27/01/2014
Blog Palavra Livre - 27 Jan 2014 11:09
Por Davis Sena Filho
O ministro do STF, Ricardo Lewandowski,
anulou a decisão do TJ de Santa Catarina, que atendeu aos interesses de
entidades empresariais catarinenses, que, como em São Paulo, são
contrárias ao aumento do IPTU, e, consequentemente, impediram a elevação
do imposto proposta pelo prefeito de Florianópolis, César Souza Júnior,
do PSD, porém, político com origem no extinto PFL, que atualmente é o
DEM, herdeiro da UDN, partido de sustentação da ditadura militar.
César
Júnior é advogado, mas homem ligado aos empresários de meios de
comunicação de Santa Catarina, pois foi, inclusive, vice-presidente da
Associação Catarinense das Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), o
que, sem sombra de dúvida, o torna um político ligado ao empresariado
desse setor, que, invariavelmente, sempre lutou contra o aumento de
impostos ou de qualquer medida governamental que, porventura, possa
atingir os bolsos das classes sociais mais poderosas.
Entretanto,
mesmo a ser um político de relações com os barões da imprensa, o
prefeito catarinense teve sua intenção de aumentar o IPTU suspensa pelos
juízes do TJ, que também, invariavelmente, atendem aos desejos e aos
interesses do grande empresariado, como demonstra a crônica sobre o
Judiciário deste País. César Júnior, tal qual ao prefeito paulistano,
Fernando Haddad, não se deu por vencido e recorreu ao STF, onde o juiz
Lewandowski cassou a determinação do TJ e, por sua vez, o prefeito de
Florianópolis vai ter acesso a mais recursos provenientes do IPTU.
Todavia,
existe uma diferença entre a questão paulistana e a florianopolitana. O
prefeito catarinense é do PSD com origem no PFL e DEM e o de São Paulo é
do PT, cuja capital é a maior e mais poderosa da América Latina, além
de ser peça-chave do tabuleiro das eleições presidenciais de outubro
deste ano e que causam grande preocupação à direita brasileira em geral e
aos donos da Casa Grande, em particular.
Evidencia-se
outra diferença também: Fernando Haddad está no centro das atenções da
oposição capitaneada pelo PSDB e aliada à imprensa de mercado, que há 20
anos dominam a máquina pública e lutam, desesperadamente, para não
serem derrotados nas eleições a governador de São Paulo, bem como querem
derrotar o PT em âmbito federal, do qual estão afastados há
praticamente 12 anos, realidades estas que lhes causam inconformismo e
ódio.
Fernando
Haddad aumentou o IPTU, de forma escalonada e conforme o poder
aquisitivo dos proprietários, o que faria com que os ricos e os
indivíduos de classe média alta pagassem um pouco mais e, por seu turno,
desapertariam o cinto dos mais pobres, que permaneceriam com o imposto
congelado e, por conseguinte, gastariam seu dinheiro em necessidades da
rotina do dia a dia.
E
o que aconteceu? A Fiesp, à frente o presidente Paulo Skaf, e os
magnatas bilionários da imprensa de negócios privados se mobilizaram
politicamente contra o aumento do IPTU e fizeram uma dura campanha
contra a intenção de Fernando Haddad. Recorreram ao TJ de São Paulo e,
obviamente, foram atendidos pelo magistrado.
Esses
fatos e ações são de um mundo surreal, porque Skaf, com o apoio da
imprensa corporativa, judicializou o processo político e a decisão
soberana de um prefeito eleito pelo povo, que ficou à mercê de um
empresariado reacionário e de uma magistratura politicamente e
ideologicamente conservadora e que, na última década, resolveu governar
no lugar de pessoas institucionalizadas, porque eleitas.
O
prefeito petista ao perceber que o TJ estava a judicializar a política e
a meter o bedelho onde não lhe convém, resolveu recorrer ao STF e fez
uma visita de cortesia e respeito ao juiz e presidente do Tribunal,
Joaquim Barbosa. Explicou suas razões e os motivos pelos quais iria
aumentar o IPTU aos proprietários de terrenos vazios objetos de
especulação imobiliária e de mansões, casarões, condomínios e prédios de
luxo, além de fiscalizar a sonegação de empresas, bem como cobrar dos
empresários o IPTU atrasado.
