28/11/2009
Os problemas de ObamaCarta Capital 27/11/2009 18:37:07
Delfim Netto
O presidente Barack Obama voltou esta semana a pedir paciência ao povo americano, diante do insucesso de seu governo em combater a estagnação econômica e reduzir as taxas de desemprego. Ele ainda não completou o primeiro ano de seu mandato e tem feito um grande esforço para convencer os americanos de que não concorreu à Presidência para “salvar bancos” ou “intervir nos mercados financeiros”.
Embora tenha passado os dez primeiros meses envolvido exatamente na tarefa de tirar o sistema financeiro do atoleiro da crise (herdada dos governos anteriores), Obama tem insistido que seu compromisso é com os cidadãos, que, não tendo produzido a crise, estão carregando as suas consequências, pois perderam seus empregos, suas casas e a esperança de retomar uma atividade.
O governo tem uma equipe competente, chefiada por Paul Volcker, que, amparada em enormes recursos, debelou o pânico nos mercados financeiros e pouco a pouco procura reinventar o crédito bancário. A economia real, da produção e do emprego, não dará sinais de reanimação, no entanto, enquanto não se restabelecerem os níveis de confiança mínimos necessários para induzir a retomada dos investimentos e, principalmente, a disposição do consumidor.
Com maior frequência até que Lula, o presidente americano tenta se explicar aos contribuintes e convencer o desconfiado cidadão de que, se ele não voltar a frequentar o supermercado, a economia não decola. Não está funcionando (ao contrário do que aconteceu no Brasil) e a principal causa parece ser a incapacidade do setor financeiro de despertar do trauma da desconfiança que continua travando a atividade econômica: não voltou a oferta de crédito (e nem a demanda!). Enquanto isso, o povão está inquieto, refugiando-se como pode no seguro-desemprego.
No primeiro aniversário da crise, Obama foi a Wall Street, onde tudo começou, e fez um importante discurso no histórico Federal Hall, que, apesar do conteúdo denso (e do tom das advertências), não foi muito divulgado entre nós. Vale a pena conhecer alguns tópicos de sua fala, principalmente quando ele trata das irresponsabilidades dos governos (Executivo e Congresso) e dos agentes do mercado, sem nem mesmo desculpar as próprias vítimas.
Depois da afirmação inicial, afastando a suspeita de que é a favor da estatização de bancos e empresas, ele eleva o tom: “Os contribuintes americanos não causaram a crise e não obstante foram eles, através do governo, que tiveram de sofrer as medidas extraordinárias para estabilizar a indústria das finanças. Os contribuintes estão carregando a maior parte do peso da crise e os danos do seu resgate: perderam os empregos, perderam as casas e perderam oportunidades. Não é certo, nem responsável, que as empresas, financeiras ou não, que foram salvas e recuperadas com a ajuda do governo tentem fugir à obrigação de trabalhar pela recuperação de todos e na construção de um sistema mais estável, a favor da prosperidade nacional partilhada com mais justiça”.
Particularmente, estou convencido de que o conteúdo desse discurso terá lugar de destaque na historiografia da “primeira grande crise econômica do século XXI”. Vejamos o registro que faz o presidente dos Estados Unidos das causas essenciais do colapso das finanças mundiais, que levou ao desemprego milhões de trabalhadores e está aumentando a tragédia da fome nos países pobres do planeta (mais 90 milhões de famélicos este ano em consequência da crise, segundo a ONU):
“O que aconteceu há um ano não foi resultado apenas de não haver regulação ou leis adequadas; não foi apenas o fracasso dos controles e das previsões. A falta de regras sensíveis, muitas vezes opostas aos desejos dos que dizem defender o livre mercado, levou ironicamente à necessidade de um resgate muito mais intrusivo do que qualquer ação que todos nós jamais supusemos que viesse a ser necessária. Houve também um fracasso da responsabilidade, na realidade o fracasso de várias responsabilidades, que permitiu que Washington se convertesse num local onde todos os problemas – inclusive os estruturais de nosso sistema financeiro – foram ignorados em lugar de ser resolvidos. Foi um fracasso de responsabilidades que levou os compradores de casas e os vendedores de derivativos, uns e outros, a assumir riscos pelos quais não poderiam responder e que não deveriam ter assumido. Houve um fracasso coletivo de responsabilidades em Washington, em Wall Street e nos Estados Unidos. E esse fracasso de responsabilidade nos levou a um passo do colapso total do nosso sistema financeiro, há um ano”.
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