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27/04/2015
Buracos morenos e sua predileção pelo PSDB, por Luis Fernando Veríssimo
de O Globo
A mais nova especulação da Física é que existem mais
buracos negros no Universo do que se imaginava. Eles não estariam apenas
na imensidão sideral, como gigantescos aspiradores engolindo galáxias
inteiras, mas também à nossa volta, como pequenos ductos para o Universo
paralelo. Seriam tão comuns e fariam parte do nosso cotidiano de tal
maneira que deveríamos parar de chamá-los de buracos “negros”, com sua
conotação de obscuridade e terror, e adotar um nome mais íntimo, como
buracos morenos (mas não, claro, buracos afrodescendentes). Qualquer um
de nós está sujeito a ser tragado por um desses buracos e se ver, de
repente, no outro Universo. Onde poderia muito bem encontrar aquela
caneta favorita que tinha sumido, o último disco do Chico que
desconfiava que alguém tinha roubado, livros e outros objetos
inexplicavelmente desaparecidos e até a tia Idalina, que todos pensavam
que tinha fugido com um boliviano e fora apenas sugada por um ducto.
Uma possível vitima de um desses hipotéticos buracos
morenos seria o ministro do Supremo Gilmar Mendes, que pediu vistas do
projeto de alteração das leis eleitorais para impedir doações de
empresas a partidos políticos, que estava sendo votado no tribunal,
guardou o projeto numa gaveta da sua casa para estudar depois, fechou a
gaveta com chave — e a chave desapareceu. O ministro estaria procurando a
chave por todos os lados, preocupado em não atrasar a votação, e não a
encontrando. Só haveria uma explicação possível para o desaparecimento
da chave: buraco moreno.
Outro caso em que um buraco moreno seria a única
explicação aceitável é o da ação penal contra o senador Eduardo Azeredo,
do PSDB, suposto beneficiário maior do que ficou conhecido como o
“mensalão” mineiro, ou “mensalão” tucano, origem e modelo do “mensalão”
que mais tarde beneficiaria o PT. Exaustos depois do julgamento do PT,
os ministros do Supremo decidiram mandar o processo contra Eduardo
Azeredo para ser julgado em Minas. No caminho de Minas, o processo teria
se desfeito no ar. Pelo menos nunca mais se ouviu falar nele. Buraco
moreno.
Aliás, um mistério sobre o qual a Física também deveria
especular é o da predileção dos buracos morenos pelo PSDB. Por exemplo: a
compra de votos para possibilitar a reeleição do Fernando Henrique caiu
no esquecimento ou caiu num buraco moreno? O PT não quer outra coisa a
não ser que um buraco moreno venha a aspirar todas as suas agruras, como
faz com o PSDB. É pura inveja.
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