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25/06/2013
O contragolpe de Dilma
Rui Martins
Berna (Suiça) - Estava tudo preparado – mais alguns
dias de agitação e, no 1 de julho, com a greve nacional, um pilantra
acionaria o Supremo Tribunal Federal argumentando que diante da confusão
reinante, das perdas do Brasil com a depreciação do real diante das
outras moedas e da impossibilidade de se governar só havia uma solução –
o impeachment da presidenta.
Joaquim Barbosa faria um sorriso de envaidecido, já sonhando com a
faixa presidencial, e daria provimento imediato à demanda. E o STF que,
no caso Battisti, queria mas não pôde enquadrar o ex-presidente Lula,
assumiria o controle político do país, retirando Dilma do poder.
Para garantir o golpe, legal como foi o do Paraguai, haveria a rede
da grande mídia, com a Globo caprichando nos closes dos ministros
togados favoráveis ao impeachment.
E a Veja lançaria a capa sacralizando o golpe – o “STJ cassa (ou caça
?) Dilma”. Em letras grandes, as primeiras medidas a serem tomadas por
quem assumisse o poder – acabar com as bolsas escola e família, abrogar a
lei em defesa das domésticas, privatizar a Petrobrás, acabar com as
cotas universitárias em favor de negros e índios, privatizar o ensino e a
saúde, acabar com a maioria dos ministérios e secretarias de governo
dentro de um plano neoliberal de reduzir o Estado ao mínimo e abrindo
nossas fronteiras a todo e qualquer capital estrangeiro, numa espécie de
suk ou mercado livre de nossas riquezas.
Só que Dilma foi rápida na reação, impedindo que as manifestações
iniciadas com justos protestos contra o aumento de passagens de
transportes públicos, acabassem sendo recuperadas por setores menos
interessados pelo povo e mais por assumir o poder, a fim de reverter
todas as conquistas sociais dos últimos anos.
Muitos dos reclamos dos manifestantes correspondiam às necessidades
da população e constituíam falhas cometidas pelo governo, no afã de
construir uma base governável. Feita a autocrítica, tomada a palmada na
bunda, era preciso, e logo, garantir terem sido ouvidos os protestos.
O plebiscito por uma assembleia constituinte evita que fique com o
STF a decisão sobre quem governa, e restitui ao povo sua soberania. É um
sabor de democracia participativa ou de democracia direta, que os
suíços utilizam com frequência.
O povo nas ruas fez uma série de reivindicações que serão catalogadas
para se transformarem em lei por uma assembleia constituinte.
É verdade que, depois do encontro da presidenta Dilma com a direção
da OAB, surgiram dúvidas no Planalto, se o caminho a seguir é realmente o
de se convocar uma Constituinte, capaz de mudar a Constituição, dentro
do projeto de Reformas políticas.
O ideal seria a presidenta Dilma não ceder à OAB, que embora tenha
ações louváveis e de vanguarda em diversos setores, não deixa de ser o
lobby do atual establishment jurídico brasileiro, cujo emaranhado
dificulta o combate à corrupção no Brasil. Principalmente quando Dilma
diz querer tornar a corrupção num crime hediondo.
Como aplicar uma Reforma política sem uma Constituinte ? Tão logo
seja submetido o plebiscito ao povo e aceito, o governo Dilma deveria
convocar a assembléia. Como nosso regime presidencialista não permite a
dissolução do parlamento, a Constituinte se faria com os atuais
parlamentares. Haveria o risco de entraves e mesmo de algumas leis serem
desvirtuadas, mas esse é o risco da democracia direta.
Mas não se pode esquecer que feitas as Reformas na atual
Constituição, teriam de ser aprovadas num referendo submetido ao povo.
Se as reformas aprovadas não corresponderem aos anseios populares, elas
poderão ser rejeitadas.
Em todo caso, seja qual for a decisão tomada, o Brasil, que evita
reprimir as manifestações e que aceita discutir soluções com os
manifestantes, dá uma grande prova de democracia para o mundo. Mesmo a
Europa não tem esse jogo de cintura com os manifestantes.
*Rui Martins - BernaJornalista,
escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder
emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual Conselho de
emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos
Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreveu o
livro Dinheiro Sujo da Corrupção sobre as contas suíças secretas de
Maluf. Colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência
BrPress.
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