segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Contraponto 724 - Golpe sujo


16/11/2009


Quem é que dá golpe sujo?

Tijolaço Brizola Neto - segunda-feira, 16 novembro, 2009 às 8:18

Ontem, abstive-me de comentar a vasta cobertura que O Globo fez das eleições presidenciais de 1989. Não houve espaço, nas várias páginas que ocupou, para falar uma linha sobre a manipulação do debate final entre Lula e Collor. A Globo publica tudo, mas só sobre os outros.

Não costumo ficar batendo em teclas que todos já sabem, para explorá-las polticamente. E não o faria, também, sobre o tardio reconhecimento de paternidade feito por Fernando Henrique Cardoso, sobre o qual prefiro lembrar o ditado de que “antes tarde do que nunca”. Qualquer um de nós, neste momento, deseja antes de tudo que o rapaz, hoje com 18 anos, supere as consequências de sua situação de “exílio” político.

O que está em questão não é isso. Os mesmos jornais que publicaram a história de Lurian, filha de Lula, de Monica Lewinsky e Bill Clinton e as supostas “festinhas” do primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi não têm o direito de criticar quando se menciona os casos semelhantes aos que eles, seletivamente, resolvem esconder.

Quando Collor explorou o episódio da filha de Lula, O Globo publicou um editorial chamado “O Direito de Saber”. Transcrevo um trecho:

“Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.

A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.

É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.”

Comentando o assunto, sobre o qual silenciou durante mais de uma década, o jornalista Josias de Souza diz que, em 1998, o PDT lançou mão de um “expediente sujo” ao mencionar o que todos sabiam num texto publicado na internet.

Eu estaria totalmente de acordo se fosse uma questão exclusivamente privada. Mas não era. Envolveu a ação do maior império de comunicação brasileiro, a Rede Globo, que promoveu o “exílio” na Europa da mãe do menino para abafar o caso. A Globo é concessionária de um serviço público federal, não é uma quitanda da esquina que independe do Presidente da República.

Os jornais nunca se julgaram praticando “expedientes sujos” ao falarem dos negócios do filho de Lula. Se forem escusos, que seja responsabilizado na forma da lei. O irmão do presidente foi detido pela Polícia Federal e soltou por falta de qualquer prova de prática de ilícito. Ninguém achou “expediente sujo” da Polícia. Josias de Souza não achou “expediente sujo”.

Lamento ter sido obrigado a tocar neste tema, em razão do ataque sofrido pelo PDT. O que importa, o que é de interesse público, neste caso, não é o rapaz, que agora está exposto a algo que não deveria ser motivo de constrangimento, e nem mesmo a atitude pessoal de Fernando Henrique Cardoso em só agora reconhecê-lo, mesmo nunca tendo dúvidas da partenidade (o que poderia ser uma razão, até que os exames confirmassem ou desmentissem). Estes são problemas privados.

Interessa, sim, o comportamento de uma empresa concessionária do Governo que foi, desde o primeiro momento, parceira ativa desta atitude de acobertamento: a Globo. À atitude da emissora, que é impiedosa com seus adversários, Josias de Souza não é capaz de dedicar uma palavra sequer pela cumplicidade com um político e presidente que era de seu bem-querer.

Por isso, reproduzo o excelente post feito por Luiz Carlos Azenha, em seu blog Viomundo:

A cara de pau de Josias de Souza (e o filho de FHC)

por Luiz Carlos Azenha

“O texto de Josias de Souza sobre a decisão de FHC de reconhecer o filho com a jornalista da TV Globo omite todas as questões essenciais:

1. Por que a mídia poupou FHC durante 18 anos, se o nascimento do filho era um segredo de Polichinelo?

2. Por que soubemos do filho de Renan Calheiros com uma jornalista quando a criança era bebê, mas do filho de FHC só soubemos “oficialmente” depois de 18 anos?

3. Por que soubemos da suspeita de que uma empreiteira ajudava a sustentar o filho bebê de Renan Calheiros mas nada soubemos sobre quem pagou as contas do filho de FHC durante 18 anos?

4. Quem pagou para manter o filho e a mãe do filho de FHC exilados na Europa durante 18 anos?

5. FHC comprou o silêncio da mídia?

6. A Globo recebeu vantagens para exilar mãe e filho na Europa?

7. O senador FHC exilou mãe e filho para poder concorrer à Presidência?

O texto de Josias de Souza a respeito é um exemplo acabado de jornalismo vagabundo. Ele apresenta um elenco de casos históricos, a maioria dos quais não tem qualquer similitude com o de FHC.

Ele não diz que a “aventura” de Lula foi de um homem então viúvo e que o Jornal Nacional, em 1989, colocou no ar uma reportagem com Miriam, a mãe de Lurian, acusando Lula de ter pedido que ela abortasse a filha, denúncia depois incluída também na propaganda eleitoral de Fernando Collor de Melo. Na ocasião, o jornal O Globo chegou a escrever um editorial pregando que o eleitor tinha O Direito de Saber.

Ninguém, de fato, está livre de seus “impulsos biológicos”. Porém, pessoas distintas reagem de formas distintas. Alguns dão nome aos filhos, outros permitem que a criança seja registrada como de pai desconhecido (FHC), exilam mãe e filho na Europa (FHC) e contam com o acobertamento da mídia durante 18 anos (FHC).”
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