03/01/2015
A pá de cal na carreira política de Aécio
Jornal GGN - sex, 02/01/2015 - 12:15 Atualizado em 02/01/2015 - 14:21
A carreira política de Aécio Neves - ou ao menos suas pretensões de
voltar a se candidatar à presidência da República - terminará nos
próximos dias.
Sua declaração recente, apresentando o governador de São
Paulo Geraldo Alckmin como o próximo candidato do PSDB, foi mais que um
gesto de elegância: respondeu a uma avaliação realista do que o espera
pela frente.
Não se sabe bem o que virá da Lava Jato.
Autoridade com acesso integral ao inquérito informa o seguinte:
-
Não há como conter vazamentos, que partem dos advogados, delegados e procuradores e do próprio juiz, que está dando publicidade a todos os depoimentos. Especificamente no caso da capa da Veja, o vazamento foi do advogado do doleiro Alberto Yousseff.
-
Até agora, os vazamentos foram seletivos, aliás "completamente seletivos", diz ele. Quando o inquérito total vier à tona, haverá "bombas de hidrogênio", supõe que envolvendo próceres da oposição. Não avançou sobre quem estaria envolvido, portanto não se sabe se a bomba atingirá Aécio ou não.
Mesmo que não atinja, o fantasma que persegue Aécio atende pelo nome de "ação penal 209.51.01.813801-0".
Em 8 de fevereiro de 2007 foi deflagrada a Operação
Norbert, visando apurar denúncias de lavagem de dinheiro na praça do Rio
de Janeiro. Conduzida por três jovens brilhantes procuradores - Marcelo
Miller, Fabio Magrinelli e José Schetino - foi realizada uma operação
de busca e apreensão nos escritórios de um casal de doleiros do Rio de
Janeiro.
No meio da operação, os procuradores se depararam com duas bombas.
A primeira, envolvia o corregedor do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Carpena do Amorim.
Carpena foi peça central no assassinato de reputação da
juíza Márcia Cunha, trabalhando em parceria com a Folha de S. Paulo no
período em que o jornal se aliou a Daniel Dantas. Coube a Carpena endossar um dossiê falso preparado por um lobista ligado a Dantas, penalizando uma juíza séria.
Ao puxar o fio da meada de uma holding, os procuradores
toparam com Carpena. O caso foi desmembrado do inquérito dos doleiros,
tocado pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e resultou na
condenação do ex-juiz a três anos e meio de prisão.
O segundo fio foi puxado quando os procuradores
encontraram na mesa dos doleiros uma procuração em alemão aguardando a
assinatura de Inês Maria, uma das sócias da holding Fundação Bogart
& Taylor - que abriu uma offshore no Ducado de Linchestein.
Os procuradores avançaram as investigações e constataram
que a holding estava em nome de parentes de Aécio Neves: a mãe Inês
Maria, a irmã Andréa, a esposa e a filha.
Como o caso envolvia um senador da República, os três
procuradores desmembraram do inquérito principal e encaminharam o caso
ao então Procurador Geral da República Roberto Gurgel. Foi no mesmo
período em que Gurgel engavetou uma representação contra o então senador
Demóstenes Torres.
O caso parou na gaveta de Gurgel.
No próximo mês deverá ser apreciado pelo atual PGR
Rodrigo Janot. Há uma tendência para que seja arquivado. Alega-se que
Aécio não seria titular da conta - que está em nome de familiares - mas
apenas beneficiário. Certamente não se levantará a versão jabuticaba da
"teoria do domínio do fato", desenvolvida pelo STF (Supremo Tribunal
Federal).
Arquivado ou não, certamente será a pá de cal nas pretensões políticas de Aécio.
___________
Comentário
Por Clever Mendes de Oliveira
Talvez Aécio Neves não tenha paciência para esperar
Luis Nassif,
A segunda razão diz respeito ao fato que Aécio Neves conseguiu transformar-se em um político carismático. Não sou contra o político carismático desde que o carisma ajude o político a se desenvolver como político, principalmente galgando cargos de executivo, e desde que o carisma seja um instrumento que facilite a interlocução do político com o eleitor e desde que o carisma não seja utilizado para enganar o povo, em uma condição de desprezo ou desconsideração pelo eleitor. O Aécio Neves vem utilizando o carisma dele nessa condição. Aliás, os slogans do partido que ainda são utilizados em campanhas do PSDB, alguns com menos ênfase, porque serviriam para reforçar o PT, são utilizados exatamente porque menosprezam o eleitor e sabem que esses slogans não vão ser questionados pelo povo.
Aécio Neves percebeu que ele não precisa criar essas construções intelectuais que dão aparência de verdade para enganar o povo. O carisma dele assegura que as pessoas serão convencidas daquilo que ele diz mesmo que o que ele diz não pareça fundamentado em anos de estudos sociológicos como são os slogans de campanha do PSDB que eu relacionei acima.
Agora, essa história de conta no estrangeiro para mim não tem o menor valor. Não é porque eu considero que este lado de malversação de dinheiro público é sempre uma história mal contada que só deveria sair na mídia com a sentença transitado em julgado do Poder Judiciário. O problema desta história de dinheiro no estrangeiro da família de Aécio Neves é porque quem a propaga desconhece a particularidade do casamento de Inês Maria, a mãe de Aécio Neves, com o banqueiro Gilberto Faria, filho do fundador do Banco da Lavoura, Clemente Faria.
O Banco da Lavoura foi o maior banco do país no final da
década de 40 e do Banco da Lavoura surgiram dois bancos, o Banco Real
com Aloysio Faria e que depois foi incorporado pelo ABN AAMRO que depois
foi vendido para o Santander e o Banco Bandeirantes com Gilberto Faria.
Gilberto Faria era pai de Clemente Faria Neto que faleceu em
12/07/2012 em um acidente aéreo e era grande empresário dividindo com o
irmão Gilberto Faria Júnior a direção de um grupo empresarial que reunia
cerca de 20 empresas entre elas a Minasmáquinas, revendedora de
caminhões, máquinas pesadas e automóveis de luxo da marca Mercedes-Benz,
e das rádios Alvorada, em Belo Horizonte, Sulamérica Paradiso, do Rio, e
Jovem Pan, de Santos. Além disso, Clemente Faria Neto antes do segundo
casamento dele fora casado com Ângela Gutierrez. Não é de se estranhar
que o grande empresariado brasileiro se encaminhou para apoiar Aécio
Neves. E é interessante ver que esses empresários todos investem em
meios de comunicação. O pai de Clemente Faria Neto, Gilberto Faria,
padastro de Aécio Neves era dono (ou detinha parte) da Transamérica.
O problema de Aécio Neves será permanecer durante quatro anos apresentando atestado de bom comportamento. E não basta isso para o sucesso dele. É preciso que o PT fracasse no segundo governo da presidenta Dilma Rousseff.
Clever Mendes de Oliveira
BH, 02/01/2015
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