09/03/2017
Temer tem que se afastar de Cunha
Brasil 247 - 9 de Março de 2017
Alex Solnik
Ele é um preso que escreve artigos em jornal.
Ele é o preso que envia perguntas para ferrar seu ex-amigo Temer toda vez que abre uma vaga no governo para a qual ele quer nomear um amigo.
Ele é o preso que orienta sua tropa de choque a se movimentar e ocupar posições no governo, comandada por Carlos Marun e André Moura. E até a peitar os senadores do PMDB, ameaçando-os se não dividirem direito a bufunfa partidária.
Ele é o preso que nomeia ministros.
Foi cassado, perdeu a presidência da Câmara, está preso, mas não perdeu poder. Nem a tropa de choque.
Cunha não só faz parte do governo Temer, como é um dos homens mais fortes do governo Temer.
E a sua força é proporcional aos segredos que detém – alguns dos quais já expôs em suas duas listas de perguntas a Temer - e ao seu temperamento imprevisível.
Com sua movimentação, Cunha desafia a decisão da Justiça de afastá-lo de funções públicas, mas Temer não se importa com isso e até o prestigia, colocando em postos-chave pessoas de sua preferência ou confiança.
É correto o presidente da República prestigiar uma pessoa acusada de inúmeros e graves ilícitos praticados na vida pública e que foi presa para não continuar praticando-os?
A proximidade com um ex-deputado acusado de corrupção, extorsão, chantagem, venda de medidas provisórias e outros delitos não contamina o governo?
Até que ponto é bom para o país o presidente da República prestigiar um político que responde por uma penca de crimes?
A situação pode levar a especulações das quais a mais óbvia é que Temer prestigia Cunha porque teme novas revelações bombásticas que podem encurtar sua temporada no Planalto.
Se quiser acabar com as especulações e mostrar que não tem medo de Cunha basta romper publicamente com ele e tirar do governo todos os seus aliados.
Enquanto Temer prestigiar Cunha vai passar para a opinião pública a mensagem de que aprova os seus atos considerados crimes pelo STF.
Ou Temer se afasta de Cunha de uma vez ou fica próximo para sempre de um dos maiores corruptos da política brasileira.
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos".
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