenados, o que não irá fazer bem a imagem do partido. Ou serão
inocentados, o que pode dar razão a quem diz que o PSDB comete as mesmas
delinquências do que seus adversários – a diferença é que tem amigos
poderosos capazes de garantir sua impunidade, o que é até um agravante
do ponto de vista de quem se apresenta como defensor da moralidade,
vamos combinar.
Há outro caso cabeludo em pauta, também.
Até agora não se
conseguiu abafar a denúncia do propinoduto tucano, que envolve pagamento
de propinas volumosas, contas na Suiça e muito mais – o que pode tornar
a pauta “corrupção” e “ética” uma armadilha para Aécio.
O debate não é apenas este.
Embora tenha
coincidido com o anúncio de que José Serra desistiu de disputar a
presidência, medida que pode contribuir para amenizar a luta interna
dentro do PSDB, a cerimônia ocorreu num mau momento de sua campanha.
Num país onde os
principais meios de comunicação estão engajados num esforço comum para
impedir a reeleição de Dilma, o que inclui um tratamento amistoso a
Eduardo Campos e, se for necessário, até a Randolfe Rodrigues, do PSOL.
Aécio pode contar com uma ambiente midiático favorável.
Isso inclui um tratamento respeitoso, sem acidez exagerada nem questões artificialmente inconvenientes.
Ninguém lembrou
que, deixando de lado detalhes de cenário e coreografia, a cerimonia de
ontem foi uma nova versão de um evento já regular no cronograma do
PSDB, onde periodicamente se anuncia que “agora” Aécio irá se afirmar
como o candidato de oposição.
Mas o fato é que,, Aécio sequer formalizou a candidatura como um fato irreversível. Fraqueza? Astúcia? Você decide.
O certo é que Aécio
passou o início de 2013 como terceiro colocado nas pesquisas e só voltou
ao jogo depois que ficou claro que Marina Silva não seria capaz de
transformar a Rede em partido nem aceitaria ingressar numa legenda que
lhe oferecesse a cabeça de chapa. Marina, que era a principal
concorrente a um segundo turno, tem mostrado até agora uma grande
disciplina tática. Sua prioridade é derrotar Dilma e o PT.
Aécio não possui,
até agora, uma mensagem para chegar até lá. Falta-lhe um argumento para
falar com as ruas, onde estão aqueles brasileiros que, mesmo tendo uma
visão positiva do governo Dilma, e até apontando intenções de votos para
uma vitória do governo em outubro, também deixam claro que querem
mudanças. Além da denúncia da corrupção – testada e reprovada tanto em
2006 como em 2010 – Aécio ainda não achou um bom motivo para pedir voto
para os brasileiros.
Ao contrário do que
ele disse ontem, falar de economia não é covardia num país que enfrenta o
desemprego mais baixo da história e mantém uma política de distribuição
de renda. As taxas de crescimento seguem positivas, ainda que baixas.
Para a maioria dos eleitores, é isso o que conta – e seguirá assim
enquanto a tragédia que os jornais anunciam diariamente continuar fora
da experiência real dos cidadãos.
Ao cobrar direitos
autorais tucanos pelo Bolsa Família, como fez ontem, Aécio apenas
reforça uma polarização inconveniente para sua candidatura. O esforço já
deu errado outras vezes. Se prefeitos tucanos e petistas têm méritos
indiscutíveis nessa iniciativa, foi o governo Lula que transformou a
distribuição de renda numa política de governo, que beneficia 50 milhões
de brasileiros, integrou-se ao crescimento do mercado interno e outras
medidas de promoção dos mais humildes.
Nessa situação, toda
tentativa de diminuir o papel do governo Lula-Dilma no Bolsa Família
ajudará a lembrar a postura tucana dos primeiros anos, quando dizia que
era um programa eleitoreiro, que até estimula a preguiça dos
brasileiros. Chato, né.
Após três derrotas
presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva achou o caminho para o Planalto
quando mostrou que poderia fazer mais pelos eleitores brasileiros,
especialmente os mais pobres. O colapso do segundo mandato de FHC falava
por si.
Expondo sua
mensagem, a campanha de 2002 colocou a questão social na agenda do
debate eleitoral, lançando um movimento irresistível que já se
anunciava vitorioso nos primeiros meses do ano.
Como Lula em 2002, em
2014, a oposição irá realizar uma quarta tentativa para vencer o
condomínio Lula-Dilma. Enfrenta uma presidenta muito mais popular do que
FHC em seu mesmo momento, como mostra uma comparação de Fernando
Rodrigues.
Mesmo longe do patamar
anterior a junho, a aprovação atual de Dilma se encontra em 43%.
Fernando Henrique tinha 37%, na mesma época.
Em 2002, quando Lula derrotou o candidato do PSDB José Serra, a aprovação de FHC se reduzira a 13 pontos negativos.
Num cenário que se
mostra inteiramente diverso, ao menos até aqui, Aécio precisa da atitude
humilde necessária para encontrar uma mensagem capaz de atrair milhões
de eleitores que procuram mudanças e podem aceitar novidades – mas,
agarrados a melhorias obtidas até aqui, não exibem a menor disposição de
abandonar conquistas certas em troca de promessas duvidosas.
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista