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16/12/2012
O valor do contraditório
Do Direto da Redação - Publicado em 16/12/2012
Rodolfo Motta Lima
Pela sua própria natureza, a política é um convite à radicalização
das ideias. Afinal, é pelas veredas políticas que se conduzem os
destinos das pessoas. E há políticas e políticas. Há as que se
comprometem com as massas, há as que se voltam para menores interesses
individuais, há as que se preocupam com projetos sociais, há as que se
subordinam às nada naturais “leis” do mercado. Dependendo do ponto de
vista em que nos situemos, o entusiasmo que nos leva à defesa de uma ou
outra causa ou à crítica desta ou daquela postura pode, realmente,
produzir exageros. É humano.
Essa causa ou motivação que nos leva a externar com veemência
exacerbada – mas honesta - os nossos pontos de vista, fruto de uma
ideologia, de uma visão do mundo, não pode, porém, ser confundida com a
intenção ou ação que, conscientemente, deturpa os fatos em nome dos
interesses de um grupo político ou econômico. Porque aí estaremos diante
de um posicionamento intelectualmente desonesto, um estelionato
ideológico. Ninguém que queira ver preservada uma autêntica ética ,não a
hipócrita ética de fachada, aceita ou justifica manifestações sectárias
, absolutistas, sutilmente destinadas a deixar escondida, com a cortina
de fumaça de uma falsa indignação, uma verdade indesejada, ou um pedaço
dela.
Mesmo entre os exageros, há que se saber distinguir. Como professor
de literatura, vivo ensinando aos meus alunos que a hipérbole, embora
muitas vezes ferramenta de um mal intencionado pensamento maniqueísta,
pode ser, em muitas ocorrências, um recurso expressivo para se pôr em
evidência um fato, uma pessoa, uma ideia, supervalorizando esses
elementos. Qualquer apaixonado de plantão exemplifica isso...
Esses comentários, uma vez mais (nunca é demais) vêm a propósito dos
posicionamentos assumidos em face da discussão sobre o controle social
da mídia, essa mídia que, em nome de uma pretensa liberdade de informar,
muitas vezes desinforma, quando não deforma, mas não admite que se
discutam os seus propósitos, os seus métodos de “persuasão”, a sua
covardia intelectual.
Seria desejável que, em nosso país, houvesse um conjunto de órgãos
midiáticos – jornal, rádio e tevê – tão espalhado pelo país como os das
organizações que monopolizam a opinião publicada, com seus veículos
próprios, afiliados e retransmissores. Uma mídia que pudesse fazer um
contraponto às existentes, não para reproduzir no sentido contrário os
seus defeitos, mas para apresentar o mundo e as coisas de uma forma não
comprometida, diferente dessa monocórdia visão elitista que nós é
imposta. Uma mídia que trabalhasse o fato, analisasse as ações,
trouxesse verdadeiramente à luz o contraditório, sem intenções
deletérias ou pautados interesses de grupos, e fornecesse instrumentos
confiáveis para a formação de opinião.
Pode ser um pensamento utópico, um desejo irrealizável. Afinal,
alguém já disse que o jornalismo existe para ser oposição, ou seja, para
só apresentar um lado das questões. De qualquer forma, se essa mídia
alternativa existisse , não nas doses homeopáticas de hoje, mas com a
mesma abrangência que verificamos nesse conglomerado que domina a
informação no país, isso talvez diminuísse e tornasse menos candentes as
pessoas indignadas com esse panorama. Afinal, haveria igualdade de
forças, com a mesma penetração, capaz de mostrar outras visões, outras
perspectivas, onde pudessem coexistir o preto e o branco e, mais que
isso, essa grande área cinzenta na qual virtudes e defeitos se combinam,
apenas uns predominando sobre os outros, conforme o caso.
Se essa mídia existisse, não se sentiria tanta indignação diante da
manipulação das notícias, diante da hipocrisia reinante nesse
comportamento típico dos “bons moços de boa família”, dos “defensores da
moral ocidental e cristã”, dos “guardiães do templo das virtudes”, que
escamoteia a verdade em formatação contemporânea da fábula do “(g)lobo
com pele de cordeiro”... E talvez nem se falasse em controle... Certas
reações, às vezes assumidamente radicais, têm a ver com a revolta diante
da falta de decoro que é o desfrute quase monopolista de concessões do
povo (ou não são isso as concessões públicas?) para o enriquecimento de
uns poucos através de atitudes que, em última análise, são dissimuladas,
enganosas e contra os interesses do próprio povo
Há quem acredite na ausência de um propósito ideológico desse grupo
seleto que fala sozinho, mas defende a “liberdade de expressão”. Um dia,
porém, os brasileiros perceberão os males desse império da informação
comprometida que vende ideias e quer comprar corações, com suas
celebridades impostas ou cooptadas, seus fatos destorcidos ao bel
prazer, seu circo (sem pão, porque esse o Governo dá) que pretende
amortecer as massas, mascarando as desigualdades com fantasias de lixões
idílicos, domésticas de sucesso e outras que tais . Enquanto esse dia
não chegar, sempre existirão ( espera-se) canais como os que a internet
proporciona para que os indignados ao menos expressem, às vezes
hiperbolicamente, sua particular inconformidade diante desse cenário
contrário à democracia, no seu sentido mais profundo. E, gostem ou não,
nunca será demais falar sobre esse tema...
Rodolpho Motta Lima. Advogado
formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil)
e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado
pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de
Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente
no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
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