31/03/2014
segunda-feira, 31 de março de 2014
Contraponto 13.651 - "Dilma, sobre 64: verdade não é esquecimento, não é ódio, não é ressentimento, mas não é perdão. Assista"
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31/03/2014
Dilma, sobre 64: verdade não é esquecimento, não é ódio, não é ressentimento, mas não é perdão. Assista
Autor: Fernando Brito
Trancrevo a fala, hoje, da Presidenta Dilma Rousseff, sobre os 50 anos do golpe militar de 1964, do qual ela própria foi uma vítima, submetida á prisão e à tortura.
Que diferença dos tempos que vivi, quando esta data era lembrada com ameaças e advertências sobre os – nunca vou esquecer esta expressão – perigos da subversão “solerte e soez” , lido por caras duras e ferozes.
Toda dor, disse a presidenta, pode ser suportada se sobre ela podemos contar sua história, como finalmente o Brasil começa a fazer.
Mas isso não quer dizer voltarmos nossos olhos sobre o passado, por vingança ou rancor.
É a única e sadia forma de expurgar os fantasmas que fazem um país, como fazem a uma pessoa, viver agarrado a algo ruim, muito ruim.
E livre assim sua memória poder , como ensina o poeta Chico Buarque, “… quebrar todas as grades de que um homem é feito pra esquecer de voar”.
Assista o vídeo e leia o trecho da fala de Dilma.
Cinquenta anos atrás, na noite de hoje, o Brasil deixou de ser um país de instituições ativas, independentes e democráticas. Por 21 anos, mais de duas décadas, nossas instituições, nossa liberdade, nossos sonhos foram calados. Hoje, nós podemos olhar para esse período, olhar justamente do ponto de vista dessa obra específica, mas que mostra toda a capacidade e o envolvimento de todas as instituições num clima de democracia. Nós podemos olhar para este período e aprender com ele, porque nós o ultrapassamos. O esforço de cada um de nós, o esforço de todas as lideranças do passado, daqueles que vivem e daqueles que morreram, fizeram com que nós ultrapassássemos essa época, os 21 anos.
Nós aprendemos o valor da liberdade, o valor de um Legislativo e de um Judiciário independentes e ativos. Aprendemos o valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger pelo voto direto e secreto de todos os brasileiros governadores, prefeitos, de eleger, por exemplo, um ex-exilado, um líder sindical, que teria sido preso, que foi preso várias vezes, e uma mulher também que foi prisioneira.
Aprendemos o valor de ir às ruas e nós mostramos um diferencial quando as pessoas foram às ruas demandar mais democracia. Aqui no Brasil não houve um processo de abafamento desse fato. O valor, portanto, de ir às ruas, o valor de ter direitos e de exigir mais direitos.
Embora nós saibamos que os regimes de exceção sobrevivem sempre pela interdição da verdade, pela interdição da transparência, nós temos o direito de esperar que, sob a democracia, se mantenha a transparência, se mantenha também o aceso e a garantia da verdade e da memória e, portanto, da história. Aliás, como eu disse quando instalamos a Comissão da Verdade, a palavra “verdade” na tradição ocidental nossa, que é grega, é exatamente o oposto do esquecimento e é algo tão forte que não dá guarida para o ressentimento, o ódio, nem tampouco para o perdão. Ela é só e, sobretudo, o contrário do esquecimento, é memória e é história. É nossa capacidade de contar tudo o que aconteceu.
O dia de hoje exige que nós nos lembremos e contemos o que aconteceu. Devemos isso a todos os que morreram e desapareceram, devemos aos torturados e aos perseguidos, devemos às suas famílias, devemos a todos os brasileiros. Lembrar e contar faz parte, é um processo muito humano e faz parte desse processo que nós iniciamos com as lutas do povo brasileiro, pelas liberdades democráticas, pela anistia, pela Constituinte, pelas eleições diretas, pelo crescimento com inclusão social, pela Comissão da Verdade, enfim, por todos os processos de manifestação e de ampliação da nossa democracia que temos vividos ao longo das ultimas décadas, graças a Deus.
Um processo que eu foi construído passo a passo durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura. Nós reconquistamos a democracia a nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais. Muitos deles traduzidos na Constituição de 1988. Como eu disse, na instalação da Comissão da Verdade, assim como eu respeito e reverencio os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram a redemocratização.
A grande Hanna Arendt escreveu um dia que toda dor humana pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história. A dor que nós sofremos, as cicatrizes visíveis e invisíveis que ficaram nesses anos, elas podem ser suportadas e superadas porque hoje temos uma democracia sólida e podemos contar nossa história.
Como eu disse, nesse Palácio, repito, há quase dois anos atrás, quando instalamos a Comissão da Verdade, eu disse: se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulos, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca, mas nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem da voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la. E acrescento: quem dá voz à história somos cada um de nós, que no nosso cotidiano afirma, protege, respeita e amplia a democracia no nosso país. Muito obrigada.
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Contraponto 13.650 - "A exumação do presente "
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31/03/2014
31/03/2014
A exumação do presente
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Como uma correlação de forças favorável se transforma em uma derrota demolidora? A exumação de 1964 sugere a resposta a esta pergunta.
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Carta Maior - 31/03/2014
por: Saul Leblon
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Como uma correlação de forças favorável se transformou em uma derrota política de consequências históricas demolidoras?
A pergunta ecoa obrigatória na exumação do Brasil de 1964.
Mas a resposta extrapola a necessidade de se compreender o país que existia há meio século para iluminar os dias que correm, as horas que urgem.
A história não cabe em fascículos solteiros.
A versão dos vencedores de ontem presta serviços aos interesses de hoje que disputam a hegemonia com o objetivo de sempre.
Impedir que a sociedade destrave os ferrolhos da riqueza acumulada e altere a matriz redistributiva da que será construída.
Uma simplificação monocausal em torno 1964 remete ameaças a 2014.
Ela é disseminada por aqueles que formam o intestino delgado e sinuoso do golpismo, onde se reprocessa tudo no formato de democracia e lei.
Inclua-se aí os fulanizadores da história, especialistas na arte de abstrair interesses graúdos sem tornar a narrativa entediante.
O que eles sugerem é que 1964 nada mais foi que um mal passo do país; um escorregão sob a presidência de um político hesitante e mulherengo.
Esse, o epitáfio à geração que há 50 anos defendia reformas para cicatrizar as feridas da tradição social brasileira.
Hoje, com a mesma dissipação, tenta-se personificar o ‘problema’ do país na ‘Dilma autoritária’; agora também ‘má gestora’.
Importa, sobretudo, rebaixar o debate em torno daquilo que interliga o passado ao presente e condiciona o futuro: a disputa em torno da agenda do desenvolvimento brasileiro.
Qual país? Para quem? Como chegar lá? Onde e por que os recursos estrangulam?
Sobre 1964, a dissipação coloca na mesa incômoda dos 50 anos a guloseima ecumênica que a tudo perdoa: ‘a polarização conduziu ao golpe’, diz o glacê sobre a massa aerada por 20 anos de censura, tortura e repressão.
‘Era inevitável, qualquer um dos lados o faria a qualquer momento’, reiteram os confeitos aspergidos na memória nacional.
Em resumo: os vencidos foram responsáveis pela violência dos vencedores; a direita apenas se antecipou à ruptura cevada entre a hesitação de Jango e a radicalização ao seu redor.
A premissa está na ponta da língua dos colunistas, na rememoração lucrativa encadernada pelos amigos do regime e na boca dos torturadores cada vez mais desinibidos pela impunidade.
Fatos.
O governo Jango durou apenas 31 meses – de setembro de 1961 a 1º de abril de 1964.
Durante todo o período esteve acossado pelo bafo renitente do golpismo, sobrando ao Presidente um espaço reduzido de tempo e circunstancia para planejar sua ação e o país.
Ainda assim, a correlação de forças barrou o conservadorismo em todas as tentativas de se impor à sociedade por medidas unilaterais.
Por isso foi dado o golpe, ou não haveria necessidade dele.
A direita dispunha, como hoje, do dispositivo midiático, do dinheiro graúdo --local e forâneo , de um pedaço da classe média e de fileiras do Exército.
Mas seu fôlego eleitoral era raquítico e o pulmão político declinante (como hoje).
O projeto americanófilo carimbado em sua testa consolidara-se no imaginário popular como risivelmente entreguista (não sem boa dose de razão); seu recorte elitista recendia à casa grande, de onde urgências da senzala eram descartadas nas respostas aos desafios do desenvolvimento.
Lembra algo?
Antes de recorrer às armas, à repressão, à censura e à tortura, o espírito golpista tentou por duas vezes restringir a democracia que lhe era desfavorável, sendo sucessivamente derrotado no campo aberto do escrutínio popular.
O desenlace, portanto, não foi uma reação de autodefesa, como querem os vulgarizadores da fatalidade, mas o epílogo de uma progressão de minigolpes frustrados.
No aquecimento, tentou-se impedir a posse de Jango em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.
Só a resistência organizada –é oportuno escandir a palavra or-ga-ni-za-da-- impediu a consumação do golpe branco.
Em 27 de agosto, o então governador Leonel Brizola personificou esse requisito com a criação da ‘Cadeia da Legalidade’ no Rio Grande do Sul.
De início, formada por uma rede de rádios gaúchas, a resistência operava do porão do Palácio Piratini, para onde o líder gaúcho requisitara os transmissores da rádio Guaíba, de Porto Alegre. As tropas da Brigada Militar protegiam o Palácio em vigília diuturna.
Através das ondas médias e curtas ocupava-se o noticiário 24 horas por dia.
Brizola conclamava o povo a ir às ruas em defesa da legalidade democrática, contra o golpe da junta militar que, em Brasília, recusava autorização para Jango, em viagem oficial ao exterior, retornar ao país.
Aos poucos, outras emissoras de Porto Alegre e do interior do Estado uniram-se à Rede, que chegou a cravar 100% de audiência no estado.
O efeito contagiante da resistência iniciada em Porto Alegre romperia a fronteira gaúcha para formar uma cadeia com 104 emissoras de todo o Brasil e de países vizinhos.
Boletins noticiosos em inglês, espanhol e alemão passaram a ser emitidos.
Foram 10 dias que abalaram o Brasil.
Finalmente, o III Exército rachou e declarou solidariedade ao movimento.
O conjunto forçou o Congresso complacente a buscar uma solução negociada.
