segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Contraponto 9955 - "Em defesa de Guido"

247 - Em abril de 2006, o genovês Guido Mantega assumiu a economia brasileira numa situação delicadíssima. Envolvido do escândalo do caso Francenildo, Antonio Palocci saía do governo e comentava-se, nos meios políticos, que a economia brasileira afundaria. O ex-ministro Delfim Netto dizia que Palocci era o "pau do circo". Sem ele, cairia a lona.

Mantega, embora tivesse sido consultor econômico do PT e do presidente Lula por duas décadas, era visto com desconfiança pelo mercado financeiro e pelo setor industrial. Naquele mês de abril de 2006, a taxa de desemprego era de 10,4% e o presidente Lula ainda não havia entregue seu prometido "espetáculo do crescimento".

Seja por sorte, competência ou uma mistura dos dois fatores, o fato concreto é que os seis anos e meio em que a economia esteve sob a guarda de Mantega foram o período de maior prosperidade de toda a história brasileira. Com ele, a economia cresceu a uma média de 4,2% – menos do que os 7,5% do "milagre" de Delfim Netto, mas com vários diferenciais positivos.

Na década de 70, dizia-se que era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuir. No ciclo recente, houve crescimento com redução das desigualdades, o que fez com que o Boston Consulting Group (BCG) colocasse o Brasil como o país que mais gerou bem-estar para a população nos últimos anos. Segundo o BCG, o ganho de bem-estar foi comparável ao de uma economia que crescesse 13% ao ano.

Há, portanto, uma diferença básica entre a "crise" atual e as que foram enfrentadas no passado. "Se há uma crise, a sensação térmica é de crescimento", disso o ministro Mantega ao 247 na última segunda-feira, quando o ministro foi homenageado pela revista Istoé como o "Brasileiro do Ano".

A temperatura atual, de fato, é de crescimento. Com uma taxa de desocupação de 5,3% em outubro (praticamente a metade dos 10,4% de quando Mantega assumiu), o Brasil vive uma situação de quase pleno emprego. Além disso, mesmo os críticos de Mantega reconhecem que a massa salarial continua crescendo, o que permite prever um Natal de consumo em alta.

Pode-se dizer que Mantega enfrentou uma maré internacional favorável, ao contrário de seus antecessores. Será mesmo? Em 2008, a crise financeira internacional eclodiu nos Estados Unidos, coração do capitalismo. Hoje, há países da Europa, como a Espanha, com desemprego de 25%, oferecendo incentivos para que brasileiros comprem imóveis, ganhem vistos e ajudem a tirar o país do buraco.

Independente de tudo isso, atacar o ministro Guido Mantega é hoje o grande esporte nacional (leia mais aqui). O que começou como provocação da revista inglesa The Economist ganhou os editoriais dos principais jornais e revistas brasileiras. Mantega tem sido criticado porque, entre outras razões, fez previsões otimistas demais. Falava num crescimento de 4%, que terminará abaixo de 2% em 2012. Ocorre que a China, que cresceria 11%, já desacelera seu ritmo para 7% ou até menos. E isso, numa economia globalizada, tem consequências imediatas para um país como o Brasil.

Os que hoje o criticam parecem saudosos de um tempo que não merece ser lembrado necessariamente com nostalgia. Na era Delfim, o Brasil cresceu, mas a dívida explodiu e o Brasil terminou em moratória. Com Maílson da Nóbrega, hoje colunista de Veja, a inflação rodava a 80% ao mês. Com Pedro Malan, os juros foram os mais altos de todos os tempos, a economia ficou estagnada e o Brasil foi três vezes ao FMI. E mesmo com Antônio Palocci, primeiro ministro do governo Lula, os resultados custaram a aparecer. Talvez porque Palocci se preocupasse demais com a confiança do mercado financeiro.

Guido Mantega pode não ser sucesso de crítica. Mas é sucesso de público. Os números da economia explicam boa parte da popularidade de Lula e Dilma.
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