25/01/2014
Haddad garante continuidade de programa na 'cracolândia': 'Podem espernear'
No dia seguinte à repressão
comandada pelo governo estadual, prefeito de São Paulo mandou recado aos
que desejam fracasso do projeto Braços Abertos, mas evitou reiterar
críticas e atacar Alckmin
Fábio Arantes/Arquivo Prefeitura
São Paulo – O prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad (PT), evitou hoje (24) novos comentários sobre a ação
da Polícia Civil na "cracolândia", na bairro da Luz, na tarde de ontem
(23), e preocupou-se em assegurar que o programa vai prosseguir
normalmente. “Já me manifestei. A conversa é aquilo que está no
noticiário. O nosso objetivo agora é retomar o programa como ele foi
concebido”, disse. O prefeito se pronunciou durante a abertura de uma
rede de internet gratuita no Pátio do Colégio, no centro da capital.
Por volta das 16h de ontem, policiais do
Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc)
chegaram ao local atirando bombas de gás lacrimogêneo e balas de
borracha, e agredindo pessoas que estavam na região. O Denarc afirmou
que a repressão foi em resposta à resistência dos dependentes contra a
prisão de um traficante, na região do chamado “fluxo”, local onde
ocorrem o tráfico e o uso de drogas. A ação, classificada ontem por
Haddad como "lamentável", foi desencadeada no momento em que a
administração municipal leva a cabo o Programa Braços Abertos, que dá
moradia, emprego e curso a dependentes químicos.
O prefeito está confiante de que a ação não prejudicou o projeto, lançado na última semana. “Podem espernear, que nós vamos fazer aquele programa acontecer”, afirmou. “Os
relatos de hoje são bons. Os profissionais estão trabalhando, as
frentes de trabalho estão funcionando e a Polícia Militar está atuando
conforme o combinado.” Questionado sobre a reação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), Haddad disse: "Boa. Sempre boa."
Leia mais:
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O
Braços Abertos começou com a desmontagem de barracos, usados como
moradia pelos dependentes, nas ruas Dino Bueno e Helvétia. Eles foram
encaminhados para cinco hotéis alugados pela prefeitura na região. Os
participantes têm direito a três refeições diárias e salário de R$ 15 por dia de trabalho na varrição e zeladoria de ruas praças, com carga de 4 horas diárias, mais duas de qualificação profissional. Hoje vão ocorrer os primeiros pagamentos dos beneficiários do programa, no valor de R$ 105.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), também evitou novos comentários sobre o caso dizendo apenas que
eventuais abusos da Polícia Civil serão apurados. “O que não pode é
fazer picuinha partidária”, afirmou, segundo o jornal O Estado de São Paulo,
durante a inauguração da nova faixa da rodovia dos Tamoios, em
Paraibuna, no Vale do Paraíba. Alckmin disse estender as mãos aos
dependentes e que é preciso “separar o usuário do traficante”. “O
traficante mata. O tráfico é crime”, afirmou.
O secretário Municipal da Segurança Urbana,
Roberto Porto, que acompanha diariamente os trabalhos do programa na
"cracolândia", afirmou que recebeu relatos de atendidos sobre a
violência da Polícia Civil e que havia policiais portando armas de balas
de borracha, versão diferente da oficial.
“Tivemos pessoas atendidas na tenda do Braços
Abertos relatando terem sido atingidas por balas de borracha. Eu
presenciei policiais civis com a arma disparadora da bala de borracha.
Se era somente para intimidar, se houve o uso ou não, cabe à Secretaria
de Segurança avaliar”, disse.
Porto demonstrou preocupação com a forma como a
ação policial foi realizada, mas acredita que não voltará a acontecer.
“Toda e qualquer ação que põe em risco os profissionais de saúde, os
atendidos, a imprensa é preocupante. Os beneficiários ficaram revoltados
com a ação e demonstraram temor de que o programa pudesse ser afetado
por isso. Mas acredito que isso não vai voltar a ocorrer, devido a
repercussão que o caso teve”, avaliou.
Para o secretário é preciso diferenciar a
prisão de traficantes da repressão aos dependentes. “Ninguém pode
questionar a prisão de traficantes. Todos os dias ocorrem duas ou três
prisões. Agora, cabe ao governo do estado avaliar se a ação foi correta
ou não. Nós a consideramos exagerada, ela tinha um tom de revide”,
concluiu.
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