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11/02/2014
Jornal GGN - ter, 11/02/2014 - 06:00
- Atualizado em 11/02/2014 - 16:47
Criminalista dos mais conhecidos,
Antonio Carlos Mariz de Oliveira espantou-se com o nível atual de
violência. "Eu entendo a violência do assaltante: ele rouba. Mas e a
violência de quem não está sequer praticando crime, mas se torna
criminoso de momento, desrespeitando valores? É a banalização do mal.
Esse é um problema penal? De repressão? É muito mais grave do que o
sistema penal apresenta: é um problema patológico".
A violência difusa tornou-se habitual,
nos jogos de futebol, nas manifestações de rua, trazendo mais
combustível na fogueira da violência institucionalizada do crime
organizado e da polícia.
O país está enfermo. E há muitas causas
para essa enfermidade. "Está se assistindo a essa violência
incompreensível e nós apenas bradando por cadeias. Que se prenda, mas
que se discutam as razões disso".
***
Mariz salienta a responsabilidade da TV
aberta na criação desse clima, especialmente os telejornais
sensacionalistas. Mas não exime também a imprensa escrita dessa
responsabilidade.
"A televisão, como mais eficiente
sistema de aculturamento, chegando onde a escola não chega, está
prestando um desserviço à sociedade brasileira, tornou-se um eficiente
meio de desagregação moral. Não porque mostra beijos de dois
homossexuais, mas porque mostra que os problemas da vida são resolvidos à
bala e o valor argentário é o mais relevante".
Continua ele: "A TV não veio só para o
Ibope, mas para servir à sociedade como instrumento de formação. Mas a
TV teatraliza, instiga e assinala para a sociedade que a única resposta
possível ao crime é a prisão. Então o binômio crime-prisão é visto como
sagrado. Ai do Judiciário se não prender naquele caso em que, sem
processo, sem julgamento, ela julga culpado. E a TV faz questão de ir
além da lei e ela mesmo aplica penas crueis, perpétuas, porque o mero
suspeito é exposto à execração pública, antes mesmo de estar sendo
investigado".
"A mídia pratica isso e nós, em nome da
liberdade de imprensa, que é confundida com irresponsabilidade social. A
imprensa tem que ter uma responsabilidade social", constata ele.
***
Há toda uma indústria cultural de
exploração da violência, nos enlatados, nos games. Na ponta política,
intelectuais radicais irresponsáveis, comodamente instalados em suas
cátedras jogando a rapaziada no fogo, brincando de realidade ideológica
virtual, sem pensar nas consequências para a vida de dezenas de rapazes
inexperientes. E tudo isso em uma sociedade que, historicamente,
destacou-se como das mais violentas do planeta.
***
Denuncia Mariz que o sistema prisional
faliu. Há 200 mil pessoas nos presídios ou inocentes ou aguardando
julgamento, tornando-se prato feito para o aliciamento pelo crime
organizado. Na outra ponta, enormes dificuldades em enfrentar os
verdadeiramente criminosos.
É tarefa quase impossível reverter essa
maldição nacional. Até hoje, os melhores programas de combate à
criminalidade juntaram a educação, o lazer, o apoio aos jovens
infratores com a repressão necessária ao crime.
Mas são exemplos isolados.
Séculos de escravidão, de política
resolvida a bala, de vendetas, de jagunços, legaram uma herança quase
impossível de ser extirpada.
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