O
mandatário do STF o ouviu, mas fez ouvidos moucos e ratificou a decisão
elitista e política do TJ paulista. Porém, a atitude de Joaquim Barbosa
não surpreendeu aos que esperam do nada o nada. Tal juiz já demonstrou,
no decorrer de sua magistratura, para o que veio, e ele surgiu para
fazer política, a má política, porque o que um juiz não pode fazer é
escolher lado, tomar partido e falar mais do que um locutor a narrar
jogo de futebol. E é exatamente o que este juiz fez, em todos os
sentidos. Ponto!
Agora
quem recorre é um político conservador e do PSD. César Júnior teve
sorte, porque seu caso foi julgado pelo juiz Ricardo Lewandowski,
magistrado de convicção legalista, como comprovou no processo do
“mensalão”, o do PT, porque o do PSDB, apesar de ser mais antigo, nunca
foi julgado e pode prescrever. Avesso ao holofote midiático e ao clamor
da turba, Lewandowski suspendeu a decisão do TJ e com isso o prefeito de
Florianópolis vai poder governar de forma soberana, porque soberania
quem dá é o povo.
Enquanto
isso, o prefeito Fernando Haddad teve seu projeto de governo
prejudicado por juízes de capas pretas, que não têm o mínimo compromisso
com a população, a exemplo do que também ocorreu com o Programa Braços
Abertos sabotado pela Polícia Civil do governador Geraldo Alckmin, que
atacou com bombas e violência física pessoas viciadas em crack, que
naquele momento estavam a ser visitadas por agentes do programa, com a
presença, inclusive, de soldados da PM, que garantiam a segurança dos
servidores.
E
é assim que a banda toca. Quando a elite discorda de um projeto que não
a beneficia, além de ter propósito democrático, pois geralmente de
inclusão social, logo a Casa Grande trata de colocar em ação seus
bonifrates para dificultar ou até mesmo impedir que um programa de
governo de perfil progressista, como o é o do prefeito Haddad, seja
efetivado.
O
ex-prefeito, Gilberto Kassab, por exemplo, aumentou o IPTU em até 357%,
índices muito maiores do que os propostos por Fernando Haddad, e os
colunistas, comentaristas e “especialistas” de prateleiras da imprensa
comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) não fizeram uma
campanha insidiosa ou virulenta contra o Kassab, então, aliado dos
tucanos e que depois “rompeu” com o PSDB, a fim de buscar novos espaços
na política paulista, bem como insatisfeito por ter sido preterido como
candidato a governador.
Além
disso, diferente de Kassab, o aumento do IPTU proposto por Haddad
continha objetivos cujos méritos era implementar justiça social e assim
desonerar os mais pobres e fazer com que os ricos paguem mais pelos
benefícios recebidos no que é relativo à energia elétrica. Não é justo
que as alíquotas para pobres e ricos sejam a mesma. Desiguais têm de ser
tratados de forma desigual, porque não têm a mesma condição de vida.
Por
isto que existem os programas sociais e afirmativos, que têm por
objetivo aproximar os desiguais e dar oportunidades para que as pessoas
das classes sociais baixas cresçam para terem acesso a uma vida de
melhor qualidade. O que não se compreende são os juízes que, insensatos
politicamente, fazem o papel de títeres da Casa Grande.
Até
entendo que barões de imprensa sejam egoístas, egocêntricos e
perversos. Mas, juiz é servidor público a serviço da sociedade,
sustentado por ela e por causa disto não cabe em sua conduta escolher
lado, cor, ideologia e se propor a fazer uma política mequetrefe e
rastaquera, que não condiz com o cargo que ocupa. Do contrário, saia da
magistratura, filie-se em um partido político e vai à luta.
Joaquim
Barbosa boicotou Fernando Haddad e sabotou, tal qual à Fiesp e à
imprensa alienígena e de passado golpista, os benefícios sociais que o
escalonamento do IPTU traria aos pobres de São Paulo. O ínclito juiz
preferiu mais uma vez compor com os donos da Casa Grande, os que
controlam o establishment. É de seu feitio e vontade, como ficou
comprovado em sua atuação no caso do “mensalão” — o do PT.
Porém,
o legalista juiz Lewandowsky não permitiu que juízes do TJ catarinense
seguissem os maus passos dos juízes do TJ paulista. O magistrado não
concordou que juízes e empresários governassem no lugar do eleito pelo
povo, mesmo a ser este eleito, no caso o prefeito César Souza Júnior,
ligado ao empresariado, bem como membro de um partido conservador. O
prefeito catarinense vai poder aumentar o IPTU, ao contrário de Haddad,
que é do PT e por isto vai pagar caro por ter vencido a direita em terra
paulistana. É isso aí.
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