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23/04/2014
Operação Banqueiro: "Democracia sadia não pode conviver como se o caso não tivesse acontecido", afirma autor
Rubens Valente, autor do livro
'Operação Banqueiro', esteve na sede do Barão de Itararé, em São Paulo,
na noite da terça-feira (21). O repórter participou de entrevista
coletiva com blogueiros, explicando o processo de investigação e suas
impressões sobre o caso de Daniel Dantas, que como ele mesmo diz, é
cheio de “relações subterrâneas e segredos gravíssimos que o país
precisa conhecer”. A atividade foi transmitida ao vivo, via TVT, pelo
Barão de Itararé.
Por Felipe Bianchi
O repórter afirma que para produzir a
obra foi necessária uma profunda imersão nos documentos da Operação
Satiagraha, desde seu início, quando tinha à sua frente o delegado
Protógenes Queiroz, até cada um dos 1.500 e-mails de Roberto Amaral, que
atuava como uma espécie de “superlobista” do banqueiro.
Mais que isso, Valente também expõe as
ações “estranhas” do ministro Gilmar Mendes, que teria promovido uma
“desqualificação pública” do caso, sob os holofotes do Supremo. “Ele se
tornou uma caixa de ressonância dos grandes escritórios de advocacia do
país, avessos às contundentes ações da Polícia Federal que batiam de
frente com os interesses de seus clientes mais poderosos”, afirma.
Segundo o repórter, Mendes não escondeu em nenhum momento o seu papel
político na presidência do Supremo: “Não era nenhum segredo. Era público
o seu papel”, diz.
Ele vai além e escancara a relação
promíscua entre Gilmar Mendes e Daniel Dantas. Na apreensão legal dos
e-mails de Roberto Amaral, que o autor chama a atenção para o fato de
serem sempre em um tom íntimo e pessoal, o nome do ministro parece três
vezes. “Pessoas com as quais conversei ao longo de minha investigação
afirmaram que o caso só foi para o Supremo justamente pelo fato de o
nome de Gilmar Mendes aparecer no processo, já que quando há um membro
envolvido, só o Supremo pode julgar”.
Ainda em relação aos e-mails, Rubens
Valente afirma que as mensagens confirmam a relação entre Daniel Dantas e
Roberto Amaral – que tinha ligação “umbilical” com empreiteiras. “É um
mergulho na cabeça de Dantas, pois os e-mails revelam exatamente o que
ele queria. Ele colocava uma espada na cabeça do governo”, diz. “Era uma
forte pressão com a qual as autoridades e o Executivo tinham que lidar,
intensificada pelo temor de as privatizações voltarem a ser
investigadas”.
De acordo com o autor, o livro reúne
todos os elementos possíveis que um jornalista poderia coletar sobre o
caso. “Imagine o que o Estado pode fazer com toda essa informação?”,
questiona Valente, acrescentando que “uma democracia sadia não pode
conviver com isso, como se nada tivesse acontecido”.
As graves revelações em 'Operação
Banqueiro' vem causando incômodo em Dantas, que protocolou uma
notificação extra-judicial na qual afirma que o livro seria “ilícito” e
“ilegal”. “Pesquisei a legislação apontada por Dantas e nada se fala
sobre limites do jornalismo, mas sim de como o Estado deve cuidar do
sigilo de suas investigações”, explica Valente. “As duas leis evocadas
por Dantas na notificação não tocam no tema da liberdade de expressão. É
pura coação psicológica sobre a editora e o autor, ainda mais
considerando que o livro sequer havia sido publicado”.
Em sua defesa, o jornalista ainda frisa
que todos os grampos, interceptações e dados presentes na obra são de
interesse público, invalidando os argumentos do banqueiro. “Dantas
sempre apresenta uma teoria na qual ele é a vítima e não o acusado”,
critica Valente.
Por outro lado, o livro tem recebido
grande apoio na blogosfera, nas redes sociais e em veículos da imprensa,
como a Carta Capital. A própria Folha de S. Paulo, que emprega o autor,
publicou três matérias sobre o lançamento, conta Valente. “Muitos
blogueiros 'sujos' que acompanharam o caso de perto e muitas pessoas de
fora do jornalismo têm me apoiado e enviado mensagens”, celebra.
Em relação à postura da mídia na
cobertura do escândalo, Valente reconhece que caso se aprofundasse nesse
aspecto, não conseguiria terminar a obra. “Em alguns momentos trato do
comportamento dos meios de comunicação, mas como coadjuvantes, porém
digo tranquilamente que o caso merece um trabalho extenso sobre essa
questão”
Operação Banqueiro - “Uma
trama sobre poder, chantagem, crime e corrupção”, o livro Operação
Banqueiro (Geração Editorial, 464 páginas) disseca a polêmica em torno
do poderoso e enigmático banqueiro Daniel Dantas, preso em 2008 pelo
delegado federal Protógenes Queiroz, por ordem do juiz Fausto de
Sanctis, mas estranhamente libertado pelo então presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. As provas da investigação,
anuladas até então, são objetos da investigação de Rubens Valente,
repórter da Folha de S. Paulo.
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