A escolhida, todavia, circunscreveria Jango nas amarras de um parlamentarismo que reduziu sua posse a um simulacro de transferência de poder.
Em 7 de setembro de 1961, Goulart receberia a faixa presidencial, mas não o mando de governo.
Descarnado dos instrumentos constitucionais, o Presidente gastou dois anos de seu mandato na agonia parlamentar.
Se não conseguiu evitar a posse, o conservadorismo logrou engessar o país agravando seus impasses para corroer, ainda mais, as bases frágeis do investimento, acelerar a fuga de capitais e adicionar pressão à caldeira inflacionária.
Criou-se assim o lastro para legitimar o discurso udenista do desgoverno, de um Brasil aos cacos, prestes a se estilhaçar –‘se não for hoje, de amanhã não passa’.
A sensação de familiaridade não é gratuita.
Com a insatisfação crescente, em janeiro de 1963, Jango convoca um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema parlamentarista.
O clima confuso criado pelo artifício conservador era respirado em cada esquina.
Mas o discernimento popular não se deixou levar pelos falsos diagnósticos.
Cerca de 80% dos brasileiros votaram pelo restabelecimento dos poderes constitucionais ao Presidente (ouça aqui a campanha popular contra a camisa de força parlamentarista feita por artistas do radio https://www.youtube.com/watch?v=MSD-RW2Kxak).
Um ano e três meses depois viria o golpe.
Possivelmente contra um terceiro revés contratado no calendário eleitoral, se a democracia perdurasse até a sucessão de Jango.
Pesquisas do maleável Ibope , mantidas em sigilo até recentemente, e levadas à rua entre 20 e 30 de março –entre o comício da Central do Brasil e o golpe de Estado-- desmentiam o consenso anti-governo alardeado por uma mídia que exortou, apoiou e justificou a derrubada violenta do Presidente da República, em 31 de março de 1964.
Ontem como hoje, a emissão conservadora foi decisiva para levar a classe média brasileira a adotar um discernimento moralista e golpista em relação aos desafios enfrentados pelo processo de desenvolvimento.
E mesmo assim, apenas uma parte dela.
Os dados colhidos cirurgicamente em meio a esse bombardeio certamente influenciaram a disposição golpista.
Pelas urnas é que não haveria de ser.
O que eles mostravam repita-se, dias antes do golpe, é que 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango entre ótimo, bom e regular (15%, 30% e 24%, respectivamente). Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo. E o mais importante: 49,8% cogitavam reeleger o Presidente, caso ele se candidatasse em 1965 e nada menos que 59% apoiavam as medidas anunciadas no comício da Central do Brasil, considerado a ‘ruptura’ legitimadora do funeral democrático.
É oportuno lembrar que antes de se valer do recurso dos decretos –assinados no palanque da Central do Brasil-- Jango propôs ao Congresso a convocação de um outro plebiscito.
Em 16 de março de 1964, a notícia era dada assim na Folha:
‘O presidente João Goulart encaminhou ontem ao Congresso, em Brasília, a mensagem de abertura dos trabalhos da nova sessão legislativa e sugeriu uma reforma constitucional ampla que vise a democratização da sociedade. O presidente Jango também sugeriu a concessão do direito de voto aos analfabetos e praças e a elegibilidade dos sargentos, além de querer incorporar ao processo democrático todas as correntes do pensamento político. Outra sugestão do presidente é uma consulta popular (plebiscito) para a apuração da vontade nacional sobre as reformas de base’
O Congresso rejeitou a proposta de consultar a sociedade sobre a ampliação da democracia e da ação pública nos gargalos do desenvolvimento.
Se havia extremismo em bolsões à esquerda, como se alegava , o fato é que a radicalização golpista fechava todas as portas às tentativas de formação democrática das grandes maiorias indispensáveis a um ciclo sustentável de desenvolvimento.
A corneta da crispação midiática entoava justamente o funeral dessa possibilidade.
A rejeição doentia ao governo, às suas propostas e aos seu métodos, distorcia, boicotava e interditava o debate para desmoralizar e criminalizar as bandeiras progressistas.
Décadas de censura e monopólio das comunicações fariam o resto depois, a estender a qualquer agenda de mudança do país a mesma demonização dispensada às reformas de base em 64.
Ou não terá sido essa a reação quando, no calor dos protestos de junho de 2013, a Presidenta Dilma propôs uma consulta popular para destravar a reforma do sistema político brasileiro -- raiz da hegemonia do dinheiro grosso na democracia?
Um pedaço do que se abortou e se reprimiu em 1964 seria restituído vinte e quatro anos depois pela Constituição de 1988.
Bancadas conservadoras, todavia, impuseram importantes revezes ao resgate do tempo perdido.
A anistia recíproca, seria a mais ostensiva delas; mas também o interdito, na prática, à reforma agrária massiva, ademais da adoção de um labiríntico sistema político que condicionaria o trânsito da redemocratização.
As dores do parto persistem, 16 anos depois.
Um Presidente consagrado nas urnas pela sociedade nem por isso escapa do balcão de negócios parlamentar –e através dele, do dinheiro grosso, para obter a maioria no Congresso (leia a coluna de Marias Inês Nassif; nesta pág).
Ainda assim, a Constituinte legislou avanços indiscutíveis.
O voto ao analfabeto; a aposentadoria rural; o salário mínimo único, bem com o sistema único de saúde são alguns exemplos.
O conjunto fixou parâmetros de um Estado social que ainda hoje os interesses plutocráticos tentam reverter ou não permitem regulamentar .
Mas o que é sobretudo importante na compreensão dos conflitos que interligam o presente ao passado é que o calendário da ditadura e da redemocratização inscreveram o desenvolvimento brasileiro em um paradoxo histórico.
A contrapelo da supremacia neoliberal que florescia em praticamente todo o mundo capitalista nos anos 80, navegava-se aqui nas águas de uma democracia social infante.
Não mais decretada no palanque da Central do Brasil, mas consagrada nas páginas de uma Constituição que prometia mais do que o mercado global estava disposto a ceder então.
O ciclo tucano no poder (95/2002) foi uma tentativa de sincronizar a história do país pulando as folhas do calendário reservadas ao acerto de contas com a ditadura para engatar o mercado brasileiro às reformas neoliberais, sopradas com força cada vez maior no mundo.
Não é preciso reiterar estatísticas. O impacto qualitativo dessa elipse fala por si.
A supremacia mercadista instituída nos oito anos de poder do PSDB influenciaria de forma marcante toda a estrutura do desenvolvimento do país.
As privatizações são o exemplo matricial.
Ademais do seu recorte expropriador, elas subtraíram o poder de planejar a economia através da ação indutora dos grandes orçamentos centralizados.
Por pouco não se perdeu também o BNDES. Ou o Banco do Brasil. E a Petrobrás, que os coveiros de ontem defendem agora com brios patrióticos.
A construção interrompida de um Brasil sucessivamente barrado em 1964 e pelas reformas liberalizantes promovidas entre 1989 e 2002 encontrou uma segunda chance na eleição de Lula, em 2002.
Os resultados não tardaram a aparecer.
Bastou uma fresta de avanços nas políticas sociais, no emprego, no crédito e , sobretudo, na recomposição de poder aquisitivo do salário mínimo e o mercado interno emergiu como um leão faminto.
Em menos de uma década consolidou-se uma faixa de consumo de massa que já reúne 53% da população e 46% da renda nacional.
A crise mundial de 2008 eclodiu no meio desse percurso.
Quando a blindagem financeira e ideológica do sistema fraquejou, porém, revelou-se com maior nitidez ainda um país que já não cabia em estruturas desenhadas para 1/3 de sua população.
As desproporções inscritas nesse conflito ocupam o centro do debate político e macroeconômico atual, em que duelam dois diagnósticos.
Um quer submeter a sociedade a um freio de arrumação classista.
‘Os aeroportos estão insuportáveis’ .
O bordão síntese do arrocho ceva a ignorância da classe média em relação aos desafios do desenvolvimento (leia o artigo de Antonio Lassance: ‘Somos educados para o analfabetismo econômico’; nesta pág).
Não se nega a existência de gargalos seculares fartamente diagnosticados e assumidos como prioridade dos PACs: transportes, energia, portos, habitação etc.
O que se argui é o xamanismo segundo o qual, a restituição de plenos poderes aos deuses dos mercados é a única penitência capaz de dar a esses vazios o lastro de recursos que pode preenche-los com obras e prazos compatíveis com as urgências da economia e da sociedade.
O conflito entre o reformismo reprimido nos anos 60 e seu resgate social na Carta de 1988, e os interesses assim contrariados, explica um bom pedaço da hiperinflação vivida nos anos 80.
O Plano Real domou-a.
Em troca de conceder ao dinheiro graúdo outra salvaguarda, que não apenas a remarcação desenfreada dos preços: juros siderais passaram a defender a liquidez da dissonância histórica que caracteriza o capitalismo brasileiro hoje.
A saber: uma tentativa tardia de construção de um Estado de Bem Estar Social, em um mundo de supremacia das finanças desreguladas, de fronteiras liquefeitas e de direitos sociais dissolventes.
A cada passo do pé esquerdo social do Brasil, o direito rentista tenta passar-lhe a rasteira para obriga-lo a recuar.
A chantagem é amplamente veiculada pelo jornalismo obsequioso como virtuosa.
Para crescer o país precisa baixar os juros e alongar o financiamento requisitado ao investimento de longo prazo.
Mas nada disso ocorrerá sem escalpelar o ‘custo Brasil’.
Ou seja, renunciar a uma das mais vantajosas singularidades do sistema econômico brasileiro: políticas sociais e salariais que ativam o seu gigantesco mercado de massa.
Nada feito, replicam os mercados.
Na prática esse repto impõe ao Brasil o terceiro juro real mais alto do mundo na categoria das economias emergentes.
A informação é do ranking do banco Morgan, citado pelo Wall Street Journal (27/03).
A Selic, taxa básica brasileira, está em 10,75% ao ano.
Compare-se: a mexicana é de 3,5% e a nigeriana , de 12%.
Objetivamente falando, o que o Brasil tem para estar mais perto da frágil Nigéria do que do convulsivo México?
O Brasil tem a anacrônica teimosia de pretender que o desenvolvimento sirva para construir um Estado do Bem Estar social em pleno século XXI.
É isso que explica a ‘precificação financeira’ do país, uma espécie de ditadura monetária às reformas de base do nosso tempo -- incompreensível até para banqueiros mais sensatos, mas justificada vivamente pela mídia isenta.
Da excrescência cultivada como virtude derivam outras: o câmbio afogado em dólares especulativos, por exemplo, que valoriza o Real incentivando a importação de manufaturas e a necrose da planta industrial brasileira, por exemplo.
A dimensão política do desenvolvimento é tão explícita que só uma escandalosa ocultação de suas premissas permite reduzir os impasses atuais a um problema de gestão da Dilma –ou de corrupção do ‘lulopetismo’, a exemplo da caricatura do Presidente bonachão dos anos 60.
A maior lição desses 50 anos de derrotas e resistências, porém, é que não basta recusar a interpretação do adversário.
É preciso acreditar na própria. E dar a essa convicção uma consequência organizativa.
A pergunta inicial insiste no pano de fundo: ‘Como uma correlação de forças favorável se transforma em uma derrota política de consequências históricas demolidoras?’
A exumação dos 50 anos sugere que a resposta estaria relacionada mais à ausência de liderança disposta a organizar o protagonismo do interesse coletivo, do que à aquiescência ou a prostração da sociedade diante da ação conservadora.
Nesse malfadado ponto de encontro reside talvez o mais perigoso e atual alerta de 1964 a 2014.
A pergunta ecoa obrigatória na exumação do Brasil de 1964.
Mas a resposta extrapola a necessidade de se compreender o país que existia há meio século para iluminar os dias que correm, as horas que urgem.
A história não cabe em fascículos solteiros.
A versão dos vencedores de ontem presta serviços aos interesses de hoje que disputam a hegemonia com o objetivo de sempre.
Impedir que a sociedade destrave os ferrolhos da riqueza acumulada e altere a matriz redistributiva da que será construída.
Uma simplificação monocausal em torno 1964 remete ameaças a 2014.
Ela é disseminada por aqueles que formam o intestino delgado e sinuoso do golpismo, onde se reprocessa tudo no formato de democracia e lei.
Inclua-se aí os fulanizadores da história, especialistas na arte de abstrair interesses graúdos sem tornar a narrativa entediante.
O que eles sugerem é que 1964 nada mais foi que um mal passo do país; um escorregão sob a presidência de um político hesitante e mulherengo.
Esse, o epitáfio à geração que há 50 anos defendia reformas para cicatrizar as feridas da tradição social brasileira.
Hoje, com a mesma dissipação, tenta-se personificar o ‘problema’ do país na ‘Dilma autoritária’; agora também ‘má gestora’.
Importa, sobretudo, rebaixar o debate em torno daquilo que interliga o passado ao presente e condiciona o futuro: a disputa em torno da agenda do desenvolvimento brasileiro.
Qual país? Para quem? Como chegar lá? Onde e por que os recursos estrangulam?
Sobre 1964, a dissipação coloca na mesa incômoda dos 50 anos a guloseima ecumênica que a tudo perdoa: ‘a polarização conduziu ao golpe’, diz o glacê sobre a massa aerada por 20 anos de censura, tortura e repressão.
‘Era inevitável, qualquer um dos lados o faria a qualquer momento’, reiteram os confeitos aspergidos na memória nacional.
Em resumo: os vencidos foram responsáveis pela violência dos vencedores; a direita apenas se antecipou à ruptura cevada entre a hesitação de Jango e a radicalização ao seu redor.
A premissa está na ponta da língua dos colunistas, na rememoração lucrativa encadernada pelos amigos do regime e na boca dos torturadores cada vez mais desinibidos pela impunidade.
Fatos.
O governo Jango durou apenas 31 meses – de setembro de 1961 a 1º de abril de 1964.
Durante todo o período esteve acossado pelo bafo renitente do golpismo, sobrando ao Presidente um espaço reduzido de tempo e circunstancia para planejar sua ação e o país.
Ainda assim, a correlação de forças barrou o conservadorismo em todas as tentativas de se impor à sociedade por medidas unilaterais.
Por isso foi dado o golpe, ou não haveria necessidade dele.
A direita dispunha, como hoje, do dispositivo midiático, do dinheiro graúdo --local e forâneo , de um pedaço da classe média e de fileiras do Exército.
Mas seu fôlego eleitoral era raquítico e o pulmão político declinante (como hoje).
O projeto americanófilo carimbado em sua testa consolidara-se no imaginário popular como risivelmente entreguista (não sem boa dose de razão); seu recorte elitista recendia à casa grande, de onde urgências da senzala eram descartadas nas respostas aos desafios do desenvolvimento.
Lembra algo?
Antes de recorrer às armas, à repressão, à censura e à tortura, o espírito golpista tentou por duas vezes restringir a democracia que lhe era desfavorável, sendo sucessivamente derrotado no campo aberto do escrutínio popular.
O desenlace, portanto, não foi uma reação de autodefesa, como querem os vulgarizadores da fatalidade, mas o epílogo de uma progressão de minigolpes frustrados.
No aquecimento, tentou-se impedir a posse de Jango em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.
Só a resistência organizada –é oportuno escandir a palavra or-ga-ni-za-da-- impediu a consumação do golpe branco.
Em 27 de agosto, o então governador Leonel Brizola personificou esse requisito com a criação da ‘Cadeia da Legalidade’ no Rio Grande do Sul.
De início, formada por uma rede de rádios gaúchas, a resistência operava do porão do Palácio Piratini, para onde o líder gaúcho requisitara os transmissores da rádio Guaíba, de Porto Alegre. As tropas da Brigada Militar protegiam o Palácio em vigília diuturna.
Através das ondas médias e curtas ocupava-se o noticiário 24 horas por dia.
Brizola conclamava o povo a ir às ruas em defesa da legalidade democrática, contra o golpe da junta militar que, em Brasília, recusava autorização para Jango, em viagem oficial ao exterior, retornar ao país.
Aos poucos, outras emissoras de Porto Alegre e do interior do Estado uniram-se à Rede, que chegou a cravar 100% de audiência no estado.
O efeito contagiante da resistência iniciada em Porto Alegre romperia a fronteira gaúcha para formar uma cadeia com 104 emissoras de todo o Brasil e de países vizinhos.
Boletins noticiosos em inglês, espanhol e alemão passaram a ser emitidos.
Foram 10 dias que abalaram o Brasil.
Finalmente, o III Exército rachou e declarou solidariedade ao movimento.
O conjunto forçou o Congresso complacente a buscar uma solução negociada.
A escolhida, todavia, circunscreveria Jango nas amarras de um parlamentarismo que reduziu sua posse a um simulacro de transferência de poder.
Em 7 de setembro de 1961, Goulart receberia a faixa presidencial, mas não o mando de governo.
Descarnado dos instrumentos constitucionais, o Presidente gastou dois anos de seu mandato na agonia parlamentar.
Se não conseguiu evitar a posse, o conservadorismo logrou engessar o país agravando seus impasses para corroer, ainda mais, as bases frágeis do investimento, acelerar a fuga de capitais e adicionar pressão à caldeira inflacionária.
Criou-se assim o lastro para legitimar o discurso udenista do desgoverno, de um Brasil aos cacos, prestes a se estilhaçar –‘se não for hoje, de amanhã não passa’.
A sensação de familiaridade não é gratuita.
Com a insatisfação crescente, em janeiro de 1963, Jango convoca um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema parlamentarista.
O clima confuso criado pelo artifício conservador era respirado em cada esquina.
Mas o discernimento popular não se deixou levar pelos falsos diagnósticos.
Cerca de 80% dos brasileiros votaram pelo restabelecimento dos poderes constitucionais ao Presidente (ouça aqui a campanha popular contra a camisa de força parlamentarista feita por artistas do radio https://www.youtube.com/watch?v=MSD-RW2Kxak).
Um ano e três meses depois viria o golpe.
Possivelmente contra um terceiro revés contratado no calendário eleitoral, se a democracia perdurasse até a sucessão de Jango.
Pesquisas do maleável Ibope , mantidas em sigilo até recentemente, e levadas à rua entre 20 e 30 de março –entre o comício da Central do Brasil e o golpe de Estado-- desmentiam o consenso anti-governo alardeado por uma mídia que exortou, apoiou e justificou a derrubada violenta do Presidente da República, em 31 de março de 1964.
Ontem como hoje, a emissão conservadora foi decisiva para levar a classe média brasileira a adotar um discernimento moralista e golpista em relação aos desafios enfrentados pelo processo de desenvolvimento.
E mesmo assim, apenas uma parte dela.
Os dados colhidos cirurgicamente em meio a esse bombardeio certamente influenciaram a disposição golpista.
Pelas urnas é que não haveria de ser.
O que eles mostravam repita-se, dias antes do golpe, é que 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango entre ótimo, bom e regular (15%, 30% e 24%, respectivamente). Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo. E o mais importante: 49,8% cogitavam reeleger o Presidente, caso ele se candidatasse em 1965 e nada menos que 59% apoiavam as medidas anunciadas no comício da Central do Brasil, considerado a ‘ruptura’ legitimadora do funeral democrático.
É oportuno lembrar que antes de se valer do recurso dos decretos –assinados no palanque da Central do Brasil-- Jango propôs ao Congresso a convocação de um outro plebiscito.
Em 16 de março de 1964, a notícia era dada assim na Folha:
‘O presidente João Goulart encaminhou ontem ao Congresso, em Brasília, a mensagem de abertura dos trabalhos da nova sessão legislativa e sugeriu uma reforma constitucional ampla que vise a democratização da sociedade. O presidente Jango também sugeriu a concessão do direito de voto aos analfabetos e praças e a elegibilidade dos sargentos, além de querer incorporar ao processo democrático todas as correntes do pensamento político. Outra sugestão do presidente é uma consulta popular (plebiscito) para a apuração da vontade nacional sobre as reformas de base’
O Congresso rejeitou a proposta de consultar a sociedade sobre a ampliação da democracia e da ação pública nos gargalos do desenvolvimento.
Se havia extremismo em bolsões à esquerda, como se alegava , o fato é que a radicalização golpista fechava todas as portas às tentativas de formação democrática das grandes maiorias indispensáveis a um ciclo sustentável de desenvolvimento.
A corneta da crispação midiática entoava justamente o funeral dessa possibilidade.
A rejeição doentia ao governo, às suas propostas e aos seu métodos, distorcia, boicotava e interditava o debate para desmoralizar e criminalizar as bandeiras progressistas.
Décadas de censura e monopólio das comunicações fariam o resto depois, a estender a qualquer agenda de mudança do país a mesma demonização dispensada às reformas de base em 64.
Ou não terá sido essa a reação quando, no calor dos protestos de junho de 2013, a Presidenta Dilma propôs uma consulta popular para destravar a reforma do sistema político brasileiro -- raiz da hegemonia do dinheiro grosso na democracia?
Um pedaço do que se abortou e se reprimiu em 1964 seria restituído vinte e quatro anos depois pela Constituição de 1988.
Bancadas conservadoras, todavia, impuseram importantes revezes ao resgate do tempo perdido.
A anistia recíproca, seria a mais ostensiva delas; mas também o interdito, na prática, à reforma agrária massiva, ademais da adoção de um labiríntico sistema político que condicionaria o trânsito da redemocratização.
As dores do parto persistem, 16 anos depois.
Um Presidente consagrado nas urnas pela sociedade nem por isso escapa do balcão de negócios parlamentar –e através dele, do dinheiro grosso, para obter a maioria no Congresso (leia a coluna de Marias Inês Nassif; nesta pág).
Ainda assim, a Constituinte legislou avanços indiscutíveis.
O voto ao analfabeto; a aposentadoria rural; o salário mínimo único, bem com o sistema único de saúde são alguns exemplos.
O conjunto fixou parâmetros de um Estado social que ainda hoje os interesses plutocráticos tentam reverter ou não permitem regulamentar .
Mas o que é sobretudo importante na compreensão dos conflitos que interligam o presente ao passado é que o calendário da ditadura e da redemocratização inscreveram o desenvolvimento brasileiro em um paradoxo histórico.
A contrapelo da supremacia neoliberal que florescia em praticamente todo o mundo capitalista nos anos 80, navegava-se aqui nas águas de uma democracia social infante.
Não mais decretada no palanque da Central do Brasil, mas consagrada nas páginas de uma Constituição que prometia mais do que o mercado global estava disposto a ceder então.
O ciclo tucano no poder (95/2002) foi uma tentativa de sincronizar a história do país pulando as folhas do calendário reservadas ao acerto de contas com a ditadura para engatar o mercado brasileiro às reformas neoliberais, sopradas com força cada vez maior no mundo.
Não é preciso reiterar estatísticas. O impacto qualitativo dessa elipse fala por si.
A supremacia mercadista instituída nos oito anos de poder do PSDB influenciaria de forma marcante toda a estrutura do desenvolvimento do país.
As privatizações são o exemplo matricial.
Ademais do seu recorte expropriador, elas subtraíram o poder de planejar a economia através da ação indutora dos grandes orçamentos centralizados.
Por pouco não se perdeu também o BNDES. Ou o Banco do Brasil. E a Petrobrás, que os coveiros de ontem defendem agora com brios patrióticos.
A construção interrompida de um Brasil sucessivamente barrado em 1964 e pelas reformas liberalizantes promovidas entre 1989 e 2002 encontrou uma segunda chance na eleição de Lula, em 2002.
Os resultados não tardaram a aparecer.
Bastou uma fresta de avanços nas políticas sociais, no emprego, no crédito e , sobretudo, na recomposição de poder aquisitivo do salário mínimo e o mercado interno emergiu como um leão faminto.
Em menos de uma década consolidou-se uma faixa de consumo de massa que já reúne 53% da população e 46% da renda nacional.
A crise mundial de 2008 eclodiu no meio desse percurso.
Quando a blindagem financeira e ideológica do sistema fraquejou, porém, revelou-se com maior nitidez ainda um país que já não cabia em estruturas desenhadas para 1/3 de sua população.
As desproporções inscritas nesse conflito ocupam o centro do debate político e macroeconômico atual, em que duelam dois diagnósticos.
Um quer submeter a sociedade a um freio de arrumação classista.
‘Os aeroportos estão insuportáveis’ .
O bordão síntese do arrocho ceva a ignorância da classe média em relação aos desafios do desenvolvimento (leia o artigo de Antonio Lassance: ‘Somos educados para o analfabetismo econômico’; nesta pág).
Não se nega a existência de gargalos seculares fartamente diagnosticados e assumidos como prioridade dos PACs: transportes, energia, portos, habitação etc.
O que se argui é o xamanismo segundo o qual, a restituição de plenos poderes aos deuses dos mercados é a única penitência capaz de dar a esses vazios o lastro de recursos que pode preenche-los com obras e prazos compatíveis com as urgências da economia e da sociedade.
O conflito entre o reformismo reprimido nos anos 60 e seu resgate social na Carta de 1988, e os interesses assim contrariados, explica um bom pedaço da hiperinflação vivida nos anos 80.
O Plano Real domou-a.
Em troca de conceder ao dinheiro graúdo outra salvaguarda, que não apenas a remarcação desenfreada dos preços: juros siderais passaram a defender a liquidez da dissonância histórica que caracteriza o capitalismo brasileiro hoje.
A saber: uma tentativa tardia de construção de um Estado de Bem Estar Social, em um mundo de supremacia das finanças desreguladas, de fronteiras liquefeitas e de direitos sociais dissolventes.
A cada passo do pé esquerdo social do Brasil, o direito rentista tenta passar-lhe a rasteira para obriga-lo a recuar.
A chantagem é amplamente veiculada pelo jornalismo obsequioso como virtuosa.
Para crescer o país precisa baixar os juros e alongar o financiamento requisitado ao investimento de longo prazo.
Mas nada disso ocorrerá sem escalpelar o ‘custo Brasil’.
Ou seja, renunciar a uma das mais vantajosas singularidades do sistema econômico brasileiro: políticas sociais e salariais que ativam o seu gigantesco mercado de massa.
Nada feito, replicam os mercados.
Na prática esse repto impõe ao Brasil o terceiro juro real mais alto do mundo na categoria das economias emergentes.
A informação é do ranking do banco Morgan, citado pelo Wall Street Journal (27/03).
A Selic, taxa básica brasileira, está em 10,75% ao ano.
Compare-se: a mexicana é de 3,5% e a nigeriana , de 12%.
Objetivamente falando, o que o Brasil tem para estar mais perto da frágil Nigéria do que do convulsivo México?
O Brasil tem a anacrônica teimosia de pretender que o desenvolvimento sirva para construir um Estado do Bem Estar social em pleno século XXI.
É isso que explica a ‘precificação financeira’ do país, uma espécie de ditadura monetária às reformas de base do nosso tempo -- incompreensível até para banqueiros mais sensatos, mas justificada vivamente pela mídia isenta.
Da excrescência cultivada como virtude derivam outras: o câmbio afogado em dólares especulativos, por exemplo, que valoriza o Real incentivando a importação de manufaturas e a necrose da planta industrial brasileira, por exemplo.
A dimensão política do desenvolvimento é tão explícita que só uma escandalosa ocultação de suas premissas permite reduzir os impasses atuais a um problema de gestão da Dilma –ou de corrupção do ‘lulopetismo’, a exemplo da caricatura do Presidente bonachão dos anos 60.
A maior lição desses 50 anos de derrotas e resistências, porém, é que não basta recusar a interpretação do adversário.
É preciso acreditar na própria. E dar a essa convicção uma consequência organizativa.
A pergunta inicial insiste no pano de fundo: ‘Como uma correlação de forças favorável se transforma em uma derrota política de consequências históricas demolidoras?’
A exumação dos 50 anos sugere que a resposta estaria relacionada mais à ausência de liderança disposta a organizar o protagonismo do interesse coletivo, do que à aquiescência ou a prostração da sociedade diante da ação conservadora.
Nesse malfadado ponto de encontro reside talvez o mais perigoso e atual alerta de 1964 a 2014.
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Contraponto 13.649 - "Aécio e Eduardo"
.31/03/2014
Aécio e Eduardo
A estratégia do tucano contribui para consolidar a cultura democrática. A de Campos baseia-se
no velho personalismo
por Marcos Coimbra
A prevalecer o quadro hoje
desenhado, faremos neste ano uma eleição presidencial diferente de todas
as outras desde a redemocratização. Pela primeira vez, os dois
principais candidatos são genuínos representantes de seus partidos.
Do lado do PT, isso não é novidade e
Dilma Rousseff está escalada. Vem do PSDB a inovação. Está claro que é
cedo para decretar que chegaremos a outubro com as intenções de voto no
padrão de hoje. Mas as pesquisas são unânimes ao mostrar que, somados,
os candidatos dos demais partidos mal alcançam 10%. Em outras palavras, a
polarização entre PT e PSDB tem boa chance de se repetir.
Desta vez,
eis a questão, os tucanos caminham para apresentar algo que não têm
desde Mario Covas, um candidato do partido. Fernando Henrique Cardoso
foi lançado e se reelegeu praticamente sobre a alcunha de “homem do
real”. Em 1994 e 1998, seus eleitores mal sabiam a sua filiação
partidária. Estivesse filiado a qualquer outro, o resultado não seria
diferente.
Nas duas eleições das quais participou,
José Serra foi candidato de si mesmo. Os correligionários tinham de
ouvi-lo na televisão para se inteirar de suas pretensões e propostas. Em
2010, tanto mandava e desmandava que levou o PSDB para onde quis:
associou-o ao moralismo conservador e ao que de mais reacionário existe
na política e na sociedade brasileiras.
Geraldo Alckmin era desprezado pela elite
tucana e foi escolhido para ser derrotado por Lula. Nunca expressou o
sentimento da cúpula e das bases de seu partido (salvo, talvez, em
Pindamonhangaba).
Agora, não. Aécio Neves caminha para a eleição como candidato genuíno do PSDB. Para o bem e para o mal.
Isso fica claro no modo como responde ao
dilema que angustia os tucanos desde 2002, o de como lidar com a
“herança de Fernando Henrique Cardoso”. Ao pensarem em termos
eleitorais, Serra e Alckmin fizeram o lógico: esconderam a herança de
FHC e tentaram se desvencilhar da impopularidade do ex-presidente. Como
chegou a dizer Serra em 2010, no ápice da desfaçatez: “Eu sou o Zé que
vai continuar a obra do Lula”.
Aécio, ao contrário, faz tudo para
associar sua imagem àquela de FHC. Suas propostas, seus assessores e seu
discurso têm Fernando Henrique escrito por todos os lados, a ponto de
ensejar especulações a respeito da participação do ex-presidente como
companheiro de chapa (algo impensável nas candidaturas de Serra).
Importa pouco se Aécio age assim por obrigação ou desejo.
Se ele se oferece ao posto de continuador da “herança de Fernando
Henrique” por convicção ou para assegurar a vaga de candidato do
partido.
O fato é que o faz. Torna-se assim um “legítimo tucano”,
expressão da legenda e não de si mesmo.
É o oposto de Eduardo Campos, cuja candidatura é a enésima
encarnação de um fenômeno recorrente em nossa história eleitoral, o
personalismo daqueles que se apresentam como “indivíduos notáveis” e se
creem dotados de atributos especiais. Nada há de estranho em estar ao
lado de Marina Silva, outra dessas “personalidades” transbordantes de si
mesmas, que se projetam acima dos partidos e pedem um cheque em branco
ao eleitor (pretensamente garantido por seus “bons propósitos”).
Do modo como está
formulada, a candidatura de Aécio traz uma contribuição para a
consolidação de nossa cultura democrática. O pernambucano aposta nos
preconceitos antipartidários e no velho estereótipo de que, na escolha
eleitoral, o importante é “a pessoa do candidato”. O mineiro não esconde
de que lado está e a quem está ligado. Sem discutir sua motivação, o
relevante é o fato de educar o eleitor, enquanto o outro quer se
aproveitar de seu equívoco.
Dizê-lo não é avaliar a utilidade
estratégica das opções de ambos. “Tucanizar-se” pode ser (muito) nefasto
para as pretensões eleitorais de Aécio, enquanto fingir-se
“apartidário” pode ser uma estratégia esperta de Campos. Ou vice-versa.
Nada disso deve, porém, ter consequências
de curto prazo nestas eleições. Mantidas as tendências conhecidas e a
se considerar o cenário da disputa a seis meses do pleito, a chance de
qualquer um dos dois, independentemente do que fizerem, é pequena. Dilma
Rousseff é a favorita.
A discussão concentra-se no que deve acontecer no médio e
longo prazos. Nesse horizonte, quem faz a coisa certa é Aécio Neves. Se
não tomar cuidado, o futuro de Campos é ser mais um jovem político
promissor perdido no meio do caminho. A estrada está cheia deles.
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Contraponto 13.648 - "Petrobras: nada a esconder. Muito a enfrentar"
.
31/03/2014
Petrobras: nada a esconder. Muito a enfrentar
Tijolaço - 31 de março de 2014 | 09:47 Autor: Fernando Brito
Autor: Fernando Brito
Num gesto de transparência, Petrobras publicou , nesta segunda-feira, duas notas nos principais jornais brasileiros, que reproduzo ao final do post.
Nelas, informa que a Comissão Interna de Apuração constituída para averiguar as denúncias de supostos pagamentos de suborno a empregados da companhia, envolvendo a empresa SBM Offshore, não encontrou fatos ou documentos que evidenciem pagamento de propina a empregados da Petrobras. Essa comissão foi, inclusive, recolher na Europa os documentos que estariam em poder do Ministério Público da Holanda, com denúncias contra a empresa. E foi informada pelas autoridades daquele país, embora se tenha feito uma onda imensa no Brasil , de que “não há investigação aberta sobre o caso de propina envolvendo a empresa SBM Offshore e a Petrobras. ”
A segunda informa da abertura de investigação interna sobre a compra da refinaria de Pasadena.
A empresa está cumprindo seu dever de apurar, e ninguém pode achar que quadros de carreira da Petrobras pudessem colocar suas reputações e empregos em jogo para proteger quem quer que seja por razões políticas, ainda mais em um trabalho que será enviado ao Ministério Público, ao TCU e, claro, à CPI que querem instalar sobre o caso.
Falta, agora, cumprir o segundo dever, tão importante quanto o da transparência.
O de assumir a defesa política da empresa, de seu papel na libertação do Brasil, da denúncia das ambições e apetites que cercam a maior empresa do Brasil, a mais capaz e a mais importante para o imenso tesouro do pré-sal.
..
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Contraponto 13.647 - "Quem vendeu a Petrobrax? FHC e Eros Grau"
.
31/03/2014
Na pág. A11, do Valor, o PiG (*) cheiroso, o Farol de Alexandria concede a 989ª entrevista deste mês de março.
Como se sabe, FHC não existe mais.
Num processo de metamorfose que Kafka e Borges explicam, passou a ser um espécime de zoologia fantástica.
Ele só existe no PiG.
Na entrevista, trata de trivialidades sobre o Golpe de 1964 com a profundidade de um pires de café.
Mas, faz observações tão superficiais quanto reveladoras.
Por exemplo, ele atribui a “crise” da Petrobras à histórica decisão do Presidente Lula, da Dilma, do Haroldo Lima e do Sergio Gabrielli de devolver a Petrobras ao povo.
Foi quando se descobriu o pré-sal e ficou estabelecido o regime de partilha – e, não, o de concessão, que vigorou no Governo sombrio do Príncipe da Privataria.
Segundo ele, a Petrobras, coitadinha, não tem dinheiro para explorar 30% do pré-sal.
Tinha que conceder à Chevron, como sugeriu seu parceiro e aliado de todas as horas, o Padim Pade Cerra, no WikiLeaks.
Adiante, ele entrega a rapadura:
“Quando fizemos a Lei do Petróleo (em 1997, ou seja, quando quebrou o monopólio estatal – PHA) começamos a mexer mais na Petrobras…”
E vai numa lengalenga para demonstrar que “não houve conchavo político para nomear diretores da Petrobras”.
Quá, quá, quá !
E ele manteve lá, na presidência, o representante do PFL, o Joel Rennó…
Foi Fernando Henrique quem quebrou o monopólio estatal.
Não sem antes tomar todas as providências para enfraquecê-la, esvaziá-la de poder e de músculos, para fatiá-la e vender na bacia das almas, como fez com a Vale.
Clique aqui para ler sobre como o Príncipe da Privataria esquartejou a Petrobras.
Porém, não agiu sozinho.
O amigo navegante deve lembrar-se do Ministro Eros Grau, aquele que relatou a vergonhosa decisão do Supremo de anistiar a Lei da Anistia.
Terá sido essa a decisão que inscreveu Grau no Muro da Vergonha que separa o Supremo do cidadão brasileiro ?
Não apenas essa.
O Governador do Paraná, Roberto Requião, a Federação Única dos Petroleiros, a FUP, e o Sindipetro do Paraná entraram no Supremo contra a quebra do monopólio estatal da Petrobras.
Esteve nas mãos de Eros Grau impedir que o crime de FHC se consumasse.
Porém, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.273-9 – Distrito Federal, em 16 de março de 2005, Eros Grau cometeu o segundo erro fatal.
Clique aqui para ler os documentos
(O amigo navegante poderá contemplar – desde que contenha ímpetos imprevisíveis – o voto integral no fim deste post.)
O Conversa Afiada preferiu compartilhar com o amigo navegante a análise impiedosa de quem acompanha os passos de entreguistas como o Farol e o Grau:
1) O voto do Eros foi o voto que consagrou a opinião da maioria, decidindo que a lei do petróleo do FHC era constitucional. O Carlos Ayres era o relator, se manifestou, corretamente, pela inconstitucionalidade. O Marco Aurélio pediu vistas e também fez um voto pela inconstitucionalidade da lei do FHC. O Eros, então, pediu vistas e fez um voto pela constitucionalidade da lei e os demais ministros seguiram o seu voto, decidindo a maioria, equivocadamente, pela constitucionalidade da lei do petróleo de FHC. Por isso, mesmo não sendo o relator da ação, o Eros foi designado relator para o acórdão, por representar a opinião majoritária.
2) Na verdade, o Eros usa um artigo do Comparato sobre monopólio, mas não tinha nada a ver com a questão do petróleo. O Comparato tinha escrito um artigo na Folha defendendo a inconstitucionalidade da lei do FHC e o Ayres Britto citou esse artigo. O Eros, então, usou um artigo do Comparato para dar a entender que o Comparato teria sido incoerente, o que não era verdade. Tanto não era verdade que o próprio Comparato soltou outro artigo na Folha, chamado “resposta a um magistrado”, logo depois do voto do Eros ter sido lido, detonando o que o Eros havia feito e nos dois nunca mais se falaram.
Em tempo: Fábio Konder Comparato, Professor Emérito da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, trabalhou no Supremo, no gabinete de Evandro Lins e Silva.
Com a deputada Luiza Erundina, preparou um projeto de lei para rasgar a Lei da Anistia que envergonha o Supremo – e o Brasil.
E está no Supremo com uma Ação para punir o Congresso por Omissão, porque não regulamenta os artigos da Constituição que tratam da Comunicação.
É preciso dizer mais, amigo navegante, sobre Comparato, Grau e FHC ?
Paulo Henrique Amorim
Ler a matéria toda aqui
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31/03/2014
Quem vendeu a Petrobrax? FHC e Eros Grau
Do Conversa Afiada - Publicado em 31/03/2014
Eros cavalgou sobre a Constituição e um artigo do Comparato.
Como se sabe, FHC não existe mais.
Num processo de metamorfose que Kafka e Borges explicam, passou a ser um espécime de zoologia fantástica.
Ele só existe no PiG.
Na entrevista, trata de trivialidades sobre o Golpe de 1964 com a profundidade de um pires de café.
Mas, faz observações tão superficiais quanto reveladoras.
Por exemplo, ele atribui a “crise” da Petrobras à histórica decisão do Presidente Lula, da Dilma, do Haroldo Lima e do Sergio Gabrielli de devolver a Petrobras ao povo.
Foi quando se descobriu o pré-sal e ficou estabelecido o regime de partilha – e, não, o de concessão, que vigorou no Governo sombrio do Príncipe da Privataria.
Segundo ele, a Petrobras, coitadinha, não tem dinheiro para explorar 30% do pré-sal.
Tinha que conceder à Chevron, como sugeriu seu parceiro e aliado de todas as horas, o Padim Pade Cerra, no WikiLeaks.
Adiante, ele entrega a rapadura:
“Quando fizemos a Lei do Petróleo (em 1997, ou seja, quando quebrou o monopólio estatal – PHA) começamos a mexer mais na Petrobras…”
E vai numa lengalenga para demonstrar que “não houve conchavo político para nomear diretores da Petrobras”.
Quá, quá, quá !
