quinta-feira, 2 de março de 2017

Nº 20.918 - "Ponto a ponto, as mentiras de Aécio em sua defesa no escândalo de Furnas. Por Joaquim de Carvalho"


02/03/2017


Ponto a ponto, as mentiras de Aécio em sua defesa no escândalo de Furnas. Por Joaquim de Carvalho



Diário do Centro do Mundo - Postado em 01 Mar 2017


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por : Joaquim de Carvalho


Este artigo está sendo republicado.

Joaquim de CarvalhoAo se defender da delação do senador Delcídio do Amaral, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, repete os mesmos argumentos utilizados dez anos atrás, quando a Lista de Furnas se tornou pública. O objetivo é desqualificar a denúncia e quem fez a denúncia.

Suas declarações não se sustentam nos fatos.

O que diz Aécio: “A Lista de Furnas já teve seu autor condenado por mais de 7 anos.”

Fato: O autor da lista é Dimas Toledo, então diretor de Engenharia, Construção e Planejamento de Furnas, conforme atestou perícia da Polícia Federal. Ele nunca foi condenado.

Aécio Neves deveria estar se referindo a Nílton Monteiro, lobista e delator do esquema de Furnas.

Nílton Monteiro não é autor da lista, mas diz ter recebido de Dimas Toledo quatro listas assinadas por eles, idênticas, com o nome de 156 políticos da base de sustentação de Fernando Henrique Cardoso, que na campanha de 2002 receberam dinheiro desviado de Furnas por 91 empresas prestadoras de serviços ou fornecedora de equipamentos.

Lobista e operador assumido de esquemas de corrupção, Nílton tinha como missão entregar os originais a políticos que encabeçavam a lista, como forma de pressioná-los para que negociassem com o presidente Lula a manutenção de Dimas na Diretoria de Furnas.

Nílton guardou um dos originais, e depois que estourou o escândalo do Mensalão de Brasília, em 2005, entregou o original à Polícia Federal. A lista foi periciada e, em 2006, sua autenticidade comprovada.

Por que, então, Aécio mencionou a condenação de sete anos?

Nílton Monteiro foi condenado em primeira instância num processo que não tem ligação direta com a Lista de Furnas. A origem do processo é uma nota promissória, no valor de 3 milhões de reais, com assinatura de advogado Felipe Amodeo reconhecida em cartório. Quando o advogado morreu, Nílton se habilitou no inventário para receber a nota, a família não concordou e apresentou queixa contra Nílton. Nílton diz que a perícia, realizada pelo Instituto de Criminalística de Minas Gerais, é falsa.

Seu advogado acredita que a condenação deva cair na segunda instância, pois todas as denúncias de Nílton, desde o esquema da Samarco no Espírito Santo, no ano 2000, são contestadas a princípio, e confirmadas depois. Nílton sustenta que o advogado Amodeo e Dimas tinham negócios, e Nílton ficou com a nota, como credor por serviços que ele só revelaria no caso de uma delação premiada no Ministério Público Federal. “Se federalizarem a investigação, eu conto tudo”, diz.

O que diz Aécio: “(Nílton) cumpriu pena em Minas Gerais. É ainda investigado e processado por inúmeros outros crimes.”

Fato: Nílton Monteiro nunca cumpriu pena, já que não há condenação definitiva contra ele. Ele ficou na cadeia por dois anos, em prisão preventiva, decretada na maior parte do tempo quando Aécio estava em campanha para presidente da República.

“Eles queriam destruir minha reputação, para abafar a Lista de Furnas, e com o poder que tinham em Minas Gerais conseguiram fazer com que maus policiais, maus promotores e maus juízes e desembargadores me colocassem na cadeia. Foi uma prisão política. Queriam passar a imagem de que eu era bandido, e confundir as pessoas”, afirma Nílton.

O que diz Aécio:  “E esta Lista de Furnas na verdade não é uma, são inúmeras listas de furnas. Para todos os gostos”.

Fato: Existe uma só Lista de Furnas, cujo original foi periciado pela Polícia Federal e serviu de base para a denúncia que a procuradora da república Andréia Bayão apresentou no Rio de Janeiro em 2012, depois de inquérito da Polícia Federal que durou seis anos. Foram onze as pessoas denunciadas por ela, por crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, todas sem foro privilegiado, entre elas Dimas Toledo, o ex-deputado Roberto Jéfferson e o próprio Nílton Monteiro.

Aécio e mais de uma centena de políticos só não entraram na denúncia porque têm foro privilegiado e a investigação contra eles está parada na Procuradoria Geral da República, em Brasília.

O que diz Aécio: “(A lista) foi constituída para chantagear determinados agentes políticos, inclusive do PT.

Fato: Neste esquema, o PT está fora. Todos os políticos da lista eram da base de Fernando Henrique Cardoso, inclusive Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. O objetivo da lista era mesmo chantagem, mas de políticos como Aécio Neves, para que negociassem com Lula a permanência de Dimas em Furnas. Por três anos, deu certo, e há vários testemunhos, entre eles o de Roberto Jéfferson e agora o de Delcídio do Amaral, de que Aécio pediu a Lula que mantivesse Dimas em Furnas.

No passado, a versão de Aécio prevaleceu sobre os fatos. E agora?



Sobre o Autor

Joaquim de Carvalho. Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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