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26/04/2015
Dilma começa a construir uma boa narrativa
Agora que o 'terceiro turno' parece ter chegado ao
fim, com a recusa do jurista Miguel Reale Jr. em assinar um parecer
pelo impeachment, a presidente Dilma Rousseff tem tempo de sobra para
sair das cordas; a história que poderá ser contada, no fim de seu
mandato, é a de uma presidência que resistiu ao mais intenso bombardeio
já sofrido por um governo no País; um bombardeio, liderado por grupos de
mídia associados a setores da oposição, que tinha como objetivo abrir
espaço para que empresas internacionais se apoderassem do pré-sal
brasileiro; Dilma resistiu e o modelo de partilha do petróleo, como
aponta a capa de Carta Capital desta semana, será mantido
247 -
A chamada de capa da revista Carta Capital deste fim de semana é
precisa. "A situação da Petrobras é melhor do que a mídia gostaria e
frustra quem sonha em devolvê-la ao projeto entreguista do governo FHC".
Em uma frase, ela resume o que pode
vir a ser o eixo central da narrativa do segundo governo Dilma.
Depois
de sofrer o mais intenso bombardeio a que uma presidência já foi
submetida, Dilma resistiu.
Mais do que isso, sua resistência simboliza,
ainda, a permanência do modelo de partilha no pré-sal.
No dia em que a Petrobras publicou
seu balanço, a última quarta-feira 22, o senador Aécio Neves (PSDB-MG)
soltou uma declaração emblemática. Disse que os prejuízos da estatal
justificariam uma mudança no modelo do petróleo, com a retomada das
concessões. Dias antes, o senador Aloysio Nunes, que era seu vice,
publicou um artigo na Folha, em que dizia defender a Petrobras, mas, na
prática, falava em nome dos interesses de empresas como Exxon e Chevron
(leia mais aqui),
defendendo também a abertura do pré-sal a firmas estrangeiras.
Com o fim do chamado 'terceiro
turno', encerrado depois que o jurista Miguel Reale Jr. se negou a
assinar um parecer pró-impeachment encomendado pelo PSDB (saiba mais aqui),
o Brasil poderá, aos poucos, retomar certa normalidade. No governo
federal, a aposta para reativar a economia é um pacote de concessões que
pode chegar a R$ 150 bilhões (leia aqui). A isso, somam-se os acordos de leniência com as construtoras, que poderão voltar a trabalhar e a retomar contratações.
No entanto, nada é tão importante
quanto a Petrobras. Nas últimas semanas, a empresa obteve financiamentos
do Banco de Desenvolvimento da China, de três bancos nacionais (Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco) e também manteve sua
classificação de risco. Caso o mercado internacional de petróleo se
normalize, como já ocorreu com o minério de ferro, que fez as ações da
Vale dispararem 30% na última semana, a Petrobras poderá ter melhoras
significativas em suas condições financeiras.
Num cenário hipotético, imagine o
que Dilma poderá dizer, ao final de seu mandato, caso o Brasil consiga
se transformar num grande exportador de petróleo, gerando mais divisas
para o País.
Impossível? Pois a Shell decidiu pagar US$ 70 bilhões pelas
operações da BG no Brasil apostando que, assim, poderá multiplicar por
dez sua produção de petróleo até o fim da década.
"O Brasil é o país mais excitante
para o mercado de petróleo no mundo", disse Ben van Beurden,
executivo-chefe da Shell, que se encontrou com a presidente Dilma na
última semana. Quem é do ramo sabe que o Brasil está sentado sobre um
mar de óleo e gás. Caso essa riqueza se materialize, Dilma poderá
terminar seu mandato numa condição que hoje parece inimaginável.
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