E ele manteve lá, na presidência, o representante do PFL, o Joel Rennó…
Foi Fernando Henrique quem quebrou o monopólio estatal.
Não sem antes tomar todas as providências para enfraquecê-la, esvaziá-la de poder e de músculos, para fatiá-la e vender na bacia das almas, como fez com a Vale.
Clique aqui para ler sobre como o Príncipe da Privataria esquartejou a Petrobras.
Porém, não agiu sozinho.
O amigo navegante deve lembrar-se do Ministro Eros Grau, aquele que relatou a vergonhosa decisão do Supremo de anistiar a Lei da Anistia.
Terá sido essa a decisão que inscreveu Grau no Muro da Vergonha que separa o Supremo do cidadão brasileiro ?
Não apenas essa.
O Governador do Paraná, Roberto Requião, a Federação Única dos Petroleiros, a FUP, e o Sindipetro do Paraná entraram no Supremo contra a quebra do monopólio estatal da Petrobras.
Esteve nas mãos de Eros Grau impedir que o crime de FHC se consumasse.
Porém, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.273-9 – Distrito Federal, em 16 de março de 2005, Eros Grau cometeu o segundo erro fatal.
Clique aqui para ler os documentos
(O amigo navegante poderá contemplar – desde que contenha ímpetos imprevisíveis – o voto integral no fim deste post.)
O Conversa Afiada preferiu compartilhar com o amigo navegante a análise impiedosa de quem acompanha os passos de entreguistas como o Farol e o Grau:
1) O voto do Eros foi o voto que consagrou a opinião da maioria, decidindo que a lei do petróleo do FHC era constitucional. O Carlos Ayres era o relator, se manifestou, corretamente, pela inconstitucionalidade. O Marco Aurélio pediu vistas e também fez um voto pela inconstitucionalidade da lei do FHC. O Eros, então, pediu vistas e fez um voto pela constitucionalidade da lei e os demais ministros seguiram o seu voto, decidindo a maioria, equivocadamente, pela constitucionalidade da lei do petróleo de FHC. Por isso, mesmo não sendo o relator da ação, o Eros foi designado relator para o acórdão, por representar a opinião majoritária.
2) Na verdade, o Eros usa um artigo do Comparato sobre monopólio, mas não tinha nada a ver com a questão do petróleo. O Comparato tinha escrito um artigo na Folha defendendo a inconstitucionalidade da lei do FHC e o Ayres Britto citou esse artigo. O Eros, então, usou um artigo do Comparato para dar a entender que o Comparato teria sido incoerente, o que não era verdade. Tanto não era verdade que o próprio Comparato soltou outro artigo na Folha, chamado “resposta a um magistrado”, logo depois do voto do Eros ter sido lido, detonando o que o Eros havia feito e nos dois nunca mais se falaram.
Em tempo: Fábio Konder Comparato, Professor Emérito da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, trabalhou no Supremo, no gabinete de Evandro Lins e Silva.
Com a deputada Luiza Erundina, preparou um projeto de lei para rasgar a Lei da Anistia que envergonha o Supremo – e o Brasil.
E está no Supremo com uma Ação para punir o Congresso por Omissão, porque não regulamenta os artigos da Constituição que tratam da Comunicação.
É preciso dizer mais, amigo navegante, sobre Comparato, Grau e FHC ?
Paulo Henrique Amorim
Ler a matéria toda aqui
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Contraponto 13.646 - "Presidente Dilma Rousseff, em três momentos emblemáticos contra a ditadura"
Jornal GGN – seg, 31/03/2014 - 08:50
A presidente Dilma Rousseff foi uma ativista, uma fiel seguidora de suas certezas. Sem alongar em sua biografia, aqui um apanhado significativo de sua trajetória, em três momentos marcantes.
O primeiro é representado pela foto da jovem Dilma diante de um tribunal militar. Jovem sim, mas que evidenciava grande força. A presidente ficou 3 anos presa, foi torturada e de lá saiu aos 21 anos. Eis a foto que muito representa uma época.
Outro momento inesquecível, foi sua resposta ao Senador Agripino Maia, do DEM, quando da audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado, em maio de 2008, quando era ministra da Casa Civil. Eis uma transcrição de sua resposta, extraída do Youtube.
Transcrição do trecho da audiência, realizada em 7 de maio de 2008 pela Comissão de Infraestrutura do Senado:
Senador José Agripino Maia (DEM): "A senhora mentiu na ditadura, mentirá aqui?"
DILMA ROUSSEFF: "Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira.
Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para os seus interrogadores, compromete a vida dos seus iguais e entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido senador, porque mentir na tortura não é fácil. Agora, na democracia se fala a verdade, diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira. E isso (aplausos) e isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho, e eu não estou falando de heróis. Feliz do povo que não tem heróis desse tipo, senador, porque agüentar a tortura é algo dificílimo, porque todos nós somos muito frágeis, todos nós. Nós somos humanos, temos dor, e a sedução, a tentação de falar o que ocorreu e dizer a verdade é muito grande senador, a dor é insuportável, o senhor não imagina quanto é insuportável.
Então, eu me orgulho de ter mentido, eu me orgulho imensamente de ter mentido, porque eu salvei companheiros, da mesma tortura e da morte. Não tenho nenhum compromisso com a ditadura em termos de dizer a verdade. Eu estava num campo e eles estavam noutro e o que estava em questão era a minha vida e a de meus companheiros. E esse país, que transitou por tudo isso que transitou, que construiu a democracia, que permite que hoje eu esteja aqui, que permite que eu fale com os senhores, não tem a menor similaridade, esse diálogo aqui é o diálogo democrático. A oposição pode me fazer perguntas, eu vou poder responder, nós estamos em igualdade de condições humanas, materiais.
Nós não estamos num diálogo entre o meu pescoço e a forca, senador. Eu estou aqui num diálogo democrático, civilizado, e por isso eu acredito e respeito esse momento. Por isso, todas as vezes eu já vim aqui nessa comissão antes. Então, eu começo a minha fala dizendo isso, porque isso é o resgate desse processo que ocorreu no Brasil. Vou repetir mais uma vez:
Não há espaço para a verdade, e é isso que mata na ditadura. O que mata na ditadura é que não há espaço para a verdade porque não há espaço para a vida, senador. Porque algumas verdades, até as mais banais, podem conduzir à morte. É só errarem a mão no seu interrogatório.
E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos diversos da nossa vida em 70.
Eu asseguro pro senhor, eu tinha entre 19 e 21 anos e, de fato, eu combati a ditadura militar, e disso eu tenho imenso orgulho."
E, por fim, a presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento, em janeiro de 2012, ao empossar os integrantes da Comissão Nacional da Verdade, ela se emociona ao relembrar os motivos que levaram o país a ter necessidade de tal Comissão.
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domingo, 30 de março de 2014
Contraponto 13.645 - "Sem quadrilha e sem foro especial, mensalão desaba "
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30/03/2014
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Sem quadrilha e sem foro especial, mensalão desaba
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Do Brasil 247 - 30 de Março de 2014 às 19:15
Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Simone
Vasconcelos, Vinicius Samarane, José Roberto Salgado, Kátia Rabelo,
Jacinto Lamas, João Claudio Genu e Enivaldo Quadrado são personagens
quase anônimos e, naturalmente, sem foro privilegiado; réus da Ação
Penal 470, foram julgados diretamente pelo Supremo Tribunal Federal, ao
contrário de Eduardo Azeredo, que renunciou ao mandato; segundo Gilmar
Mendes, todos faziam parte de uma "teia", diferentemente do chamado
"mensalão tucano"; mas como existe a teia se não houve formação de
quadrilha?; castelo de cartas de Joaquim Barbosa ruiu e recurso à Corte
Interamericana de Direitos Humanos se faz urgente e necessário
Como se sabe, Azeredo renunciou ao mandato, perdendo, assim, o foro privilegiado. Será julgado em primeira instância e terá direito a todos os recursos até que seu caso chegue ao STF, configurando o chamado trânsito em julgado.
Como a Constituição estabelece que todos são iguais perante a lei, uma questão central emerge: por que os réus da Ação Penal 470 não foram julgados em primeira instância, podendo também recorrer de eventuais condenações? E não estamos aqui falando de personagens da vida pública, como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que, aliás, também não tinham foro privilegiado. Mas de personagens secundários, com vidas distantes da política, como o bancário Vinicius Samarane ou a secretária Simone Vasconcelos. Por que a eles não foi dado o direito de serem julgados em primeira instância? A mesma questão se aplica a nomes como Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, José Roberto Salgado, Kátia Rabelo, Jacinto Lamas, João Claudio Genu e Enivaldo Quadrado, entre outros.
Todos esses foram levados ao STF graças à construção da procuradoria-geral da República, que alegou que agiam de forma integrada, numa quadrilha. "O mensalão era uma rede, uma teia, não havia como separar os investigados. Naquele caso, pouco importava ter ou não direito a foro privilegiado", disse o ministro Gilmar Mendes.
Será mesmo? Mas por que será que os réus do chamado "mensalão tucano" puderam ter seus processos desmembrados? Será que Eduardo Azeredo não formava uma "teia" com seu vice-governador Walfrido dos Mares Guia, com seu tesoureiro Claudio Mourão e com o onipresente Marcos Valério?
Os casos tiveram desfechos distintos porque, no início, não foi aceita a imputação de quadrilha aos réus do mensalão tucano. Quadrilheiros eram, apenas, os petistas. Mas o que fazer, agora, que o crime de formação de quadrilha foi derrubado pelo STF, na votação dos embargos infringentes? Como fica a teia?
Se essa rede de criminosos não existe mais e se réus sem direito ao foro privilegiado devem ser julgados em primeira instância, diversos cidadãos brasileiros estão presos ilegalmente. E o STF deveria ser o principal interessado em reverter a ilegalidade numa eventual revisão criminal.
Como isso dificilmente ocorrerá, não resta aos réus da Ação Penal 470 outra alternativa que não seja o recurso à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, da qual o Brasil é signatário. Ela estabelece que todo e qualquer réu, num país democrático, tem direito ao chamado duplo grau de jurisdição, ou seja, a pelo menos uma possibilidade de recurso.
Este direito foi subtraído de vários réus porque eles formariam uma "teia", que o próprio STF concluiu não existiu mais.
Isso demonstra que o castelo de cartas construído por Joaquim Barbosa desmoronou na semana passada. E agora, STF?
