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23/12/2012
A Antecipação da Sucessão
Do Contexto Livre - domingo, 23 de dezembro de 2012
Marcos Coimbra
Um dos traços mais significativos da vida política brasileira em 2012
foi a intensidade do efeito que nela exerceu a próxima eleição
presidencial. Quase tudo de importante que aconteceu a teve como
referência.
Dilma nem chegou à metade do mandato, seu governo ainda tem um longo
caminho pela frente e, para o cidadão comum, a sucessão está longínqua.
Mas o sistema político passou o ano obcecado por ela.
Especialmente as oposições.
Os partidos oposicionistas e seus aliados se viram forçados a disputar,
em 2012, o primeiro round da eleição de 2014. Percebendo, com base em
avaliações internas e pesquisas disponíveis desde o início do ano, que o
vento soprava contra seus projetos, resolveram começar a trabalhar na
sucessão presidencial desde cedo.
A principal estratégia foi desconstruir a imagem do PT através do
julgamento do mensalão, dando-lhe toda a exposição possível. E o
sincronizaram com as eleições municipais, de forma a que os eleitores
chegassem às urnas maximamente atingidos por ele.
Só os muito ingênuos viram como coincidência que José Dirceu fosse
condenado faltando uma semana para o pleito. Naquele momento, bem como
na eleição inteira, o que fizeram foi criar um clima de opinião para
interferir na escolha do eleitorado.
Queriam matar dois coelhos com uma só cajadada: enfraquecer os
candidatos do governo a prefeito e vereador; desgastar o partido para a
eleição a seguir. A oposição sairia fortalecida e com a sustentação
municipal recomposta, com melhores condições de ampliar a bancada na
Câmara dos Deputados e fazer bom papel na eleição presidencial.
Os resultados da eleição municipal e as pesquisas deste fim de ano a
respeito das intenções de voto em 2014 mostram que isso não funcionou.
Pelo menos, por enquanto.
A pesquisa mais recente foi feita pelo Datafolha, no dia 13 de dezembro, ouvidas 2588 pessoas em todo o País.
Em que pese o esforço dos comentaristas de encontrar problemas para
Dilma e Lula, foi muito favorável a ambos. A começar por sua folgada
liderança em todos os cenários.
Dilma varia de 57%, quando é confrontada com Marina Silva (que tem 18%) e
Aécio Neves (com 14%), a 53%, quando entra na lista Joaquim Barbosa
(que alcança 9%). Na hipótese de Eduardo Campos ser o quarto nome, ao
invés de Barbosa, ela fica com 54% e o pernambucano com 4%.
Lula está na frente, com 56%, no único em que aparece, no qual estão
Marina Silva (13%), Joaquim Barbosa (10%) e Aécio Neves (9%). É aquele
em que Dilma obteve 53%.
São resultados semelhantes a outros disponíveis. Em abril deste ano, em
pesquisa da Vox Populi, Dilma alcançava 57%, Marina 16% e Aécio 12%,
quase exatamente os números do Datafolha. Em julho, segundo a CNT, ela
obtinha 59% e Aécio 15%, em uma lista sem Marina e com Eduardo Campos
(que ficava com 6%).
Em relação a esses levantamentos, Lula cai, passando de 69% (Vox Populi)
ou 70% (CNT), aos 56% atuais do Datafolha. Não são listas comparáveis,
mas parece ter havido, de fato, uma queda na intenção de voto no
ex-presidente.
O relevante na pesquisa de agora é a manutenção da larga vantagem dos
candidatos petistas. Traduzindo os resultados no chamado “voto válido”,
ambos ficam sempre acima dos 60% e chegam a 64%. O que quer dizer que
estão perto de ter, sozinhos, o dobro da soma dos outros.
Bom para os dois. E mau para os demais.
Menos ruim para Marina Silva, que permanece em patamar respeitável,
entre 15% e 20%, superior a candidatos com mais bagagem política, como
Aécio e Eduardo Campos.
É possível que o Datafolha tenha querido respeitar a precária saúde
eleitoral de Serra, não o incluindo nas listas. Mas o que fez foi manter
viva a crença de que só o paulista tem condições de brigar com o PT.
Chegamos, assim, ao final de 2012, com perspectivas inalteradas para a
eleição de daqui a dois anos. A crer nas pesquisas, o enorme
estardalhaço feito para afetá-la foi inútil.
Como está no título de uma comédia de William Shakespeare, pensando na eleição, foi Muito Barulho por Nada.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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