sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Contraponto 14.426 - "O mal que a cultura da sonegação faz ao Brasil"

 

15/08/2014

O mal que a cultura da sonegação faz ao Brasil

 

Diário do Centro do Mundo - 15/08/2014

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Stellan

Stellan
Paulo NogueiraStellan Skarsgard é um ator sueco.

Aos 63 anos, um dos favoritos do cineasta Lars von Trier, tem uma carreira vitoriosa que lhe trouxe fama e dinheiro.

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Recentemente, ele concedeu uma entrevista na qual reafirmou seu amor pela Suécia.

“Vivo na Suécia porque o imposto é alto, e assim ninguém passa fome. A saúde é boa e gratuita, assim como as escolas e as universidades”, disse ele.

“Você prefere pagar imposto alto?”, lhe perguntaram.

“Claro. Se você ganha muito dinheiro, como eu, você tem que pagar taxas maiores. Assim, todo mundo tem a oportunidade de ir para a escola e para a universidade. Todos têm também acesso a uma saúde pública de qualidade.”

Skarsgard nasceu e cresceu numa cultura que valoriza o pagamento de impostos. Por isso a Suécia é tão avançada socialmente.

Impostos, como lembrou ele, constroem hospitais, escolas, universidades. Pagam professores e médicos da rede pública, além de tantas outras coisas positivas para qualquer sociedade.

Essa cultura vigora também na Alemanha. Recentemente, o presidente do Bayern foi para a cadeia por sonegar imposto.
 
Agora, vejamos o Brasil.

Há anos, décadas a mídia alimenta uma cultura visceralmente oposta.

Imposto, você lê todo dia, é um horror. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo (o que é mentira). Imposto é uma coisa injusta.

Bem, a mensagem é: sonegue, se puder. Parabéns, caso consiga.

Não poderia haver coisa mais danosa para os cidadãos do que esta pregação diuturna da mídia.

Você os deforma moralmente. Tira-lhes o senso de solidariedade presente em pessoas como o ator sueco citado neste artigo.

Além de tudo, a cultura da sonegação acaba chancelando os truques praticados pelas grandes companhias de mídia para escapar dos impostos.

Considere o caso célebre da sonegação da Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.

Nestes dias, vazou toda a documentação relativa ao caso. Uma amostra já tinha vindo à luz – na internet, naturalmente – algum tempo atrás, num furo do site Cafezinho.

Só a cultura da sonegação pode explicar o silêncio sinistro que cerca este escândalo fiscal.

Até aqui, a Globo não deu uma única satisfação à sociedade. Não se desculpou, não se justificou. É como se nada houvesse ocorrido.

Também a Receita Federal, até aqui, não disse nada. Mais uma vez, é como se nada houvesse ocorrido no âmbito da receita.

Nenhuma autoridade econômica, igualmente, se pronunciou. De novo, é como se nada houvesse ocorrido numa área tão vital para a economia como a arrecadação de tributos.

E a mídia?
Ponderei que era um caso importante, e ele aparentemente concordou porque logo a Folha fez uma reportagem sobre o assunto.

Uma e apenas uma. Em seguida, a sonegação da Globo sumiu da Folha para nunca mais retornar.
Se conheço as coisas como funcionam nas redações, um telefonema de um Marinho para um Frias – as famílias são sócias no Valor — pôs fim à cobertura.

Volto a Stellan Skarsgard.

Em todo país socialmente desenvolvido, pagar impostos é uma coisa sagrada. E sonegá-los é um ato de lesa sociedade, passível de punição exemplar.
 
Uma das tarefas prementes de uma administração sábia é desfazer essa lavagem.
Quando as palavras do ator sueco encontrarem eco no Brasil, seremos uma sociedade desenvolvida.
 Paulo Nogueira. Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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