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18/01/2013
Relação entre Lula e Haddad dá nó na mídia tradicional
Prefeito de São Paulo vai realizando gestão
hiperativa; em menos de três semanas no cargo, resgatou diálogo com
pobres e classe média, embargou uma obra rica, suspendeu contratos
suspeitos, atacou as enchetes, articulou-se com cidade vizinhas e abriu a
delicada discussão sobre a renegociação das dívidas municipais; além
disso, recebeu seu maior aliado e deixou-se fotografar ao lado dele;
para alguns, essa lealdade é imperdoável
Dois dias atrás, Haddad recebeu na sede municipal seu maior aliado e permitiu que se tirassem fotos do encontro – para a mídia tradicional, essa foi, sem dúvida, a grande novidade.
Pela recepção a Lula, Haddad foi chamado, nesta sexta-feira 18, de "pau mandado" pela certamente principal colunista política do jornal Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde. Em editorial, o concorrente O Estado de S. Paulo descreveu a cena do ex-presidente sentado à mesa de reuniões do gabinete do prefeito para chegar, com outras palavras, à mesma conclusão da "inversão de papéis": "Fernando Haddad - eis o "pequeno detalhe" - está à disposição de Lula desde quando este o pinçou do Ministério da Educação e do celibato eleitoral para devolver ao PT o governo da maior cidade brasileira, perdido em 2004". Na véspera, O Globo, do Rio de Janeiro, destacou em sua primeira página que estava sendo aplicada em São Paulo, a partir da reunião entre Lula, Haddad e dez secretários municipais "a teoria do poste".
Nota-se pela listagem de seus primeiros atos como prefeito que Haddad fará uma administração hiperativa. Ele tem almoçado em seu próprio gabinete, vai cumprindo uma jornada diária de trabalho superior a 12 horas, despacha com entre três e quatro secretários simultaneamente, para que as áreas afins a um determinado problema ajam em coordenação e, conforme prometeu em campanha, procura ser transparente.
Para a mídia tradicional, esse prefeito real praticamente não existe. A partir de uma fotografia, ele é o "pau mandado" e segue sendo apenas "um poste".
Por outro ângulo, bem diverso do enfocado pelos jornais de papel, o que Haddad fez ao, na prática, estender a Lula o tapete vermelho da Prefeitura, não foi nada além que deveria ter sido absolutamente esperado por todos. Alguma vez Haddad encobriu o fato de que Lula é, sim, seu maior mentor e foi seu principal cabo eleitoral? Houve momento em que o prefeito deixou de expressar admiração pelo ex-presidente, com quem gosta de lembrar ter trabalhado por cinco anos diretamente? A quem Haddad procurou, logo em seguida à vitória, para agradecer pelo apoio, se não Lula no Instituto Lula, no bairro do Ipiranga?
Ao 247, na quinta-feira 17, quando já se mostravam as primeiras repercussões midiáticas das cenas de Lula em seu gabinete, o prefeito expressou surpresa. "Não reparei no que eles (os jornais) disseram, mas os jornais podem falar o que quiserem", disse. "O que foi mesmo?", perguntou ele, para abrir um leve sorriso ao saber da "teoria do poste" resgatada por O Globo. "Ora, se eu não posso receber na Prefeitura uma referência da política brasileira como o ex-presidente Lula, posso fazer o que?", rebateu, com ironia. O prefeito, além de não se preocupar com as maledicências, não vê, até agora, qualquer problema no que fez. Exatamente porque não há mesmo problema nenhum.
Como se viu, porém, a mídia tradicional gostou da fotografia produzida na reunião de uma hora com o ex-presidente. O que esse setor da sociedade na verdade não gosta é da lealdade política de Haddad para com Lula. Uma lealdade do mesmo tipo da que une a presidente Dilma Rousseff a seu antecessor. Eles fazem parte do mesmo campo político, dependem uns dos outros e não escondem de ninguém suas ligações. Qual é a novidade?
A crítica que procura impingir em Haddad o estigma do "pau mandado" poderia ter sucesso caso o prefeito não estivesse, efetivamente, cumprindo o papel para o qual foi eleito. O elenco das primeiras movimentações dele no cargo, porém, joga esse estigma por terra.
Haddad é mesmo um, digamos, lulista. Não esconde. Mas igualmente já vai se revelando um prefeito dedicado e de posições firmes. O que alguns já não querem mostrar.
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