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Contraponto 13.644 - "A corrupção na ditadura militar"
30/03/2014
A corrupção na ditadura militar
Do Bloco do Miro - domingo, 30 de março de 2014
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Por Marcelo Semer, no blog Sem Juízo:
Uma das grandes sandices dos saudosistas da ditadura, ou daqueles que evocam a nostalgia do que jamais conheceram, é pregar por “um golpe militar contra a corrupção”.
Nessas toscas, porém não ingênuas, chamadas para uma marcha com Deus, família, liberdade e canhões, a ideia se repete com uma irritante constância.
Mas um golpe militar jamais será contra a corrução. O golpe é a própria corrupção.
Não bastasse o fato de corromper a ideia em si do estado de direito (que cede ao estágio da força bruta), e ser, portanto, uma violência contra a democracia, a ditadura por essência se opõe aos princípios mais básicos do combate a qualquer corrupção: transparência e igualdade.
Nada disso existe quando o poder é absoluto.
Não passa de um mito, construído pelo marketing da mentira e pela estratégia da ocultação, a ideia de que não houve corrupção na ditadura.
Pequenas notícias, grandes fortunas.
Quantos não foram os empreendedores pró-militares que enriqueceram, enquanto o país se endividava brutalmente?
O que não havia na ditadura era liberdade da imprensa para divulgar, nem a de órgãos de controle para averiguar ilícitos.
A ideia de república pressupõe o controle do poder; a ditadura, ao revés, se baseia no uso do poder como controle.
Reportagem recente do jornal O Globo -insuspeito no assunto, porque foi um dos mais persistentes no apoio aos militares- aponta que a Comissão Geral de Investigação criada pela ditadura arquivou inúmeras denúncias contra amigos do regime ao mesmo tempo em que se detinha em vasculhar a vida de seus opositores.
Enquanto arquivos pessoais de Leonel Brizola e João Goulart eram devassados (sem sucesso) pelos investigadores atrelados ao governo, denúncias contra José Sarney e Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, foram simplesmente arquivadas sem qualquer tipo de apuração.
Os amigos do poder tinham mais que direitos; os inimigos, bem menos do que a lei.
Pode-se encontrar violência, privilégios e obediência pelo medo nos desvãos da nossa ditadura.
Mas não uma polícia isenta, um Ministério Público com autonomia ou a plena independência judicial.
A promiscuidade entre empresários e membros do regime militar é, aliás, um dos pontos que tem chamado a atenção da Comissão Nacional da Verdade recentemente. Já foram levantados vários apontamentos de visitas de representantes de entidades de industriais a locais de repressão.
O documentário Cidadão Boilesen (2009, direção Chaim Litewsky) aborda o tema com farto material histórico, relatando o subsídio empresarial para a manutenção de centros de tortura –uma espécie de parceria público privada para uma operação ilegal, ao mesmo tempo no coração e à margem do sistema.
Alguns aderiram à promiscuidade como forma de não serem alijados de licitações ou grandes contratos; outros justamente para poder se aproveitar das oportunidades que se abriam com essas ligações escusas -o documentário avoluma dados sobre as conexões entre o grupo do executivo e a Petrobrás.
Com a aproximação do aniversário de cinquenta anos do golpe militar, que mergulhou o país em mais de duas décadas de sombras, proliferam-se manifestações nostálgicas, estimuladas pelo negacionismo de historiadores reacionários.
A ditadura, de fato, tinha menos paciência com rebeliões de políticos aliados. E nenhuma tolerância contra os inimigos do regime.
Mas daí não resulta qualquer mérito. Ao revés, a intolerância do poder foi devastadora.
Muitas famílias acabaram destroçadas. E as marchas que vieram a partir do golpe não desaguaram nem em Deus nem nas liberdades. Apenas espalharam violência.
Há quem esteja predestinado a repetir a história como farsa. Mas há muita gente ainda de olho na tragédia.
Por Marcelo Semer, no blog Sem Juízo:
Uma das grandes sandices dos saudosistas da ditadura, ou daqueles que evocam a nostalgia do que jamais conheceram, é pregar por “um golpe militar contra a corrupção”.
Nessas toscas, porém não ingênuas, chamadas para uma marcha com Deus, família, liberdade e canhões, a ideia se repete com uma irritante constância.
Mas um golpe militar jamais será contra a corrução. O golpe é a própria corrupção.
Não bastasse o fato de corromper a ideia em si do estado de direito (que cede ao estágio da força bruta), e ser, portanto, uma violência contra a democracia, a ditadura por essência se opõe aos princípios mais básicos do combate a qualquer corrupção: transparência e igualdade.
Nada disso existe quando o poder é absoluto.
Não passa de um mito, construído pelo marketing da mentira e pela estratégia da ocultação, a ideia de que não houve corrupção na ditadura.
Pequenas notícias, grandes fortunas.
Quantos não foram os empreendedores pró-militares que enriqueceram, enquanto o país se endividava brutalmente?
O que não havia na ditadura era liberdade da imprensa para divulgar, nem a de órgãos de controle para averiguar ilícitos.
A ideia de república pressupõe o controle do poder; a ditadura, ao revés, se baseia no uso do poder como controle.
Reportagem recente do jornal O Globo -insuspeito no assunto, porque foi um dos mais persistentes no apoio aos militares- aponta que a Comissão Geral de Investigação criada pela ditadura arquivou inúmeras denúncias contra amigos do regime ao mesmo tempo em que se detinha em vasculhar a vida de seus opositores.
Enquanto arquivos pessoais de Leonel Brizola e João Goulart eram devassados (sem sucesso) pelos investigadores atrelados ao governo, denúncias contra José Sarney e Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, foram simplesmente arquivadas sem qualquer tipo de apuração.
Os amigos do poder tinham mais que direitos; os inimigos, bem menos do que a lei.
Pode-se encontrar violência, privilégios e obediência pelo medo nos desvãos da nossa ditadura.
Mas não uma polícia isenta, um Ministério Público com autonomia ou a plena independência judicial.
A promiscuidade entre empresários e membros do regime militar é, aliás, um dos pontos que tem chamado a atenção da Comissão Nacional da Verdade recentemente. Já foram levantados vários apontamentos de visitas de representantes de entidades de industriais a locais de repressão.
O documentário Cidadão Boilesen (2009, direção Chaim Litewsky) aborda o tema com farto material histórico, relatando o subsídio empresarial para a manutenção de centros de tortura –uma espécie de parceria público privada para uma operação ilegal, ao mesmo tempo no coração e à margem do sistema.
Alguns aderiram à promiscuidade como forma de não serem alijados de licitações ou grandes contratos; outros justamente para poder se aproveitar das oportunidades que se abriam com essas ligações escusas -o documentário avoluma dados sobre as conexões entre o grupo do executivo e a Petrobrás.
Com a aproximação do aniversário de cinquenta anos do golpe militar, que mergulhou o país em mais de duas décadas de sombras, proliferam-se manifestações nostálgicas, estimuladas pelo negacionismo de historiadores reacionários.
A ditadura, de fato, tinha menos paciência com rebeliões de políticos aliados. E nenhuma tolerância contra os inimigos do regime.
Mas daí não resulta qualquer mérito. Ao revés, a intolerância do poder foi devastadora.
Muitas famílias acabaram destroçadas. E as marchas que vieram a partir do golpe não desaguaram nem em Deus nem nas liberdades. Apenas espalharam violência.
Há quem esteja predestinado a repetir a história como farsa. Mas há muita gente ainda de olho na tragédia.
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Contraponto 13.643 - "Folha descobre que Pasadena dá lucro"
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30/03/2014
Autor: Miguel do Rosário
Enfim um grande jornal brasileiro enviou um repórter à Pasadena! A jornalista Isabel Fleck viajou para lá e publicou hoje sua primeira matéria sobre o tema. E o que ela descobriu? Que nos últimos dois anos, a refinaria teve seu melhor desempenho desde 2005, “operando com uma boa margem”. E com “média de 95% de aproveitamento”!
Ou seja, Pasadena dá lucro!
Trecho da matéria:
Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:
Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!
O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.
Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005, 2006 e 2007, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.
Mas pedir para a Folha contextualizar as informações seria demais, não é?
.
Folha envia repórter a Pasadena e descobre, de má vontade, que ela dá lucro!
Enviado por Miguel do Rosário
on 30/03/2014 – 11:52 am
27 comentários
Enfim um grande jornal brasileiro enviou um repórter à Pasadena! A jornalista Isabel Fleck viajou para lá e publicou hoje sua primeira matéria
sobre o tema. E o que ela descobriu? Que nos últimos dois anos, a
refinaria teve seu melhor desempenho desde 2005, “operando com uma boa
margem”. E com “média de 95% de aproveitamento”!
Ou seja, Pasadena dá lucro!
Trecho da matéria:
Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:
Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!
O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.
Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005 e 2006, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.
Mas pedir para a Folha contextualizar as informações seria demais, não é?
15 1151
- See more at:
http://www.ocafezinho.com/2014/03/30/folha-envia-reporter-a-pasadena-e-descobre-de-ma-vontade-que-ela-da-lucro/?fb_action_ids=10201136208086912&fb_action_types=og.comments#sthash.XsctmpgG.dpufOu seja, Pasadena dá lucro!
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Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:
Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!
O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.
Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005 e 2006, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.
Mas pedir para a Folha contextualizar as informações seria demais, não é?
15 1151
Folha envia repórter a Pasadena e descobre, de má vontade, que ela dá lucro!
Enviado por Miguel do Rosário
on 30/03/2014 – 11:52 am
27 comentários
Enfim um grande jornal brasileiro enviou um repórter à Pasadena! A jornalista Isabel Fleck viajou para lá e publicou hoje sua primeira matéria
sobre o tema. E o que ela descobriu? Que nos últimos dois anos, a
refinaria teve seu melhor desempenho desde 2005, “operando com uma boa
margem”. E com “média de 95% de aproveitamento”!
Ou seja, Pasadena dá lucro!
Trecho da matéria:
Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:
Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!
O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.
Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005 e 2006, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.
Mas pedir para a Folha contextualizar as informações seria demais, não é?
15 1151
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Trecho da matéria:
Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:
Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!
O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.
Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005 e 2006, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.
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15 1151
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Contraponto 13.642 - "O ser e o nada"
30/03/2014
O ser e o nada
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O retorno de Roberto D’Ávila à TV trouxe uma
interessante entrevista, do ponto de vista do entrevistador, com Joaquim
Barbosa.
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Reprodução de vídeo
O ego inflado de Barbosa enfrenta a elegância de D'Ávila
por Nirlando Beirão
Roberto D’Ávila tem aquele jeito de moço fino, bonzinho e elegante, mas pode ser maquiavelicamente cruel. Em seu retorno à tevê, a bordo do Globo News, o suave D’Ávila elegeu uma notável vítima. Na estreia, sábado de madrugada (com incansáveis repetições), anunciou que iria levar ao ar o lado humano do ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF. Os telespectadores continuam procurando por ele. O apresentador esperou sete meses pelo sim de Joaquim Barbosa. O que mostra a férrea premeditação de sua malvadeza.
Foi uma interessantíssima entrevista, do
ponto de vista do entrevistador. Para o entrevistado, um desastre.
Mostrou que, por trás da toga punitiva, existe um vazio abissal. Barbosa
é um nada estrepitoso. Duvido que um único dos torcedores partidários
do ministro não tenha chegado ao fim daquela hora inteira de platitudes
sem saborear insuportável decepção. Barbosa não produziu uma escassa
ideia. Ele não tem nada a dizer além dos autos de sua particular
Inquisição. Foi constrangedor.
D’Ávila, com luvas de pelica, jogava a
isca e Barbosa, encouraçado em sua arrogância, nem sequer percebia.
D’Ávila indicava, na delicadeza das perguntas, saída lisonjeira para a
resposta. “O senhor lê muito, não é? Balzac?” Barbosa estufou o ego: “É,
Balzac”. E mais não disse. “O que o senhor escuta?” “Tudo.” “Beatles ou
Rolling Stones?” “Os dois.”
O único momento em que Barbosa demonstrou
alguma emoção foi ao falar de racismo. Daquele jeito.
O rancor pauta a
vida dele. Deve ter sido mesmo muito humilhado. Sugeriu até que Lula
nomeou-o para o STF de olho na cota, não em reconhecimento por seu
currículo, brilhante, cosmopolita. Fica difícil assim: deixar de nomear
um negro teria sido racismo. Nomear também é?
_________________________________
PITACO DO ContrapontoPIG
Um vazio abissal cheio de maldade
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Contraponto 13.641 - "Uma pequena biografia de Leonel Brizola em vídeo"
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Contraponto 13.640 - 'FHC adere à “operação ditabranda' "
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30/3/2014
FHC adere à “operação ditabranda”
Tijolaço - 30 de março de 2014 | 10:58 Autor: Miguel do Rosário
Autor: Miguel do Rosário
FHC, em entrevista para o UOL:
“Havia tanta indecisão que ninguém sabia de que lado viria o golpe, mas todos sabiam que haveria o golpe. Havia um sentimento de que tinha um golpe em marcha. Uns achavam que era um golpe feito pelo Jango, preventivo, outros achavam que não. Então não foi propriamente uma surpresa para nós o golpe.”
O ex-presidente, ao fazer uma afirmação tão absurda, aderiu à operação “ditabranda” da grande mídia para relativizar a ditadura. Se Jango também queria dar um “golpe”, então os militares agiram corretamente ao derrubá-lo…
Só que é mentira, ou antes, é manipulação. A imprensa golpista é que promovia esse tipo de terrorismo. Ela mentia dia e noite dizendo que Jango daria o golpe. Há uma entrevista de Lacerda ao Globo, em março de 1964, na qual o então governador do estado da Guanabara afirma que Jango daria um golpe em 15 dias.
Tudo mentira, já devidamente enterrada por todo historiador. Não havia nenhum plano de Goulart nesse sentido. Tanto que não ofereceu sequer resistência à ditadura (oferecer resistência também não significaria que Jango armava golpe; não fazê-lo, porém, mostrou que era um governo pacífico, até demais). A mídia inventava mentiras sobre Goulart com objetivo de criar uma atmosfera de crise política insanável. Jango era um democrata cercado de ministros, secretários e amigos democratas, como Darcy Ribeiro, Celso Furtado, São Tiago Dantas, João Mangabeira, Brizola e tantos outros.
FHC é desonesto intelectualmente ao não esclarecer que o medo de um golpe por parte do governo Jango era uma mentira da mídia, e já era o golpe em si.
É lamentável que um intelectual como FHC se preste a esse papel sujo de caluniar o governo Jango e desinformar a sociedade.
Não havia justificativa para o golpe. Foi um ato puro e truculento de arbítrio. Ponto final.
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PITACO do ContrapontoPIG
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Quando adolescente, participando de peladas de futebol, observei várias vezes que quando algum jogador "afundava o time", alguém gritava : "FULANO... PEDE PRA CAGAR E SAI!"
Vendo agora a atitude canalha do "jogador" que quase afundou o Brasil, tornando-se o presidente mais pernicioso ao nosso País em todos os tempos, deitando falação, não posso me conter e grito:
. - FHC... PEDE PRA CAGAR E SAI!
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Contraponto 13.639 - "Programa partidário de TV de Campos pode ser sucesso de crítica, mas não de público"
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30/03/2014
Programa partidário de TV de Campos pode ser sucesso de crítica, mas não de público
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Ao ver a propaganda partidária do
PSB com o governador de Pernambuco e Marina Silva, pensa-se até que foi
feita por um marqueteiro infiltrado a serviço de Aécio Neves
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PSB
O tom em preto e branco se somou ao desânimo nas falas de Marina e Campos
Colocar Eduardo Campos e Marina Silva dialogando no
programa de TV do PSB, levado ao ar na quinta-feira (27), foi uma boa
tentativa, válida para o governador de Pernambuco tentar receber
transferência de votos da ex-senadora, mas, pelo resto do formato, não
deu grande resultado.
A escolha de filmar em preto e branco e dar um formato de conversa intimista foi ousado, mas, à medida em que os dois foram falando, ficou um clima soturno, depressivo. Marina em alguns momentos parecia desanimada e abatida em preto e branco. A conversa literalmente mole de Campos dificultava prender atenção no conteúdo. Foi preciso assistir uma segunda vez para não perder a concentração. As falas críticas a Dilma Rousseff tampouco ajudam. Pelo contrário, fazem do programa algo pessimista, fatal para espantar qualquer eleitor.
Numa segunda vez, prestando mais atenção à estética, as imagens em preto e branco já parecem melhores. Mas a fala baixa de Campos, com um conteúdo pouco atraente, passou a imagem de malemolência. Nada bom para quem pleiteia um cargo que exige dinamismo, como a presidência da República. Além disso, nos momentos em que Campos e Marina criticaram Dilma na condução da economia, pareciam vizinhas faladeiras sem apresentar soluções.
Se compararmos a economia e os serviços públicos com um copo d'água meio cheio, onde o eleitor está interessado em eleger alguém que o encha mais, pelo que se viu na TV Campos não poderia ser o escolhido, pois passou os dez minutos só falando que o copo estaria vazio.
Ele também errou ao criticar a Petrobras pelo valor de mercado, um número que flutua, ora descendo, ora subindo, e interessa mais a quem quer comprar ou vender ações, se o governo não vai privatizar, não irá vendê-la, e não há por que mudar os planos futuros para mais do que dobrar a produção de petróleo. Se houvesse crítica pertinente seria sobre o patrimônio líquido, mas esse indicador da empresa está adequado. Ao atacar a Petrobras desta forma inconsistente, o governador corre o risco de se queimar ao longo da campanha, quando Dilma apresentar novos equipamentos da empresa, como a própria refinaria Abreu e Lima, no estado do governador.
Resolvi assistir uma terceira vez, tirando o som. Dessa vez gostei. De fato a imagem preto e branco bem trabalhada tem seu valor estético, apesar de nem sempre funcionar para a atrair a atenção na TV aberta. Se Campos e Marina tivessem falado coisas mais interessantes, possivelmente agradasse.
Assim, o filme pode até ser sucesso de crítica, pela estética, mas é difícil que seja sucesso de público.
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PITACO DO ContrapontoPIG
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Picolé de chuchu em dose dupla e em preto e branco
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A escolha de filmar em preto e branco e dar um formato de conversa intimista foi ousado, mas, à medida em que os dois foram falando, ficou um clima soturno, depressivo. Marina em alguns momentos parecia desanimada e abatida em preto e branco. A conversa literalmente mole de Campos dificultava prender atenção no conteúdo. Foi preciso assistir uma segunda vez para não perder a concentração. As falas críticas a Dilma Rousseff tampouco ajudam. Pelo contrário, fazem do programa algo pessimista, fatal para espantar qualquer eleitor.
Numa segunda vez, prestando mais atenção à estética, as imagens em preto e branco já parecem melhores. Mas a fala baixa de Campos, com um conteúdo pouco atraente, passou a imagem de malemolência. Nada bom para quem pleiteia um cargo que exige dinamismo, como a presidência da República. Além disso, nos momentos em que Campos e Marina criticaram Dilma na condução da economia, pareciam vizinhas faladeiras sem apresentar soluções.
Se compararmos a economia e os serviços públicos com um copo d'água meio cheio, onde o eleitor está interessado em eleger alguém que o encha mais, pelo que se viu na TV Campos não poderia ser o escolhido, pois passou os dez minutos só falando que o copo estaria vazio.
Ele também errou ao criticar a Petrobras pelo valor de mercado, um número que flutua, ora descendo, ora subindo, e interessa mais a quem quer comprar ou vender ações, se o governo não vai privatizar, não irá vendê-la, e não há por que mudar os planos futuros para mais do que dobrar a produção de petróleo. Se houvesse crítica pertinente seria sobre o patrimônio líquido, mas esse indicador da empresa está adequado. Ao atacar a Petrobras desta forma inconsistente, o governador corre o risco de se queimar ao longo da campanha, quando Dilma apresentar novos equipamentos da empresa, como a própria refinaria Abreu e Lima, no estado do governador.
Resolvi assistir uma terceira vez, tirando o som. Dessa vez gostei. De fato a imagem preto e branco bem trabalhada tem seu valor estético, apesar de nem sempre funcionar para a atrair a atenção na TV aberta. Se Campos e Marina tivessem falado coisas mais interessantes, possivelmente agradasse.
Assim, o filme pode até ser sucesso de crítica, pela estética, mas é difícil que seja sucesso de público.
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PITACO DO ContrapontoPIG
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Picolé de chuchu em dose dupla e em preto e branco
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