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10/12/2012
Em defesa de Guido
Atacar o ministro da Fazenda já é quase
um esporte nacional. Mas os números mostram que o ciclo conduzido pelo
genovês Guido Mantega na economia brasileira é o mais bem-sucedido de
todos os tempos. Com ele, o Brasil cresceu a uma média superior a 4% ao
ano, acumulou reservas, reduziu a dívida pública e manteve a inflação
controlada. Será que deveríamos ter saudades dos tempos de Delfim Netto,
Maílson da Nóbrega, Pedro Malan ou mesmo Antonio Palocci?
247 - Em abril de 2006, o genovês
Guido Mantega assumiu a economia brasileira numa situação delicadíssima.
Envolvido do escândalo do caso Francenildo, Antonio Palocci saía do
governo e comentava-se, nos meios políticos, que a economia brasileira
afundaria. O ex-ministro Delfim Netto dizia que Palocci era o "pau do
circo". Sem ele, cairia a lona.
Mantega, embora tivesse sido consultor econômico do PT e
do presidente Lula por duas décadas, era visto com desconfiança pelo
mercado financeiro e pelo setor industrial. Naquele mês de abril de
2006, a taxa de desemprego era de 10,4% e o presidente Lula ainda não
havia entregue seu prometido "espetáculo do crescimento".
Seja por sorte, competência ou uma mistura dos dois
fatores, o fato concreto é que os seis anos e meio em que a economia
esteve sob a guarda de Mantega foram o período de maior prosperidade de
toda a história brasileira. Com ele, a economia cresceu a uma média de
4,2% – menos do que os 7,5% do "milagre" de Delfim Netto, mas com vários
diferenciais positivos.
Na década de 70, dizia-se que era preciso fazer o bolo
crescer para depois distribuir. No ciclo recente, houve crescimento com
redução das desigualdades, o que fez com que o Boston Consulting Group
(BCG) colocasse o Brasil como o país que mais gerou bem-estar para a
população nos últimos anos. Segundo o BCG, o ganho de bem-estar foi
comparável ao de uma economia que crescesse 13% ao ano.
Há, portanto, uma diferença básica entre a "crise" atual e
as que foram enfrentadas no passado. "Se há uma crise, a sensação
térmica é de crescimento", disso o ministro Mantega ao 247 na última
segunda-feira, quando o ministro foi homenageado pela revista Istoé como
o "Brasileiro do Ano".
A temperatura atual, de fato, é de crescimento. Com uma
taxa de desocupação de 5,3% em outubro (praticamente a metade dos 10,4%
de quando Mantega assumiu), o Brasil vive uma situação de quase pleno
emprego. Além disso, mesmo os críticos de Mantega reconhecem que a massa
salarial continua crescendo, o que permite prever um Natal de consumo
em alta.
Pode-se dizer que Mantega enfrentou uma maré internacional
favorável, ao contrário de seus antecessores. Será mesmo? Em 2008, a
crise financeira internacional eclodiu nos Estados Unidos, coração do
capitalismo. Hoje, há países da Europa, como a Espanha, com desemprego
de 25%, oferecendo incentivos para que brasileiros comprem imóveis,
ganhem vistos e ajudem a tirar o país do buraco.
Independente de tudo isso, atacar o ministro Guido Mantega é hoje o grande esporte nacional (leia mais aqui).
O que começou como provocação da revista inglesa The Economist ganhou
os editoriais dos principais jornais e revistas brasileiras. Mantega tem
sido criticado porque, entre outras razões, fez previsões otimistas
demais. Falava num crescimento de 4%, que terminará abaixo de 2% em
2012. Ocorre que a China, que cresceria 11%, já desacelera seu ritmo
para 7% ou até menos. E isso, numa economia globalizada, tem
consequências imediatas para um país como o Brasil.
Os que hoje o criticam parecem saudosos de um tempo que
não merece ser lembrado necessariamente com nostalgia. Na era Delfim, o
Brasil cresceu, mas a dívida explodiu e o Brasil terminou em moratória.
Com Maílson da Nóbrega, hoje colunista de Veja, a inflação rodava a 80%
ao mês. Com Pedro Malan, os juros foram os mais altos de todos os
tempos, a economia ficou estagnada e o Brasil foi três vezes ao FMI. E
mesmo com Antônio Palocci, primeiro ministro do governo Lula, os
resultados custaram a aparecer. Talvez porque Palocci se preocupasse
demais com a confiança do mercado financeiro.
Guido Mantega pode não ser sucesso de crítica. Mas é
sucesso de público. Os números da economia explicam boa parte da
popularidade de Lula e Dilma.
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