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22/12/2013
STF virou um partido político?
Autor: Miguel do Rosario
As primeiras notícias deste domingo são alarmantes. Na Folha, me deparo
com a seguinte manchete: Congresso inerte é risco à democracia, diz
ministro do STF (Luis Barroso).
Concordo com a frase. Com
certeza, milhares de brasileiros repetem-na diariamente em botequins,
cafés e universidades. Só que não ela não cai bem num ministro do
Supremo, ainda mais para justificar uma invasão de poderes. Barroso diz
que o STF tem de “empurrar a história”. Sim, ministro, mas para onde?
Para o abismo?
O STF acabou de protagonizar a mais vergonhosa
de suas atuações em décadas, que foi o julgamento da Ação Penal 470,
onde condenou sem provas e se submeteu covardemente às ordens da mídia, e
agora vem posar de paladino da democracia?
Ao apelar a uma
suposta “voz das ruas”, o STF tenta se redimir da vergonha que foi a
Ação Penal 470 e salvar-se do naufrágio de seu prestígio segurando uma
bola de chumbo, pois ele apenas atropela os instrumentos que a
democracia pressupõe para avaliar a vontade do povo, e que não inclui,
definitivamente, enquetes subjetivas empíricas sobre o que as ruas
pensam.
Ainda neste domingo, ficamos sabendo (via Dora Kramer,
Estadão) que a ex-ministra do STF, Ellen Gracie, se filiou ao PSDB no
dia 5 de outubro. Gracie foi nomeada para o STF por Fernando Henrique e
sua filiação tem coerência, portanto. Mas é uma prova de que FHC, nesse
ponto, foi muito mais esperto que Lula: nomeou tucanos orgânicos para o
Supremo (Gilmar Mendes e Ellen Gracie).
A direita está cada vez
se aproximando mais do Judiciário. Falta agora a esquerda entender que
não é inteligente nomear raposas para tomar conta do galinheiro.
Ainda segundo a colunista do Estadão, Joaquim Barbosa já admite que
pretende seguir carreira política. Dora Kramer é direta: Barbosa estuda
entrar numa legenda de oposição ao PT. Numa pirueta de incrível cinismo,
Barbosa diz apenas cuidar para que sua atitude não ponha em dúvida o
seu comportamento no julgamento do mensalão. Imagina se não cuidasse!
A coluna de Kramer é um balão de ensaio. Tem toda a pinta de ter sido
profundamente discutida, tanto com Barbosa quanto com os “conselheiros
mais frequentes” do ministro, que são “marcadamente de oposição”.
“Sobre a hipótese de vir a compor uma chapa como candidato a vice-presidente, não abre nem fecha portas.”
“A melhor porta de entrada na política, na avaliação resultante das
consultas feitas pelo ministro, seria uma candidatura ao Senado pelo Rio
de Janeiro.”
Ao final do texto, Dora vaza o sonho da direita.
Ao responder enquete sobre se aceitaria ou não Joaquim Barbosa como seu
parceiro eleitoral, Aécio Neves responde o seguinte (citado por Dora):
“Nosso respeito pelo ministro é tão grande que sequer aventamos essa
hipótese”.
O amor não é lindo?
Dora, a cupido, ainda
bota uma azeitoninha na empada de Aécio, ao acrescentar que o PSDB “anda
precisando de reforço justamente no Rio, domicílio eleitoral do ainda
presidente do Supremo.”
Não poderia encerrar esse post,
contudo, sem lembrar dois artigos do Código de Ética da Magistratura,
conforme publicado no site do Conselho Nacional de Justiça:
Art. 7º A independência judicial implica que ao magistrado é vedado participar de atividade político-partidária.
Art. 8º O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade
dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o
processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de
comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou
preconceito.
PS: Esses dois artigos deveriam ser tatuados em
partes visíveis no corpo dos juízes, assim que entrassem no STF; talvez
isso evitasse vexames, como foi ver Ayres Brito assinando prefácio de
livro de Merval Pereira.
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