16/03/2014
Estranho Ocidente: apoia golpe, rechaça democracia
Do Brasil 247 - 16 de Março de 2014 às 21:12
Os números são incontestáveis: 95% da população da
Crimeia decidiu que seu território deve ser anexado à Rússia; apesar
disso, nem os Estados Unidos nem a União Europeia reconhecerão os
resultados do referendo deste domingo – o que, diga-se de passagem, não
fará a menor diferença; os mesmos líderes que se negam a apoiar a
soberania da Crimeia, como Barack Obama, Angela Merkel e François
Hollande, afiançaram seu apoio à chamada "revolução ucraniana", golpe
que derrubou, à força, um governo democraticamente eleito; será que o
Ocidente ainda tem autoridade moral para dar lições de democracia?
Essa recusa de uma aproximação maior com a União Europeia foi o pretexto para que jovens ocupassem a Praça Maidan, que deu nome ao movimento revolucionário. Com a queda de Yanukovitch, o novo regime foi rapidamente reconhecido por líderes europeus e também por Barack Obama – com direito até a recepção na Casa Branca.
Afinal, era uma maneira de enfraquecer a Rússia, que, desde a era Putin, emerge novamente como potência, após o colapso do modelo soviético.
Quando o jogo parecia decidido, surgiu então a questão da Crimeia, onde uma população de maioria russa decidiu não se submeter ao novo regime de Kiev, que decidira não apenas abolir o idioma como cortar sinais de emissoras de televisão russas.
A convocação de um referendo, em que a população poderia se expressar democraticamente, foi duramente combatida por líderes da Europa e dos Estados Unidos.
Com a abertura das urnas, veio então o resultado acachapante: 95% da população da Crimeia deseja pertencer à Rússia – e não à Ucrânia, onde boa parcela da população não está satisfeita com o regime golpista. Há quem diga até que a metade dos ucranianos, hoje, votaria pela volta ao regime anterior.
Nesta segunda, no entanto, líderes europeus e americanos estarão discutindo a imposição de sanções econômicas à Rússia. Uma atitude estranha para um Ocidente que sempre pretendeu ter superioridade moral em relação a seus adversários, justamente por defender valores democráticos.
Na questão ucraniana, a verdade pura e simples é: o Ocidente apoia um golpe de Estado e rechaça a soberania popular.
Abaixo, reportagem da Reuters sobre os resultados na Crimeia:
Resultados parciais mostram que 95% apoiam adesão da Crimeia à Rússia
A agência disse que os números foram
fornecidos por Mikhail Malyshev, chefe da comissão do referendo, depois
que mais da metade dos votos foram contabilizados na península do Mar
Negro, onde forças russas tomaram controle.
(Por Lidia Kelly)
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(Por Lidia Kelly)
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