23/11/2009
Conferência de Comunicação: mentiras e meias verdades da mídia
Vermelho - 23 de Novembro de 2009 - 13h14
Dentro de poucos dias estará sendo realizada a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que setores do empresariado midiático estão tentando boicotar, por motivos óbvios. De uns dias para cá, os órgãos de imprensa conservadores intensificaram as matérias contrárias à realização da Confecom. Jornais e canais de televisão se valem da velha técnica da mentira muitas vezes divulgada até que vire uma verdade.
Por Mário Augusto Jakobskind*, no Direto da Redação
É o caso da matéria de O Globo, que para rebater tese do PT sobre o atual marco regulatório das comunicações, a ser apresentada na Confecom, chama para opinar Carlos Alberto Di Franco, da Universidade de Navarra, notoriamente vinculado ao grupo ultraconservador Opus Dei. O que se poderia esperar de sua opinião a não ser uma crítica sem sentido, como toda a matéria em si do jornal, manipulador por excelência?
No mesmo diapasão, outras publicações se valem de mentiras e meias verdades para tentar indispor a opinião pública contra os movimentos sociais e governos de países onde a legislação midiática está em discussão, como na Argentina, onde depois de muitas discussões o Congresso aprovou uma nova legislação disciplinando o setor e esvaziando o poder das grandes corporações. Está sendo assim também no Equador, quando o Congresso discute uma nova legislação midiática.
No jogo da manipulação entra em cena a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para “denunciar” o que a entidade empresarial considera “perigo para a liberdade de imprensa”, um sofisma para esconder o verdadeiro objetivo, ou seja, a defesa incondicional do lucro fácil das grandes empresas midiáticas.
A propósito da SIP, acabou de ser escolhido para a presidência do conselho da entidade Alejandro Aguirre Baca. Este senhor é diretor do Diário das Américas, um jornal editado em Miami vinculado à extrema direita estadunidense e aos setores mais reacionários das oligarquias latino-americanas. Na equipe de colaboradores encontram-se figuras notoriamente vinculadas aos serviços de inteligência dos Estados Unidos e a grupos de extrema direita do exílio cubano.
Aguirre Barca não vai deixar em paz Cristina Kirchner, o presidente equatoriano Rafael Correa e qualquer outro dirigente latino-americano que ousar democratizar os meios de comunicação. Já estão fazendo coro com ele os grandes proprietários de veículos de comunicação destas bandas como João Roberto Marinho, os Mesquitas, de O Estado de S. Paulo, e os Frias, da Folha de S.Paulo, entre outros.
Mas se o leitor imagina que o esquema do conservadorismo midiático se resume à SIP está muito enganado. A criminalização dos movimentos sociais brasileiros, sobretudo do MST, se insere no contexto da manipulação midiática.
Nas últimas semanas, sobretudo depois do episódio da Cutrale, uma transnacional do agronegócio que exporta laranja, a grande mídia e a direita parlamentar representada pela bancada ruralista do Congresso conseguiu abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o que já foi feito há anos, e não deu em nada, ou seja, as supostas verbas do governo recebidas pelo MST. Em um só momento, os parlamentares que assinaram o pedido da CPI colocaram em questão o fato da Cutrale estar plantando laranjas em terras roubadas do Estado brasileiro.
Para se entender melhor a manipulação e o linchamento midiático que vem sofrendo o MST vale uma navegada na Internet, mais precisamente acessar o site da Abag, a Associação Brasileira do Agronegócio (http:/www.abag.com.br).
Neste endereço o leitor ficará sabendo que a Globo Comunicação e Participações e a Agência Estado (do grupo O Estado de S. Paulo) são integrantes da Associação, juntamente com empresas transnacionais como a Monsanto, Bayer e Syngenta, entre outras. O leitor será informado também que o colunista global Arnaldo Jabor este ano foi um dos palestrantes na abertura do congresso dos empresários de agronegócio. Será por quê?
As Organizações Globo e o grupo O Estado de S. Paulo, mais do que simples apoiadores do setor de agronegócio, são partícipes, ou seja, têm interesses que os lucros do setor sejam cada vez maiores, mesmo que isso aconteça em detrimento da agricultura familiar. Como o agronegócio precisa se expandir, muito em função da crise econômica mundial quem está na frente (como os trabalhadores sem terra) deve ser varrido. A mídia conservadora tem papel de destaque.
Por estas e muitas outras é que a leitura sobre a SIP e a criminalização do MST, bem como os comentários de Jabor sobre os mais variados temas devem ser melhor entendidos depois de se conhecer os detalhes mencionados neste artigo. Da mesma forma que os posicionamentos da SIP sobre liberdade de imprensa.
* Mário Augusto Jakobskind é jornalista
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