11/10/2017
Requião: os analfabetos convenientes vendem o Brasil
A Globo é o "partido das cândidas candidaturas avulsas"...
Do Conversa Afiada - publicado 11/10/2017
Do Senador Roberto Requião:
Analfabetos convenientes, petróleo imperial e cândidas candidaturas avulsas
Roberto Requião[1]
Talvez estejamos vivendo hoje um dos momentos mais sombrios da história pátria.
Contraditoriamente, nesse tempo em que a celeridade e a universalidade da informação rompem e desvelam qualquer fronteira, nesse tempo assistimos ao esplendor da ignorância, da desinformação e do obscurantismo.
Talvez fosse assim o tempo todo, mas a restrição e elitização dos meios de comunicação impedissem que o distinto público se fizesse ouvir além dos círculos que frequentava.
A internet destaramelou a língua e destravou a inibição de dezenas de milhares de brasileiros.
É livre falar, é só falar, diria Millôr Fernandes.
E o que se fala?
Umberto Eco, irritadíssimo com o que lia na internet, disse que as redes sociais haviam dado voz a uma legião de imbecis.
No entanto, pelo menos no que toca o caso brasileiro, não é bem assim; quer dizer, não foi apenas a um grupo de iletrados, gente grosseira e abrutalhada que as redes sociais deram voz e visibilidade.
O analfabetismo político não é um privilégio daqueles supostamente incultos, rústicos. Ou dos leitores da Folha de S. Paulo que opinam com desinibição notável sobre qualquer assunto, do futebol à política, atropelando pelo caminho as relações internacionais, a cultura, a religião e a filosofia.
O analfabetismo político, nesses dias tão trevosos da história pátria, dá os ares de sua desgraça no Parlamento, no Executivo, no Judiciário, no Ministério Público, na Academia, nas Igrejas, nas ditas altas rodas da dita alta sociedade.
E claro, entroniza-se com fanfarras e foguetório nas redações de nossa gloriosa mídia, notadamente a mídia comercial e monopolista.
(Deixei de lado os economistas de mercado, os comentaristas da Globonews e da CBN porque quero bem a alguns analfabetos e não quero alinhá-los a tal companhia)
Berthold Brecht, com agudeza que o fez um dos mais reverenciados intelectuais do século XX, definiu, para sempre, o que é um analfabeto político.
Para Brecht, o pior de todos os analfabetos é o analfabeto político, pelo extenso mal que causa à sociedade.
Diariamente, os corredores desta casa e da casa ao lado atulham-se de pessoas assim.
O Brasil à beira da extinção, e os corredores desta casa, as galerias, os nossos gabinetes e as comissões sufocados por reivindicações corporativas. Aumento de vencimentos, ampliação de privilégios, isenções, exceções à regra, criação de castas, licença para o porte de armas, autorização para matar.
O Brasil à beira da extinção e os ocupantes dos assentos desta casa e da casa vizinha voltados para o próprio umbigo, cegos para a realidade das coisas.
Permutam, negociam uma pinguela, uma estrada, uma cisterna, um posto de saúde, uma agência do Banco do Brasil ou da Caixa, a nomeação de apaniguados, de cabos eleitorais, de compadres...... pela soberania nacional.
Que se lhes dá, desde que lucrem pixulecos, uma changa, uma peita, uma molhadura?
Para o analfabeto político, pouco importa se vendem as nossas terras e as nossas florestas.
Se entregam todo nosso petróleo no próximo dia 27 de outubro e o resto das nossas riquezas minerais até o final ano.
Se arrasam o parque industrial brasileiro.
Se fecham toda Indústria de Defesa
Se, sob os aplausos da mídia venal, leiloam as hidrelétricas a preços de pipoca, entregando-as (pasmem, ó analfabetos privatizantes!) para empresas controladas pelo Estado francês, chinês e italiano.
Que se dá a eles, esses analfabetos, se os gastos públicos são congelados por inacreditáveis vinte anos.
Se provocam a contração da economia e depois comemoram a queda da inflação e a redução dos juros.
Se liquidam direitos e pulverizam conquistas.
