.31/03/2014
Aécio e Eduardo
A estratégia do tucano contribui para consolidar a cultura democrática. A de Campos baseia-se
no velho personalismo
por Marcos Coimbra
A prevalecer o quadro hoje
desenhado, faremos neste ano uma eleição presidencial diferente de todas
as outras desde a redemocratização. Pela primeira vez, os dois
principais candidatos são genuínos representantes de seus partidos.
Do lado do PT, isso não é novidade e
Dilma Rousseff está escalada. Vem do PSDB a inovação. Está claro que é
cedo para decretar que chegaremos a outubro com as intenções de voto no
padrão de hoje. Mas as pesquisas são unânimes ao mostrar que, somados,
os candidatos dos demais partidos mal alcançam 10%. Em outras palavras, a
polarização entre PT e PSDB tem boa chance de se repetir.
Desta vez,
eis a questão, os tucanos caminham para apresentar algo que não têm
desde Mario Covas, um candidato do partido. Fernando Henrique Cardoso
foi lançado e se reelegeu praticamente sobre a alcunha de “homem do
real”. Em 1994 e 1998, seus eleitores mal sabiam a sua filiação
partidária. Estivesse filiado a qualquer outro, o resultado não seria
diferente.
Nas duas eleições das quais participou,
José Serra foi candidato de si mesmo. Os correligionários tinham de
ouvi-lo na televisão para se inteirar de suas pretensões e propostas. Em
2010, tanto mandava e desmandava que levou o PSDB para onde quis:
associou-o ao moralismo conservador e ao que de mais reacionário existe
na política e na sociedade brasileiras.
Geraldo Alckmin era desprezado pela elite
tucana e foi escolhido para ser derrotado por Lula. Nunca expressou o
sentimento da cúpula e das bases de seu partido (salvo, talvez, em
Pindamonhangaba).
Agora, não. Aécio Neves caminha para a eleição como candidato genuíno do PSDB. Para o bem e para o mal.
Isso fica claro no modo como responde ao
dilema que angustia os tucanos desde 2002, o de como lidar com a
“herança de Fernando Henrique Cardoso”. Ao pensarem em termos
eleitorais, Serra e Alckmin fizeram o lógico: esconderam a herança de
FHC e tentaram se desvencilhar da impopularidade do ex-presidente. Como
chegou a dizer Serra em 2010, no ápice da desfaçatez: “Eu sou o Zé que
vai continuar a obra do Lula”.
Aécio, ao contrário, faz tudo para
associar sua imagem àquela de FHC. Suas propostas, seus assessores e seu
discurso têm Fernando Henrique escrito por todos os lados, a ponto de
ensejar especulações a respeito da participação do ex-presidente como
companheiro de chapa (algo impensável nas candidaturas de Serra).
Importa pouco se Aécio age assim por obrigação ou desejo.
Se ele se oferece ao posto de continuador da “herança de Fernando
Henrique” por convicção ou para assegurar a vaga de candidato do
partido.
O fato é que o faz. Torna-se assim um “legítimo tucano”,
expressão da legenda e não de si mesmo.
É o oposto de Eduardo Campos, cuja candidatura é a enésima
encarnação de um fenômeno recorrente em nossa história eleitoral, o
personalismo daqueles que se apresentam como “indivíduos notáveis” e se
creem dotados de atributos especiais. Nada há de estranho em estar ao
lado de Marina Silva, outra dessas “personalidades” transbordantes de si
mesmas, que se projetam acima dos partidos e pedem um cheque em branco
ao eleitor (pretensamente garantido por seus “bons propósitos”).
Do modo como está
formulada, a candidatura de Aécio traz uma contribuição para a
consolidação de nossa cultura democrática. O pernambucano aposta nos
preconceitos antipartidários e no velho estereótipo de que, na escolha
eleitoral, o importante é “a pessoa do candidato”. O mineiro não esconde
de que lado está e a quem está ligado. Sem discutir sua motivação, o
relevante é o fato de educar o eleitor, enquanto o outro quer se
aproveitar de seu equívoco.
Dizê-lo não é avaliar a utilidade
estratégica das opções de ambos. “Tucanizar-se” pode ser (muito) nefasto
para as pretensões eleitorais de Aécio, enquanto fingir-se
“apartidário” pode ser uma estratégia esperta de Campos. Ou vice-versa.
Nada disso deve, porém, ter consequências
de curto prazo nestas eleições. Mantidas as tendências conhecidas e a
se considerar o cenário da disputa a seis meses do pleito, a chance de
qualquer um dos dois, independentemente do que fizerem, é pequena. Dilma
Rousseff é a favorita.
A discussão concentra-se no que deve acontecer no médio e
longo prazos. Nesse horizonte, quem faz a coisa certa é Aécio Neves. Se
não tomar cuidado, o futuro de Campos é ser mais um jovem político
promissor perdido no meio do caminho. A estrada está cheia deles.
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista