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06/04/2015
Renato Janine é bem visto por especialistas
Para entidades, o novo ministro da Educação tem capacidade e articulação para encarar o desafio de transformar o slogan “pátria educadora” em realidade
Greg Salibian
A lucidez do acadêmico será útil ao governo
por Cinthia Rodrigues e Thais Paiva
A lucidez do acadêmico será útil ao governo
Após a abrupta saída de Cid Gomes,
o Ministério da Educação, dono de um dos maiores orçamentos da
Esplanada e vitrine do segundo mandato de Dilma Rousseff, iniciado sob o
slogan da “pátria educadora”, engrossou o caldeirão de vaidades, traições e cobiça
que incendeiam Brasília. O PT queria retomar a pasta, o PMDB desdenhava
para comprar mais barato. Por causa das circunstâncias, surpreendeu a escolha de Dilma Rousseff.
Renato Janine Ribeiro
tem inúmeras credenciais, mas nenhuma daquelas consideradas até então
importantes pelos analistas políticos: não tem filiação partidária,
costuma ser contundente em suas análises e desempenhava o papel de
crítico lúcido da realidade nacional. Aos 65 anos, professor de Ética e
Filosofia da Universidade de São Paulo, Janine toma posse na
segunda-feira 6.
Talvez por seu caráter inesperado, a
nomeação de Janine é a primeira boa notícia produzida pelo Palácio do
Planalto em semanas. Até uma parte da oposição elogiou a escolha. O
senador e ex-ministro Cristovam Buarque foi um dos primeiros a se
manifestar: “Trata-se de um dos melhores filósofos do Brasil, e mostra
que a presidenta não colocou outra vez o ministério entre as pastas
sujeitas a negociações partidárias, nem se submeteu às exigências das
corporações universitárias”.
Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação, também aprovou. “Ele é respeitado na
educação, um bom técnico e, principalmente, reconhece o esforço que a
educação pública precisa fazer para avançar.” Entre os principais
desafios do novo ministro, Repulho destaca a implementação do Plano
Nacional e suas 20 metas que nortearão o setor pelos próximos dez anos.
“Estados e municípios têm feito a sua parte e o governo federal
desempenha um papel fundamental nesse processo. Neste ano, a prioridade
deve ser tirar o plano do papel.”
Alejandra Meraz Velasco,
coordenadora-geral do Todos Pela Educação, acredita que o bom trânsito
do novo ministro pelos diversos segmentos educacionais pode colaborar
para uma gestão bem-sucedida. “Há três grandes questões que precisam ser
resolvidas e necessitam de muita articulação política com atores
diversos, além de abertura para o diálogo. Primeiro, a base nacional
comum, segundo, o currículo de formação de professores e, terceiro, o
sistema nacional de educação. E me parece que Renato Janine Ribeiro tem
essa articulação.”
Intelectual assíduo e acostumado ao debate
público, Janine tentava desde o fim das eleições de 2014 manter acesa a
chama da racionalidade, tarefa difícil em um País dividido e tomado
pelo discurso de ódio. Após a manifestação de 15 de março, o acadêmico
rechaçou a defesa do impeachment e ironizou os clamores pela
volta da ditadura, mas não deixou de observar que os protestos eram um
reflexo da perda de voz da esquerda.
“O fato é que a esquerda não está nas ruas, e, sim, uma população mais de direita, defendendo uma causa que seria correta (o não à corrupção) da forma errada (identificam a corrupção só ao PT, e pior ainda, a Dilma)”,
afirmou. “O ideal é mudar essa situação, o que implica tanto combater a
corrupção quanto garantir a governabilidade. Ou seja, não adianta
ignorar que as ruas foram tomadas pela direita e que pelo menos em São
Paulo nós, que somos de esquerda, nos tornamos, já faz tempo, um alvo.
Se dizemos o que pensamos, o que queremos, podemos ser hostilizados por
um motorista de táxi ou por um qualquer. Basta começar um small talk
numa sala de espera que vem, daí a pouco, uma idiotice qualquer. São
idiotices, mas o problema é que os idiotas dominam a fala pública. É
isso o que tem de mudar.”
Dias antes de ser nomeado, Janine concedeu uma entrevista a CartaCapital,
na qual criticou o Partido dos Trabalhadores pelo abandono do debate
ético, razão pela qual suas lideranças estariam acuadas. “O PT não
apenas foge de qualquer discussão sobre o ‘mensalão’ e a corrupção na
Petrobras, como também desistiu de apresentar seu currículo ético. A
fome e a miséria também são chagas éticas em nosso País, e a oposição
costuma ser muito insensível a elas. Mas como o PT pode apontar os erros
dos adversários sem reconhecer os seus próprios?” E mais: “O PT
renunciou à disputa pelas convicções ideológicas”.
Não por acaso, a chamada “nova classe C”,
principal beneficiária das políticas sociais na última década, engrossa
o grupo daqueles que rejeitam Dilma Rousseff atualmente. “O partido
precisa reconhecer seus erros, reativar sua comissão de ética, e voltar à
luta pelos corações e mentes. O PT tem um currículo ético a apresentar,
precisa lembrar que erradicou a fome e reduziu fortemente a miséria.
Foi um avanço ético e tanto para o Brasil.”
O filósofo lamentou ainda a interdição do debate por causa
da exagerada polarização política. “Existem setores realmente
empenhados na destruição do outro”, lastima. “A radicalização
inviabiliza qualquer debate sério. De forma pueril, tudo se converteu
numa luta do bem contra o mal. E contra o mal não há diálogo possível. É
preciso erradicá-lo.”
O desafio de Janine agora será outro: transformar em
realidade o slogan “pátria educadora” em um ambiente de contenção de
gastos no governo e de redimensionamento das políticas sociais em
decorrência do ajuste fiscal. O novo ministro precisará fazer “mais com
menos”. Dependerá, portanto, de apoios, dentro e fora do Palácio do
Planalto.
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