O World Trade Center, prédio empresarial de luxo às margens da
Marginal Pinheiros, em São Paulo, sedia até o fim da tarde de hoje (25) o
6º Congresso Brasileiro de Pesquisa, que reúne especialistas em dados e
estatísticas de todas as áreas – e, como não poderia deixar de ser em
ano de disputa pela Presidência da República, também os profissionais
das pesquisas de opinião e eleitorais.
Representantes de Ibope, Vox
Populi, Datafolha e Sensus foram convidados para uma mesa de debate
sobre as tendências do eleitorado em um ano que acumula, além do pleito,
a realização da Copa do Mundo da Fifa e a perspectiva de manifestações
de rua inspiradas pela mobilização de junho de 2013.
A mesa, porém, embora batizada de “Debate sobre o cenário da eleição
presidencial 2014″, poderia ter outro nome: “Como derrotar Dilma
Rousseff?”. Mediado por Emy Shayo, analista do banco norte-americano
J.P. Morgan, que também redigiu a maior parte das perguntas feitas aos
convidados, o debate explorou monotematicamente as fragilidades da
candidatura petista à reeleição e ditou fórmulas, com base nos
resultados das últimas pesquisas de opinião, sobre como enfraquecer a
campanha governista. O público, composto principalmente por empresários,
profissionais da área e jornalistas, embarcaram nos “testes de
hipótese” propostos pela organização e seguiram a mesma linha em seus
questionamentos.
Regidos pela assessora do banco, os debatedores apresentaram
conclusões importantes para a plateia.
Petrobras e rating do Brasil, por
exemplo, são temas “para o Valor Econômico, para os
participantes deste fórum, mas muito complicados para o povão”, de
acordo com Márcia Cavallari, do Ibope. Já as manifestações contra a Copa
do Mundo, segundo os debatedores, podem desestabilizar o governo desde
que alcancem o público “desejado”.
“É garantida a confusão durante a Copa. Estou na bolsa de apostas com
150 mil pessoas na rua durante a Copa”, torce Ricardo Guedes, do
Sensus. O resultado em campo não importa: Mauro Paulino, do Datafolha,
ressaltou que não houve mudança no comportamento dos eleitores após a
vitória na Copa das Confederações, por exemplo, mas destacou que “a
chance de atingir o governo é havendo problemas na execução”.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa,
também foi descartado como elemento-surpresa para favorecer a
oposição porque sua suposta imagem de impoluto não encaixa no figurino
nem de Aécio Neves (PSDB), nem de Eduardo Campos (PSB), mas há
“esperança” em relação à possibilidade de crise energética e de
abastecimento de água.
Para Antonio Lavareda, da consultoria política MCI, “esse tipo de
crise atinge o cerne da imagem de Dilma, que é a da gestora, da
mulher-eficiência”. As consequências da má gestão das águas sobre a
imagem de Geraldo Alckmin (PSDB), que também concorre à reeleição neste
ano e cujo governo gere o abastecimento de água e o tratamento de esgoto
em São Paulo, não foram abordadas durante o debate.
Lavareda foi um dos palestrantes mais requisitados pela mediação,
embora não pertença a nenhum instituto de pesquisa. Ele foi o único a
defender abertamente que a presidenta entra na disputa em desvantagem:
de acordo com ele, 60% dos brasileiros querem a mudança e esse capital
político irá se acumular em torno do candidato da oposição capaz de
chegar ao segundo turno. “É quase certo que haverá segundo turno”,
afirmou.
Ele protagonizou ainda o momento de maior sinceridade do encontro:
diretamente questionado pela mediadora sobre o que é necessário fazer
para que o PSDB consiga usar a “paternidade” do Plano Real de forma
eficiente contra o PT nas eleições, disse apenas: “Esse tipo de
assessoria é o que fazemos em minha empresa, e não somos uma entidade
filantrópica”. Embora não confirme a informação, a empresa de Lavareda
está acertada com o PSB de Eduardo Campos para a campanha eleitoral
deste ano, após muitos anos se dedicando a serviços ao PSDB.
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sábado, 29 de março de 2014
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