O Brasil à beira da extinção como Nação soberana, e os analfabetos políticos, no Judiciário, no Ministério Público e na Polícia Federal, do Tribunal de Contas da União, da Defensoria Pública Federal com a cabeça enterrada na areia de um suposto combate messiânico à corrupção.
Esses analfabetos políticos graduados não atilam que a grande corrupção é a entrega do país aos interesses imperiais, sempre a preço vil, sempre sob trâmites suspeitos, sempre promovida por gente suspeita, por gente escolada em todo o tipo de compra e venda.
São ou não são tremendos analfabetos políticos, tapados absolutos o juiz, o procurador, o policial federal, o defensor público, o ministro do TCU, os ministros de tribunais superiores que, por exemplo, veem passivamente, inertes o governo - todo ele atolado em denúncias de corrupção- vendendo o patrimônio público a preços ínfimos com absoluta liberdade de ação?
Ora, senhoras e senhoras justiceiros, queridas e queridos. Será que não ocorre às senhoras e aos senhores que são pessoas que deveriam estar na cadeia que estão à frente da venda das hidrelétricas, do petróleo, dos minérios, de terras, da floresta amazônica, dos portos, aeroportos e estradas?
As senhoras e os senhores acreditam que só desta vez eles estão agindo honestamente? Realmente acreditam?
Para mim, esta é a maior prova de que o combate à corrupção é apenas um biombo, um pretexto deslavado para a submissão total, irrestrita do Brasil à globalização imperial.
E pergunto, e faço uma pergunta incômoda: não seriam também corruptos os que fecham os olhos para a liquidação da soberania nacional? Não seriam eles cúmplices dessa falcatrua inominável, abjeta?
O pior analfabeto
é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político não sabe, não quer saber ou se sabe é conivente, porque é um quinta coluna, um traidor, que a desnacionalização do sistema elétrico e do setor do petróleo, que a privatização da infraestrutura aeroportuária, rodoviária, ferroviária e hidroviária, que a desindustrialização e a primarização da economia brasileira levará o país a se transformar em numa mera.... ......sub-província associada das grandes potencias, renunciando para sempre a soberania, a dignidade, o respeito, a autoestima, a honra, o desenvolvimento e a qualidade de vida para sua gente.
Mas......
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
O analfabeto político é tão idiota que se apaixona perdidamente, prontamente pelos políticos que dizem que não são políticos; pelos políticos que também dizem que odeiam a política.
O analfabeto político está sempre pronto para aderir ao primeiro picareta que surja na esquina desfraldando as bandeiras da moralidade, da ética e da política sem partidos.
Os analfabetos políticos adoram os “administradores”, os “técnicos”, os “empresários de sucesso”.
Os analfabetos políticos têm queda por apresentadores de televisão, técnicos de vôlei, procuradores da República, juízes federais, ex-ministros do Supremo que namoram candidaturas à Presidência da República. Especialmente se forem do “partido da Globo”, também chamado de “partido das cândidas candidaturas avulsas".
E não adianta os trágicos exemplos da história sobre esses salvadores da pátria, esses iluminados, esses apolíticos.
O analfabeto político, em sua ignorância impermeável, ceratinosa está sempre alerta, eternamente vigilante para apoiar até mesmo um Luciano Huck, um Dória ou -quem duvida? - um Alexandre Frota.
Ou a ex-apresentadora da Globo, Valéria Monteiro, que anunciou a pretensão de se candidatar à Presidência da República e que está à procura de quem lhe dê uma legenda e um programa de governo......
Oh, Deus misericordioso!
Senhoras e senhores, arremato com a parte final do poema de Brecht sobre o analfabeto político:
Não sabe o imbecil que
da sua ignorância política
nasce a prostituta,
o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio
das empresas nacionais ou multinacionais.
[1] Roberto Requião é senador da República no segundo mandato. Foi 3 vezes governador do Paraná, prefeito de Curitiba, secretário de estado, deputado estadual, industrial, agricultor, oficial do Exército Brasileiro, advogado e organizador comunitário. É graduado em direito e jornalismo com pós-graduação em urbanismo e comunicação.
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